domingo, 31 de janeiro de 2010

"TV" Contra Impugnantes: o Estado em Aristóteles

Sidney Silveira
Asssita-se um trecho de aula do Nougué sobre a finalidade do Estado, de acordo com Aristóteles.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O apriorismo de Kant e suas conseqüências (II)


Sidney Silveira
A desarticulação entre a inteligência e a realidade — suposta em todas as premissas do criticismo kantiano — pode muito bem receber o nome de agnosticismo gnosiológico. Ou seja: trata-se da descrença na capacidade do intelecto de penetrar a região das essências das coisas, o “em si” dos entes. Tal agnosticismo acabou por acarretar a supremacia da praxis sobre a noesis, atitude predominante em quase toda a filosofia do século XIX e que será a porta-bandeira do marxismo revolucionário. Em suma, sendo o núcleo ontológico dos entes inalcançável pela nossa inteligência, é claro que o estatuto noético da relação do intelecto com as coisas se esfacelará, em detrimento do aspecto prático que, até então, era apenas um dos seus corolários. Para Platão e Aristóteles, por exemplo, uma praxis sem noesis seria nada menos do que uma aberração.

Hoje, com um olhar histórico que abarca não apenas as doutrinas kantianas, mas também as suas conseqüências e as reações que gerou, podemos indagar o seguinte: como pôde escapar ao filósofo de Königsberg que toda a vida do espírito se inicia sob luz da inteligibilidade dos entes? Ora, tão grande é a evidência desta verdade que uma das coisas mais angustiosas da vida, como afirmava Ortega y Gasset em Ideas y Creencias, é permanecer em dúvida. Para a nossa psique, o desconhecimento causador da dúvida traz consigo inquietação, incerteza, frustração, ao passo que o conhecimento abre novos horizontes de pensamento e ação — e, portanto, descortina todo um universo de possibilidades para o homem exercitar a sua liberdade. Não à-toa, diz Santo Tomás, no comentário ao Liber de Causis, que a inteligência se faz inteligente em ato mediante um objeto inteligível. Mas não assim para Kant, que deforma o ato do conhecimento logo no começo de sua Crítica da Razão Pura, como vimos no texto anterior.

Kant chama de “juízos analíticos” somente àqueles em que o predicado está formalmente contido no sujeito (por ex.: “O todo é maior do que as partes”), e este seu reducionismo, como veremos, deu margem a vários erros subseqüentes. Isto pelo seguinte: pode ser — como diz o já mencionado Octavio Derisi — que um predicado não esteja contido num sujeito pura e simplesmente (simpliciter), mas haja uma nota deste último que exija o predicado como propriedade sua. Deste segundo modo, podemos chamar de “analítica”, por exemplo, a esta proposição que se refere ao princípio de causalidade: “Tudo o que começa a ser tem, necessariamente, uma causa”. Aqui, embora o predicado não esteja contido formalmente no sujeito (“tudo o que começa a ser”), há neste uma nota (a contingência, ou seja: a possibilidade de ser ou não ser) que necessariamente implica e exige o predicado. Mas Kant simplesmente subtrai dos seus juízos analíticos este tipo de que tratamos, com o fito de construir com eles o que chamará de “juízos sintéticos a priori”.

Deixemos Derisi falar:

¿Cómo es posible que Kant no haya visto lo que nosotros tan fácilmente vemos? Y de nuevo en la respuesta nos encontramos con el mismo y funesto error fundamental: porque, mientras nosotros analizamos un concepto o un juicio, vale decir, un conocimiento que es esencialmente una penetración en el seno mismo de la realidad esencial, una comunicación intencional con la trascendencia misma del ser en la inmanencia de nuestro acto, y en ella vemos no sólo las notas expresas del sujeto sino sus exigencias ontológicas, Kant consagra su análisis a un concepto o a un juicio que no quiere ser sino un puro concepto inmanente o la unión de dos conceptos inmanentes, sin contacto alguno esencial con la realidad. Y entonces, claro está, es imposible hallar por puro análisis del concepto-sujeto un concepto-predicado que no esté formalmente en él encerrado. La necesidad de existir (esse), en ese caso, sólo puede provenir de la subjetividad. Los juicios sintéticos a priori, pues, sólo son concebibles partiendo de una noción deformada y falsa del conocimiento: de una idea o concepto desvinculada de la realidad, como pura representación suya”.

Que argúcia, Derisi! De fato, partindo de tais premissas, Kant só poderia dizer que o a priori desses juízos sintéticos não poderia vir da realidade, com a qual a inteligência — desalojada por ele do seu habitat natural — deixou de ter contato direto.

Em resumo, Kant empreende e erige a sua obra gnosiológica sobre uma deformação radical (e prévia) do próprio objeto da investigação crítica: o conhecimento. A sua “análise transcendental” versa sobre uma coisa que, ao fim e ao cabo, não é o conhecimento em si, mas uma idéia equivocada a respeito dele.

Repitamos sempre com o genial Derisi: a adoção de semelhante método para analisar a inteligência humana é absurda e contraditória, na medida em que não temos outra medida para avaliar a inteligência senão a própria inteligência que, previamente, Kant separou das coisas...

Noutro texto, traremos alguns aspectos da gnosiologia realista de Tomás de Aquino e veremos que, no plano da praxis, as conseqüências do kantismo serão ainda mais avassaladoras.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O apriorismo de Kant e suas conseqüências (I)



Sidney Silveira
O filósofo realista sabe que o problema metafísico precede o gnosiológico, ou seja: a pergunta “o que é o ser?” antecede à questão “o que é conhecer?”. Em síntese, sem uma resposta satisfatória à problemática do ser, a filosofia não passará de uma teoria do conhecimento capenga — que agride frontalmente o sensus communis e traz aporias ou dificuldades insanáveis. Os exemplos são vários: pergunte-se a Descartes como pode o seu Cogito ser, ao mesmo tempo, uma dúvida “universal” e partir de uma certeza (a de que pensa); pergunte-se a Kant como se pode dizer que a “coisa em si” é incognoscível ao mesmo tempo em que se afirma conhecer uma de suas notas distintivas, a incognoscibilidade; pergunte-se a Husserl como pode ser possível termos a intuição direta das essências se é necessário criar um intrincado método (a redução eidética, apoiada na muleta da epoché) para chegar às essências; pergunte-se a Sartre como pode ser isto de “a origem do nada” (l’origine du néant), se o nada é justamente a ausência de ser e, portanto, não tem potência para originar-se; etc.

