segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Breves apontamentos acerca dos carlistas

Carlistas marchando na guerra civil espanhola
sob a Cruz de Cristo.

Carlos Nougué
1) Ao seu modo tão próprio, dizia Chesterton ao perguntar-se sobre quem não levaria para uma ilha deserta: “Um pacifista.” Pois não são pacifistas os carlistas espanhóis, cujo movimento monarquista tem história multissecular, atravessa as fronteiras peninsulares e ibéricas, e conta com representantes intelectuais tão ilustres como os dois Gambras, pai e filho, já morto o primeiro, vivo o segundo. O primeiro, o grande filósofo Rafael Gambra, era um exemplo perfeito daquele tipo de homem tão tradicional na Espanha e tão decantado no D. Quixote de Cervantes: o homem das armas e das letras ― sempre a serviço, por suas armas e sua pena, da verdadeira religião e do verdadeiro estado católico. Com efeito, foi Rafael Gambra combatente carlista na guerra civil espanhola da década de 1930, na qual a luta (e vitória) dos católicos contra os comunistas e republicanos foi chamada “santa” pelo Papa Pio XII, e na qual, como nas principais lutas internas da Espanha nos últimos séculos, estiveram os carlistas na linha de frente dos que marchavam sob a Cruz de Cristo.

2) O programa político-econômico dos carlistas é irretocável de todos os ângulos, especialmente o da Realeza Social de Cristo, e profundamente tomista; e pode ser visto em diversos sites e blogs, entre os quais o do Círculo Cultural Antonio Molle Lazo (
http://mollelazo.blogspot.com/). Lê-se de imediato neste blog: “Contra todos os partidos; Contra a plutocracia; Contra o despotismo democrático; Por uma Monarquia Popular; etc.” Vasculhem este e outros lugares seus na Internet, e terão a confirmação do que dizemos. Uma ilha de verdade e pureza num mundo que se putrefaz do liberalismo e suas seqüelas.

3) Serão os carlistas, nos dias de hoje, uns novos Quixotes? Talvez. E eu mesmo não compartilho uma afirmação deles, a saber, que, contra todas as aparências, é certa a vitória final. Não é certa, e ao dizerem-no compartem os carlistas o erro de crer que a virtude teologal da Esperança se ordena infalivelmente às melhores coisas da terra, como a reconstrução da Cristandade; como sempre dizemos, ela se ordena própria e ultimamente às coisas dos Céus, e não raro esta ordenação implica a derrota ou o martírio na terra. Por outro lado, porém, estão os carlistas na mais católica das verdades, ao repetir, alto e bom som, que todo e qualquer regime político ou estará a serviço de Cristo, ou estará a serviço do demônio; que o estado católico ou é parte ou membro da Igreja, que é a própria Cidade de Deus, ou é vassalo do príncipe deste mundo. E não repeti-lo, mesmo num mundo tão apóstata quanto o atual, é contribuir com este mesmo e corrupto mundo.

4) É imensa a minha admiração pelos carlistas, e em muitos aspectos. Outro exemplo? O da arte, e especialmente a pintura. Sim, porque é carlista o maior pintor da atualidade (e um dos maiores de todos os tempos): Augusto Ferrer-Dalmau. Realista, Ferrer-Dalmau sobressai especialmente nas pinturas em que retrata os carlistas em combate, às quais imprime a força épico-católica de um Cantar de mio Cid (e do filme El Cid), por exemplo. Visitem o site sobre sua obra, no endereço
http://www.arteclasic.com/. O que verão falará por si. Mas façam especialmente o seguinte, no mesmo site: após entrarem, cliquem em “Ecuestre-Militar”; depois, no alto à direita, em “Película”; e admirem uma arte verdadeira, católica, viril, e atual. Arte carlista.

5) Para concluir estes breves apontamentos, como não falar do que acaba de acontecer ao ex-presidente uruguaio Juan María Bordaberry, monarquista, carlista, católico tradicionalista? Ele, cujo governo não foi responsável pela morte de nem um opositor político sequer, acaba de ser condenado, com mais de 80 anos, a décadas de cadeia, numa vingança infame do infame governo do ex-guerrilheiro tupamaro José Mujica, eleito democraticamente para a presidência do Uruguai. As razões? O ter, na década de 1970, dissolvido as Câmaras parlamentares para tirar o país do caos liberal-comunista e o ter entregado o poder aos militares, cuja maioria, maçônica, depois o traiu. Bordaberry já estava preso, sob as mesmas acusações, mas em prisão domiciliar por problemas de saúde. Agora, o novo “julgamento” (cujas aspas decorrem de sua iniqüidade) agravou-lhe enormemente a pena. Não sintamos uma lástima sentimentalóide, ao modo moderno, pela sorte que lhe cabe, até porque, respondendo a uma senhora que lhe dizia: “Vou rezar para que não seja condenado”, disse ele: “Reze antes para que eu suporte como um verdadeiro católico a prisão”. Tem a fibra do mártir, tem a fibra do carlista. Mas não nos calemos: devemos a este grande homem e a Cristo o denunciar a ignomínia que se comete contra ele ― e contra Ele.