Poderíamos seguir indefinidamente com os exemplos de como, sem uma sólida metafísica, a filosofia se transforma numa gnosiologia que leva a verdadeiros becos sem saída. Mas, por ora, vamos pôr uma lente de aumento numa premissa fundamental do criticismo kantiano, para mostrar a absurdidade do seu apriorismo — e a que tipo de problemas conduz o idealismo transcendental que dele provém.

Reiteremos, antes de tudo, esta máxima lapidar: quando a especulação filosófica não parte da análise metafísica do ser, a teoria gnosiológica sempre começa por uma deformação do ato do conhecimento. Vejamo-lo.

Logo no começo da Crítica da Razão Pura, assinala Kant que, em virtude de a experiência não nos fornecer nada além de coisas contingentes e individuais, o universal e o necessário hão de vir, aprioristicamente, da inteligência (sem nenhum contato com a experiência). Ora, parvus error in principio magnus est in fine! É com esta premissa tão contrária a qualquer evidência que Kant pensa erigir um edifício gnosiológico seguro, sem imaginar que está construindo sobre areia movediça, pois lhe escapou completamente a observação de que é justamente pela sucessão de experiências, como ensinara tão sabiamente Aristóteles, que podemos alcançar o conhecimento universal, abstraindo dos entes as suas notas individuantes e contingentes e alcançando, por este procedimento, o sumo, o eidos, a essência. A idéia de eqüinidade, por exemplo, não provém de algo apriorístico, e nem de uma Idéia arquetípica, à moda de Platão, mas sim da observação do modo de operação dos cavalos, ou seja: partindo das potências que o ens equinus atualiza, chegamos (ainda que de maneira assintótica) a um conceito universal.

Vejamos o que diz o filósofo de Königsberg logo no começo do seu opus magnum:

“A experiência não dá a seus juízos a universalidade verdadeira ou estrita, mas apenas comparativamente [por indução]. (...) Assim, pois, se um juízo é pensado com estrita universalidade — de modo que não se permita nenhuma exceção possível — não pode ser derivado da experiência, mas é algo absolutamente a priori”.

Aqui, além de não trazer o apoio de nenhuma evidência, Kant parte da premissa (implícita) de que a inteligência não está em contato direto com a realidade, mas, em princípio, apenas consigo mesma — solipsisticamente. Ou seja: os conceitos universais nada têm a ver com o ser dos entes, mas estão em nossa cabeça. O corolário desta idéia meio louca é que a inteligência e o ser nada têm de identidade entre si; estão em universos separados. Nesta perspectiva, conhecer não é identificar-se intencionalmente com a essência dos entes, mas tão-somente projetar nos entes algo que já estava na inteligência (que depois, aliás, Kant concluirá não alcançar o “em si” da coisa). Em suma, na teoria do conhecimento de Kant não partimos dos entes e também não retornamos a eles na forma de conceito, mas partimos de um a priori da inteligência para, ao fim e ao cabo, dizer que a inteligência é incapaz de penetrar as coisas em si mesmas...

Olhemos mais de perto.

É verdade que a experiência não nos pode dar absolutamente nada além do individual e contingente, e que a visão clara do universal só é acessível pela inteligência. Mas daí não se conclui — de forma alguma — que o universal nada tenha a ver com a experiência, afirmação gratuita de Kant repetida em vários pontos de sua obra, e não apenas na Introdução da Crítica da Razão Pura. Trata-se de um salto lógico entre a premissa maior e a conclusão, ou, se quisermos ser precisos, de uma petição de princípio de um primarismo atroz.

Isto porque a evidência nos aponta exatamente o contrário: todo e qualquer conhecimento se dá por uma identidade intencional entre o sujeito cognoscente e a coisa conhecida, e não se trata de uma imagem arquetípica da realidade que trazemos aprioristicamente em nossa inteligência.

Partindo, pois, de uma deformação inicial do ato do conhecimento, todo o esforço da análise transcendental de Kant será no sentido de descobrir e classificar esses a priori pressupostos em sua tese inicial, a começar pelo tempo e pelo espaço.

Por isso, podemos dizer tranqüilamente que o criticismo kantiano é, em sua essência, a defesa da tese de que o conhecimento está totalmente desarticulado da realidade.

Noutro texto, veremos o quanto essa premissa inicial levará Kant a duvidar dos juízos da metafísica e crer tão cegamente nos juízos da ciência. Para o filósofo de Königsberg, a pergunta fundamental seria a seguinte: é possível uma metafísica construída sobre juízos sintéticos a priori?

E também veremos, com Octavio Derisi, que a falácia de Kant está em restringir arbitrariamente a noção de “juízo analítico”. E, como diz este vigoroso tomista, com acerto, Kant pretende solucionar o problema crítico, o valor da inteligência, com esta mesma inteligência cujo alcance objetivo havia posto previamente em dúvida.

28 de janeiro: dia de Santo Tomás de Aquino

" Santo Tomás de Aquino na coroação de Maria"
(Fra Angelico)


Sidney Silveira
Amigos, hoje é dia de Santo Tomás de Aquino!

Obviamente, não poderíamos deixar de registrar a data da festa deste eminentíssimo Doutor da Igreja — “o mais santo dos sábios e o mais sábio dos santos”.

A nossa gratidão é eterna a este que Deus escolheu como instrumento principal da nossa tardia conversão.
Neste dia, vale ler (orantemente) essa linda prece escrita pelo Angélico a respeito do mistério divino da entrega amorosa de Deus àqueles a quem dignou salvar.

Adoro te deuote

Te deuote laudo, latens ueritas,
te que sub his formis uere latitas.

Tibi se cor meum totum subicit,
quia te contemplans totum deficit.
Visus, tactus, gustus in te fallitur,
set auditu solo tute creditur.
Credo quicquid dixit dei filius,
nichil ueritatis uerbo uerius.

In cruce latebat sola deitas,
set hic latet simul et humanitas.

Ambo uere credens atque confitens,
peto quod petiuit latro penitens.
Plagas sicut Thomas non intueor,
deum tamen meum te confiteor.

Fac me tibi semper magis credere,
in te spem habere, te diligere.

O memoriale mortis domini,
panis uiuus uitam prestans homini.

Presta michi semper de te uiuere,
et te michi semper dulce sapere.

Pie pellicane, Ihesu domine,
me immundum munda tuo sanguine.

Cuius una stilla saluum facere,
totum mundum posset omni scelere.

Ihesu, quem uelatum nunc aspicio,
quando fiet illud quod tam sicio?
Vt te reuelata cernens facie,
uisu sim beatus tue glorie.


Adoro te Devote

Eu te adoro com afeto, Deus oculto,
que te escondes nestas aparências.
A ti sujeita-se o meu coração por inteiro
e desfalece ao te contemplar.

A vista, o tato e o gosto não te alcançam,
mas só com o ouvir-te firmemente creio.
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus,
nada mais verdadeiro do que esta Palavra da Verdade.

Na cruz estava oculta somente a tua divindade,
mas aqui se esconde também a humanidade.
Eu, porém, crendo e confessando ambas,
peço-te o que pediu o ladrão arrependido.

Tal como Tomé, também eu não vejo as tuas chagas,
mas confesso, Senhor, que és o meu Deus;
faz-me crer sempre mais em ti,
esperar em ti, amar-te.

Ó memorial da morte do Senhor,
pão vivo que dás vida ao homem,
faz que meu pensamento sempre de ti viva,
e que sempre lhe seja doce este saber.

Senhor Jesus, terno pelicano,
lava-me a mim, imundo, com teu sangue,
do qual uma só gota já pode
salvar o mundo de todos os pecados.

Jesus, a quem agora vejo sob véus,
peço-te que se cumpra o que mais anseio:
que, vendo o teu rosto descoberto,
seja eu feliz contemplando a tua glória.


Em tempo: Alguns professores contemporâneos, com argumentos pífios, pretendem pôr em dúvida a autoria desta oração — e dizem tratar-se de ignoti auctoris. Mas ela consta dos mais abalizados catálogos antigos e modernos como sendo do nosso amado Doutor Comum. Sem dúvida alguma, ela é de Santo Tomás.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A revista “Le Sel de La Terre” e Madre Teresa de Calcutá


Sidney Silveira
Chegou-me ontem o número 71 da revista Le Sel de La Terre, dos dominicanos de Avrillé, na França, com 209 páginas de densos artigos.

Um deles, em particular, merece destaque: uma análise crítica da obra da religiosa Madre Teresa de Calcutá, assinada por Marie-Dominique, O.P. A sua conclusão, obviamente, não está de molde a agradar os paladares adocicados dos católicos liberais, pois ressalta que a beatificação da famosa freira, analisada à luz da sua vida e do seu trabalho na Índia, representa o novo conceito de santidade e de missão:

> A santidade não mais é mensurada pelas ações do Santo em favor da Igreja ou em defesa da fé, e nem tem por objetivo específico a salvação das almas em Cristo;
> A missão nada tem a ver com uma “expedição apostólica para conquistar almas para Cristo”, como era definida antigamente, mas deve buscar outros fins — alheios ou, muitas vezes, contrários aos fins da Igreja.

Frei Marie-Dominique conclui que Madre Teresa de Calcutá é o símbolo da nova espiritualidade ecumênica que invadiu a Igreja após o Concílio Vaticano II. Uma espiritualidade cujo objetivo é unir os homens em torno de temas genéricos de interesse comum, sob o pavilhão da solidariedade — conceito que, formalmente, nada tem a ver com a caridade infusa por Deus nas almas pertencentes a Nosso Senhor. Uma espiritualidade desvinculada dos propósitos salvíficos da Igreja instituída na terra por Cristo, cujo sangue foi vertido pela salvação de muitos.

Um exemplo colhido por frei Marie-Dominique no livro Mother Teresa, her people and her work, de Desmond Doig, ilustra bem o que estou dizendo. Certa vez, indagada por um jornalista se o seu exemplo poderia servir à conversão dos infiéis, disse a freira:

“Se alguém aceita a Deus [em seu coração], passa a ser um melhor hindu, um melhor muçulmano ou um melhor católico”.

Veja-se, abaixo, o sumário deste número da revista Le Sel de La Terre:

ÉDITORIAL

Nos saints, nos maîtres... et les leurs


ÉCRITURE SAINTE

* DOMINICUS
La Passion selon saint Matthieu


ÉTUDES

* Abbé Régis DE CACQUERAY FSSPX
« Les trois grandes religions monothéistes »

* Frère PIERRE-MARIE O.P.
Un combattant de la foi : Mgr Louis-Gaston de Ségur (1820-1881)

* Frère MARIE-DOMINIQUE O.P.
Vraie ou fausse charité ? Mère Teresa de Calcutta (1910-1997)

* DOMINICUS
Les quatre-vingts ans du Cerf

VIE SPIRITUELLE

* Dom MARÉCHAUX OSB
Les saintes, mères des saints

CIVILISATION CHRÉTIENNE

* Philippe GIRARD Mgr Tiso (1887-1947) : pour Dieu et la nation slovaque
LECTURES, DOCUMENTS: Lettre ouverte au pape sur l'islam - Œcuménisme papal en Terre sainte - Au sujet des discussions doctrinales avec Rome*

RECENSIONS: - Mémoire sur la famille royale au Temple - Saint Maximilien-Marie Kolbe - La dernière croisade : Les Français et la guerre de Candie 1669.

* PARMI LES BONS LIVRES PARUS :

- Les cent plus belles fleurs des Alpes (Olivier DUGON)
- Missel avec rituel et vespéral (D.F.T.)
- L’Église d’aujourd’hui, continuité ou rupture ? (Actes du 8e congrès théologique de Si Si No No)
- L’Église I – Sa divine constitution (Card. Louis BILLOT S.J.)
- Darwin méconnu (Jacques HENRY)
- L’État catholique (Pierre MARTIN)
- Méditations eucharstiques extraites des écrits et des catéchismes du saint Curé d’Ars (Abbé H. CONVERT)
- Je me suis converti à Saint-Nicolas-du-Chardonnet (Jean MONNERET)
- Paul VI bienheureux ? (Abbé Luigi VILLA) - Carnets spirituels (Père de CHIVRÉ).

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A fúria das massas e Étienne Gilson


Sidney Silveira
Todos os homens são aptos a alcançar a verdade, e esta é a tendência fundamental de uma de suas potências superiores, a inteligência, mas pouquíssimos podem ser filósofos; todos os homens são aptos a experimentar a beleza estética de um texto literário, mas poucos são capazes de nos levar num êxtase, pela escrita, à região dos arquétipos da condição humana; todos os homens são aptos a perceber os matizes de uma polifonia musical, mas pouquíssimos podem compor como um Tomás Luis de Victoria, como um Bach, como um Palestrina; todos os homens são chamados a alcançar o bem (tendência inamovível da vontade), mas só aqueles que Deus escolheu podem ser Santos; todos os homens podem aprender os movimentos do xadrez e entender a sua beleza, mas um número ínfimo será capaz de jogar com a vigorosa precisão de um Garry Kasparov ou com a fantasia estonteante de um Mikhail Tal; todos os homens, em princípio, são capazes de ser políticos, mas quase nenhuns têm sabedoria, talento e coragem para fazer o que deve ser feito para a Cidade não se transformar numa massa amorfa e sem leis asseguradoras do bem comum.

Em resumo, as massas não produzem a ciência, as massas não produzem a arte, as massas não produzem a filosofia e, em sentido estrito, as massas sequer são capazes de vislumbrar o bem comum político — e todos os seus sucedâneos. Esta verdade é inaceitável para a susceptibilidade democratista contemporânea, que afunda na idéia de que as artes são para as massas, a filosofia é para as massas, a política é para e pelas massas. A egalité, ideal maçônico-liberal da Revolução Francesa, pasteurizou e descristianizou o mundo, e, depois de mais de duzentos anos, fez o Ocidente perder totalmente a noção da hierarquia dos valores, da hierarquia dos talentos e sua importância para a civilização — dado que o igualitarismo arrogante inaugurado no final do século XVIII é um impedimento formal para o desenvolvimento das pessoas e das sociedades.

O incentivo à revolta das massas chega ao ápice no século XX, com a Revolução Russa e seu materialismo genocida, mas na prática foi ganhando espaço paulatinamente: primeiro, das massas contra a Igreja e contra a influência das leis eclesiásticas nas sociedades; depois, contra uma nobreza já decadente e bastante desvinculada do poder espiritual; posteriormente, em favor da ilusória tomada, por elas, dos meios de produção; a seguir, contra a noção de autoridade legítima. Essas revoltas foram impregnando as sociedades e, ao fim e ao cabo, contribuíram para a metástase modernista que, no último quartel do século XX, alcançou a doutrina da Igreja em todos os pontos e impossibilitou a defesa da fé pelas próprias autoridades eclesiásticas — que elegeram o ecumenismo como um fim a ser buscado, e o que é pior: um fim superior à guarda do precioso depósito da fé. A quem duvida disso, peço que veja os documentos do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, acessíveis no site do Vaticano.

Perdidas todas as distinções fundamentais que poderiam salvar a civilização da débâcle universal, e com a autoridade espiritual esboroada pelo liberalismo que domina o mundo, agora só resta às massas revolverem-se intestina e autofagicamente contra si mesmas, produzindo o ódio e a cegueira mental numa escala até então inimaginável. Tudo sob o pavilhão da democracia, que é a ditatura da maioria contra a excelência — uma maioria, a propósito, teleguiada por grupos infrapolíticos organizados e por intelectuais orgânicos. Este é, em suma, o quadro propício para o estabelecimento do governo mundial do Anticristo, que se aproveitará do desastre reinante para propor-se como a única “autoridade” capaz de trazer a paz. Uma satânica pax mundi, como sonhava Dante, no De Monarchia. Uma pax mundi que a última Encíclica do Papa Bento XVI parece corroborar.

Aturdidos pelo estrondo da pós-modernidade, muitos intelectuais e filósofos católicos se deixaram contaminar pelos erros que ganharam corpo nos séculos XVIII e XIX e se firmaram decisivamente no século XX — sem dúvida, o mais anticristão de todos. Um exemplo clássico é o de Étienne Gilson, que em 1967 (ou seja: após o Concílio Vaticano II) publica, pela coleção Essais d’Art et de Philosophie, da editora Vrin, o livro La société de masse et sa culture, onde faz um diagnóstico das artes plásticas das massas, da música das massas, da literatura das massas e, por fim, das liturgias das massas. No livro, embora faça análises mais ou menos acertadas, partindo da premissa de que a cultura, em seu sentido mais elevado, é espiritual, e que a sua massificação implica a dissolução das formas de beleza mais próximas daquilo que os medievais chamavam de pulchrum, Gilson acaba por aplaudir e referendar esse movimento em direção às massas, no seio da Igreja.

É triste ver a decadência de um intelectual como Gilson que (malgrado jamais tenha sido propriamente um tomista, e sim um divulgador da importância do Aquinate para a filosofia) acaba por dizer ou propor coisas como estas:

> O problema da liturgia se confunde com o problema da "industrialização da Bíblia" (sic). Ou seja: não se trata de uma questão doutrinal;
> O catolicismo deveria criar uma imprensa das massas e para as massas;
> As massas têm direito à sua própria cultura (ou seja: presumivelmente autóctone em relação à lei evangélica);
> É inevitável que a Igreja seja uma sociedade voltada para os mass media (e não uma mestra das sociedades e das nações e, por conseguinte, desses mesmos mass media que ela deveria educar e evangelizar);
> A vulgarização do culto é necessária para a Igreja alcançar um número maior de fiéis (corolário de várias frases do livro);
> A elite intelectual católica deve conformar-se com essa situação e abandonar as formas eruditas do culto a Deus e da teologia, pelo mesmo motivo aludido no tópico anterior;
> Gilson cita favoravelmente a tese (do mesmo matiz socialista que gerou a teologia da libertação) de que “a nova sociedade é uma sociedade de massas precisamente no sentido de que a massa da população foi [enfim] incorporada à sociedade”);
> Os [benéficos] esforços do ecumenismo têm por objetivo fazer com que a sociedade, que é virtualmente de massas, se torne uma sociedade tal atualmente.

Quem escreveu essas coisas foi um intelectual do porte do Étienne Gilson, que como teórico da cultura e da política se mostra muitíssimo aquém do estudioso da filosofia medieval que tanto sucesso fez. Lendo as idéias desse seu livro outonal, somos levados a indagar: quem nos livrará da fúria das massas, que agora começam a impor ao mundo — com uma tirania inaudita e manipuladas por ONGs e por sociedades secretas — o ecumenismo, leis em favor do aborto, do “casamento” entre homossexuais, do uso das células-tronco embrionárias, etc.?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Kant e uma palavra sobre o argumento “ad hominem”



Sidney Silveira
Um dos textos recentes do blog suscitou, aqui e ali, comentários de pessoas que ficaram magoadinhas por eu ter usado contra o pobre Kant, segundo elas, o argumento ad hominem. Antes de tudo, vale dizer que, no breve escrito de que se trata, apenas tomei o filósofo de Königsberg como exemplo de espírito orgulhoso e irreligioso, e nada do que disse ali foi para impugnar a sua filosofia — mas tão-somente para ilustrar algo arquetípico: orgulho e religião são contraditórios e, portanto, autoexcludentes.


Pois muito bem: acerca dos erros da gnosiologia de Kant, e de suas tremendas conseqüências para a história da filosofia, muitos pensadores de escol já falaram à exaustão; esses equívocos estão arqui-refutados. A sua “incognoscibilidade da coisa em si” embute uma petitio principii primária para qualquer estudioso sério (do mesmo modo que o Cogito de Descartes). Entre os católicos, indico apenas Octavio Derisi, Cornelio Fabro, Louis Jougnet e Étienne Gilson, que escreveram textos lapidares sobre os erros fundamentais de Kant. Para o Gilson de Réalisme thomiste et critique de la connaissance, por exemplo, a filosofia de Kant deve ser analisada “à luz do patológico”. E ele não deixa de estar certo, pois a obra de Kant começa a ruir em sua louca suposição de que todos os conceitos universais estão fundados em formas a priori que, acrescentadas à experiência, dão origem aos juízos ou conceitos sintéticos a priori. Não me alongarei sobre isto porque o assunto, aqui, é outro. Indico a leitura de Filosofía Moderna y Filosofía Tomista, de Octavio Derisi, onde há uma longa exposição (e posterior refutação) de todos os princípios do criticismo kantiano.


Dito isto, vale consignar umas linhas sobre o argumento ad hominem. Os modernos tratados de lógica ou de retórica nos mostram que há vários tipos de raciocínio ou argumentação encontráveis tanto no discurso filosófico como no jurídico:


Argumento per absurdum
Argumento a contrario
Argumento a simili
Argumento a completudine
Argumento a fortiori
Argumento a coherentia
Argumento ab exemplo
Argumento ad rem
Argumento ab auctoritate
Etc.

Entre eles está o tão detratado argumento ad hominem. Comecemos observando que, como ensina Chäim Perelman no clássico Tratado da Argumentação, os raciocínios ad hominem stricto sensu em geral são considerados pseudo-argumentos. Schopenhauer, por exemplo, os chamará de artificiosos, talvez por acreditar que toda argumentação deva dirigir-se, in primis, a um auditório universal. Mas, como o próprio Perelman frisa, e com muito acerto, não há nada de ilegítimo nesse modo de proceder, desde que as premissas se movam no âmbito da argumentação e mostrem uma contradição fundamental do interlocutor com as premissas de que parte, ou, então, a impossibilidade de que tais premissas sejam válidas no contexto do problema que está sendo abordado.

Antes de tudo, ainda seguindo a Perelman neste ponto, é fundamental não confundir duas coisas: o argumento ad hominem e o argumento ad personam. Este último visa pura e simplesmente a desqualificar o adversário, a atacar a sua pessoa. E também não devemos identificar o argumento ad hominem com a petição de princípio que, neste caso, implica a sua utilização indevida. A propósito da petitio principii, vale ler o que diz dela Aristóteles nos Analíticos Primeiros e nos Tópicos. Mas, ainda aqui, é preciso apontar que não se trata propriamente de um erro de lógica, mas sim de retórica — de técnica argumentativa: dar por pressuposto justamente aquilo que se quer provar.

Um exemplo do mau uso do argumento ad hominem é utilizado em diferentes manuais, e acontece quando se coloca em dúvida a validade do argumento ou da opinião do adversário aduzindo como “prova” ou como apoio, apenas, um fato de sua vida.

Fulano diz que fumar não faz mal à saúde.
Ora, esse fulano é dono de uma fábrica de tabaco.
Logo, ele está falando em seu próprio benefício.

Aqui, a conclusão é literalmente um julgamento de intenção que não decorre da associação entre as premissas. Mas agora vejamos um exemplo de argumento ad hominem não falacioso.

Pedro diz que a sodomia pode ser praticada, sem problemas, entre padres ou pessoas consagradas.
Ora, Pedro é católico.
Logo, é um péssimo católico.

Aqui, o argumento ad hominem é totalmente aplicável, pois Pedro, sendo católico, não poderia apoiar tal idéia, sabendo que, de acordo com a Igreja, a sodomia é um pecado que clama aos céus. Mas concedamos per absurdum que ele não soubesse tratar-se de pecado, e ainda assim o argumento seria válido e levaria à mesma conclusão, pois é óbvio que, como católico, Pedro deveria saber disto. Algo semelhante acontece no seguinte exemplo, extraído da Lógica Informal de Douglas Walton:

George diz que os serviços postais não são confiáveis, e, por isso, uma empresa privada deve oferecê-los em lugar do governo.
Ora, George é um ferrenho comunista.
Logo, não poderia defender tal idéia.

Como se vê, há vários casos em que o argumento ad hominem é válido — embora possa ser mais ou menos contestado. Não o confundamos, pois, com o argumento ad personam ou com um determinado tipo de petitio principiis que faz uso de algo a respeito da pessoa para desqualificá-la.

Feitos estes esclarecimentos, fica evidente que, no texto aludido, em momento algum usei o argumento ad hominem contra Kant, no sentido de desqualificar com ele a sua obra, mas apenas ilustrei com fatos de sua biografia o arquétipo do sujeito irreligioso (ou, no caso do filósofo de Königsberg, religioso apenas por analogia de atribuição extrínseca). Os erros de sua obra e as conseqüências que deles decorrem são outro assunto...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Aonde leva a liberdade liberal



Sidney Silveira

SANTO TOMÁS (SUMA TEOLÓGICA, III, Q. 8, a. 7, resp.)

“É próprio do governante conduzir ao fim os governados por ele. [Ora], o fim do demônio é afastar de Deus a criatura racional; por isso ele tentou desde o começo apartar o homem da obediência ao preceito divino (Gn. III). Mas tal separação de Deus tem razão de fim enquanto se apetece sob o pretexto de liberdade (grifo nosso!), de acordo com as palavras de Jeremias (II, 20): ‘Há muito tempo rompeste o jugo e quebraste os laços. Disseste, então: Não servirei (non serviam)’. Por conseguinte, quando ao pecar alguns são arrastados a esse fim, caem sob o domínio e governo do diabo (sub Diaboli regimine et governatione cadunt)”.

Estas palavras de Santo Tomás na Suma mostram aonde leva o desejo — genuinamente liberal — de amar a liberdade como um fim buscável em si, sem nenhum vínculo com a Lei Eterna ou, na melhor das hipóteses, com um vínculo meramente acidental, como se a escolha objetiva dos bens que levam à Pátria Celeste dependesse mais da experiência acumulada pelos indivíduos que do seguimento dos preceitos e conselhos contidos na Sagrada Escritura, da Graça e da freqüentação dos sacramentos — que são signos sensíveis da Graça e, como se dizia antigamente, causam o que significam.

O liberalismo, em qualquer um dos seus tópicos, implica esse giro antropocêntrico que culmina na exaltação da liberdade como um fim em si, ou como o valor dos valores.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Orgulho e irreligião


Sidney Silveira
Existem obstáculos de ordem intelectual e de ordem moral para a fé viscejar na alma de alguém. Com relação aos primeiros, vale indagar: de que maneira um espírito pode aderir ao conjunto das verdades da fé, se não tem o vislumbre racional dos liames que dão a ela o seu sentido de unidade? Muitas vezes, a ignorância religiosa acontece pelo viés de uma cultura filosófica que, não obstante a sua sofisticação, envolve num círculo de sombras inexpugnáveis a capacidade da inteligência de captar as evidências fundamentais que são a base dos chamados preambula fidei. E aqui vale recorrer ao que diz Platão: “Não é a ignorância das multidões a mais perigosa, nem a mais temível, nem o maior dos males. Haver estudado muito e aprendido com métodos viciosos, eis um mal maior”. (Leis, 818s).

Esses obstáculos de ordem intelectual vêm conjuntamente com os de ordem moral, pois ignorância culpável e orgulho são como irmãos siameses. Vejamos o caso de Kant, por exemplo. A sua tentativa de enquadrar a religião nos limites da “razão pura”, tão pretensiosa quanto equivocada, provinha de uma ignorância com relação ao próprio cristianismo. Sabemos por seus principais biógrafos que o jovem Immanuel recebeu a formação religiosa no Fridericianum, uma escola dirigida pelo mais influente professor de Königsberg — lugar onde se mesclavam de forma indiscernível luteranos, pietistas e reformados. Ali, o cristianismo era empobrecido de suas riquezas espirituais e doutrinais, e não devemos culpar de todo a Kant por ter perdido totalmente a piedade, num ambiente desses.

Como nos lembra Leonel Franca no seu A Psicologia da Fé, mais tarde o maduro Kant chamará de imoral à prece; de perversão à disciplina ascética; de idolatria à invocação dos méritos de Cristo. A propósito, no Fridericianum Kant declarava abertamente não suportar a oração dos seus convivas antes das refeições, e, certa vez, pediu ao diretor da cadeia de Konigsberg que mandasse calar aos presos “hipócritas” que entoavam cânticos religiosos... Essa atitude irreligiosa de Kant era alimentada pelas graves lacunas de sua formação cristã. Sabemos hoje com certeza que, ao contrário de Leibniz, Kant jamais leu sequer uma linha de Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho ou até mesmo Suárez, e em sua pobre biblioteca não se encontraram tratados de dogmática, antigos ou recentes, e nem de ascética ou mística.

Essa ignorância ilustrada, como sói acontecer, era alimentada por um orgulho imenso. Como sabemos pelo biógrafo J. H. W. Stuckenberg, autor de uma hoje clássica biografia de Kant, o filósofo era tenacíssimo em suas opiniões. Citando esta e outras fontes, diz Leonel Franca:

“Dizia Kant que a vacina era ineficaz e só poderia bestializar o homem; que o ‘fartum dos negros’ provinha do “sangue deflogisticado pela pele”; que a cor dos pele-vermelhas era causada pela “vizinhança dos mares glaciais”. E se alguma evidência dos fatos lhe infligia um desmentido doloroso às suas previsões, recusava a desdizer-se. Em 1798, por exemplo, anunciara que Napoleão iria a Portugal e não ao Egito, e, quando as notícias o contradisseram, Kant não voltou atrás. Ao seu dogmatismo apriorista devia curvar-se até a materialidade incontestável dos fatos. Não suportava que alguém, em conversa, parecesse estar melhor informado ou conhecer mais um assunto do que ele. O conde de Purgstall, de Viena, fez a peregrinação a Königsberg e, contando as suas impressões, diz que o filósofo perdia a paciência quando alguém mostrava conhecer melhor do que ele qualquer assunto. Então, monopolizava a conversa e declarava não ignorar nada de outros países. ‘Pretendia saber melhor que eu’, continua Purgstall, ‘que espécie de aves tínhamos na Áustria, qual o espírito do país, o nível de cultura dos sacerdotes católicos, etc’.

A deformação intelectual e moral que impede formalmente a humana adesão às verdades de fé é hoje alimentada por filósofos liberais (muito piores, em certo sentido, do que Kant, Voltaire, Nietzsche, etc.), que, opinando sobre as coisas da Igreja, mesclam algumas verdades colaterais com erros e mentiras tão grosseiros, que os pobres que acreditam em sua ladainha com ares de alta filosofia acabam com as almas mutiladas, incapacitados para dizer “sim” à Verdade revelada. Religião, Política e Moral , na visão desses liberais, são compartimentos estanques da vida humana, na exata medida em que são para eles uma “conquista” das consciências individuais autônomas, expressão para lá de equívoca com a qual incutem o non serviam na alma dos seus míseros seguidores e alunos.

Há um vínculo da causalidade psicológica que une dois fenômenos: orgulho e irreligião. Tal vínculo é mais facilmente perceptível nos homens dedicados ao estudo da filosofia, mesmo quando posam de cristãos. Por trás de sua heterodoxia — com aparência de ortodoxia — há uma gota da baba de Caim.

Voltaremos ao tema.

domingo, 17 de janeiro de 2010

"TV" Contra Impugnantes: o efeito comum de uma série de causas essencialmente ordenadas

Sidney Silveira
Um exemplo do Padre Leonel Franca, retirado de um dos seus escritos sobre a prova da existência de Deus, serviu-me como exemplo do que significa ser o efeito comum para uma série de causas essencialmente (per se) ordenadas. Essas pequenas pérolas sempre me levam a dar graças a Deus pela maravilha da Criação.

sábado, 16 de janeiro de 2010

"TV" Contra Impugnantes: Sacra Doctrina

Sidney Silveira
Veja-se aqui mais um trecho de aula na "TV" Contra Impugnantes, em que se aborda a distinção entre Teologia Natural e Sacra Doctrina.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O dilema de São Bernardo


Sidney Silveira
Num estupendo Sermão, propõe-nos São Bernardo uma espécie de dilema: ou Cristo se engana, ou o mundo erra; ora, é impossível que a sabedoria divina se engane (Sermo III, De Natividade Domini, nº 1). Concluamos nós: Ergo mundus errat. O grande abade cisterciense referia-se ali aos costumes do mundo, às idéias do mundo, às modas do mundo, às atrações do mundo, às ocasiões propiciadas pelo mundo, ao gozo do mundo, aos respeitos humanos do mundo, à política do mundo. Quanto mais nos engolfamos nestas coisas todas sem a luz da sabedoria divina a guiar-nos, tanto mais nos afastamos de Deus decisivamente. E nos lembra São Bernardo a máxima evangélica proclamada da boca do Salvador: Vos estis lux mundi (Mt. V, 14), a qual devemos ter sempre no horizonte, toda vez que o mundo nos solicita. E quantas vezes, ai de nós, nos deixamos levar pelas superfluidades do mundo, pelos respeitos humanos, e colocamos culpavelmente de lado esse ensinamento do Cristo?


Hoje em dia, mais do que em qualquer outra época, cumprir essa vocação iluminadora torna-se algo supinamente heróico, quase impossível. E isto tem uma razão principal: a descatolicização do mundo (e conseqüente declínio civilizacional) está na exata proporção da invasão do pior do mundo em nossas vidas e, sobretudo, na vida da Igreja em todos os seus níveis hierárquicos e em quase todas as ordens religiosas. A resultante dessa monstruosa conspurcação mundana é uma calamidade: sacerdotes indignos do múnus divino que lhes foi confiado; confederações nacionais de bispos inteiras frontalmente desobedientes ao Papa em questões as mais ordinárias, sejam litúrgicas, pastorais, doutrinais ou teológicas; Magistério não vinculante em todos os níveis (pois se propõe como mero diálogo, e não como um ensinamento advindo de fonte superior, divina); dogmas contrariados como se nada fossem; liturgia aberta aos mais díspares e aberrantes experimentalismos, sob o olhar complacente das autoridades eclesiásticas; padres que, como já avisara Nossa Senhora em La Sallete, são verdadeiras cloacas de impureza; leigos omissos ou totalmente desconhecedores do elementar da doutrina, que a propósito qualquer criança leitora do Catecismo de São Pio X trazia na ponta da língua; liberais infiltrados em todas as fileiras da Santa Igreja, a começar por organizações de leigos católicos sutilmente anticlericalistas; homossexualismo crescente entre pessoas consagradas — uma blitzkrieg do mundo profano e laicista sobre a sagrada doutrina e os costumes da vida social, que sempre foram custodiados (por delegação divina) pela Mestra das Nações que é a Igreja. “Ide, pois, e ensinai a todas as Nações” (Mt. XXVIII, 19), ordenou o Nosso Senhor.


A sabedoria divina parece expurgada do mundo e, por esta simples razão, o mundo cai vertiginosamente. E a sua restauração — se é que este é o desígnio de Deus para o nosso louco tempo —, ao contrário do que pregam os liberais, não pode dar-se no terreno político, pois este é adventício, subordinado e inferior ao poder espiritual, desde que este último não deponha a autoridade que lhe foi participada, deixando de ensinar ao mundo a Verdade revelada, pois o carisma magisterial depende, entre outras coisas, da expressa vontade de ser exercido por aqueles que o receberam de Cristo. Por tudo isso, quando vejo católicos unidos ou (o que é pior!) teleguiados por pseudopensadores liberais que lhes querem convencer de que a resolução da caótica situação do mundo atual se dará pela ação política ou pela cultura — desvinculada da sombra benévola e beatificante do Evangelho, com os seus preceitos e conselhos —, sinto um misto de pena e raiva. Pena dos que aderem a tais encantadores de serpente, verdadeiros proxenetas filosóficos, por ignorância quase invencível; raiva dos que o fazem conhecendo o suficiente da doutrina e da história esplendorosa da Igreja para saber que tais associações com esses liberais, em mil atividades, implicam grave pecado contra o Espírito Santo, pecado crescentemente difundido a jovens que são cooptados para grupos leigos cuja catolicidade é orientada, primordialmente, para o seu próprio crescimento no mundo.


O neopaganismo hoje infiltrado na Igreja, e que já fora denunciado e condenado sob o nome de “modernismo” por São Pio X na Pascendi, é muitíssimo pior do que o paganismo da Antiguidade, pois este último pelo menos trazia intacto o senso comum. Platão, por exemplo, nos ensinara com o seu método alegórico e dialético que a sabedoria não anda pari passu com as turbulências mundanas, pois o filósofo, o amigo da sabedoria, é um contemplador dos espetáculos olímpicos. Alguém que dá um passo atrás para não se envolver de todo na azáfama, no burburinho, no açodamento tão típicos das pessoas mundanas, e tão contaminador das almas.


Os dados da realidade não são de molde a nos incutir nenhum cego otimismo, mas uma coisa pode servir-nos como critério seguro: a Igreja, neste momento de suma confusão doutrinal, precisa como nunca dos fiéis tradicionais, dos padres tradicionais, das pessoas que, entregando-se a Deus, busquem verdadeiramente a santidade, sabendo-a possível não por seus próprios méritos, mas pela Graça gratis data. E também de uma intelectualidade católica solidamente formada no melhor da filosofia e da teologia, para dar resposta aos erros predominantes em nosso tempo, tão contrários ao Evangelho. Uma intelectualidade que traga consigo, como uma espécie de insígnia, aquele raciocínio disjuntivo de São Bernardo, corifeu da Ordem Cisterciense: ou Cristo se engana, ou o mundo erra; ora, é impossível que a sabedoria divina se engane; logo...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pequena advertência com relação ao texto de ontem

Sidney Silveira
Com relação ao texto publicado ontem no blog (Meandros do ignorância), cabe um pequeno esclarecimento.

Todos os nossos leitores estão carecas de saber que eu e o Nougué estamos totalmente afinados com a sólida posição doutrinal da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que não aceita as novidades introduzidas pelo Vaticano II e pelo Magistério pós-conciliar em todos os setores da vida cristã — sem cair no sedevacantismo. Portanto, ao citarmos autores que publicaram textos antes e depois do Concílio, às vezes é necessário fazer uma advertência, pois muitos intelectuais de boa formação não tiveram a clara visão, nos momentos imediatamente posteriores ao Concílio, da verdadeira revolução que acabaria por reduzir drasticamente o número de vocações sacerdotais, que abriria espaço para transformar a Missa em show (de péssimo gosto), reduziria a piedade, transformaria a castidade entre clérigos em um mito quase inalcançável (cada vez mais, fico sabendo de histórias tristes e gravíssimas), pulverizaria a noção de sobrenatural, introduziria o sensualismo no matrimônio, com a mudança da doutrina tradicional (pondo a “comunhão dos esposos” no mesmo plano da criação e educação da prole na vida cristã), traria o democratismo para o cume da Hierarquia, com o novo conceito de colegialidade, desceria o nível da formação nos Seminários a um ponto antes inimaginável, e, enfim, muitíssimas outras coisas sabidas por todos.

Um exemplo é o Padre Julio Menvielle, cujos escritos de antes e de depois do Concílio parecem obra de duas pessoas diferentes, tal a mudança de paradigma. E este é, também, o caso de Antonio Royo Marín, mencionado no texto de ontem. Na verdade, quando eu disse “autor de clássicos estupendos”, na verdade citei mal, pois, dos três livros mencionados apenas um (Teología Moral para Seglares, escrito por volta de 1955), pode-se dizer não contaminado por doutrinas ou idéias pós-conciliares. Os outros dois, embora mantenham posições tradicionais em vários tópicos da doutrina, deixam a desejar em muitos outros, como é o caso do também citado Espiritualidad de los Seglares, um verdadeiro híbrido.

Achei por bem fazer essa advertência, mesmo que com um dia de atraso, após reler trechos desses livros e ver entre eles, por exemplo, elogios descabidos ao dominicano ultramodernista Yves Congar, além de uma interpretação do Vaticano II indefensável, semelhante à dos conhecidos “hermeneutas da continuidade”...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Meandros da ignorância



Sidney Silveira
Os melhores tratadistas de moral nos ensinam que, para dar-se o ato propriamente humano, são necessárias algumas precondições, pois há, em diferentes ocasiões, impedimentos para tal ato realizar-se em sua plenitude. Um deles é a ignorância, definida como carência habitual de ciência em um sujeito capaz — ou ausência de um conhecimento que alguém poderia e deveria ter, dada a sua condição ou o seu ofício, mas que por negligência não adquiriu.

De acordo com Antonio Royo Marín, teólogo da Universidade de Salamanca em meados do século XX e autor do clássico Teología Moral para Seglares, a ignorância se distingue:

> Da necedade, que é a carência de conhecimentos mínimos obrigatórios. O néscio, na prática, mal sabe orientar-se à direita e à esquerda e, em geral, não tem culpa disto.
> Da inadvertência, que é a falta de atenção atual a uma coisa que, habitualmente, se conhece.
> Do esquecimento, que é a privação habitual ou atual de uma ciência que se possuiu anteriormente.
> Do erro, que é o juízo equivocado sobre a verdade de uma coisa.

E a ignorância, em geral, pode dividir-se em:

COM RELAÇÃO AO OBJETO


a) De direito. Aqui, trata-se da ignorância acerca da lei que manda ou proíbe algo.
b) De fato. É a ignorância de que tal ou qual ação está compreendida na lei que manda ou proíbe algo.

COM RELAÇÃO AO SUJEITO

a) Invencível. É aquela que não pode desvanecer-se no sujeito que a padece. Seja porque, por diferentes razões, de nenhuma maneira ele alcança removê-la (ignorância absolutamente invencível), seja porque ele tenta inúmeras vezes livrar-se dela, estudando, perscrutando, indagando de amigos, mas não consegue (ignorância moralmente invencível). Neste último caso se encontram alguns que a linguagem popular chama de burros, antas, asnos. A propósito, que eu saiba a história da filosofia ainda não nos legou uma Metafísica da Burrice — malgrado esta seja um fenômeno digno do estudo e da atenção do filósofo. Existem, de fato, pessoas obnubiladas, tapadas, quase misteriosamente idiotas.
b) Vencível. É a ignorância que se poderia desvanecer com um mínimo de esforço, pela reflexão e pelo estudo. Ela é subdividida por Royo Marín em simplesmente vencível (se se pôs em marcha uma diligência para superá-la, mas insuficiente ou incompleta); crassa ou supina, no caso em que o ignorante não fez nada, ou quase nada, para sair de sua situação; ou afetada, caso típico daqueles que não querem conferir as suas obrigações ou deveres simplesmente porque não pretendem cumpri-los.


COM RELAÇÃO À VONTADE

a) Antecedente. É a ignorância anterior ao ato realizado, de tal sorte que, tratando-se de um ato mau, levaria a pessoa a não praticá-lo. Neste sentido, a ignorância é uma espécie de causa acidental próxima da ação — a qual não se realizaria sem ela.
b) Concomitante. É a ignorância no ato que se realiza ou se quer realizar. Aqui, o que se ignora é a ilicitude da ação. Para muitos, neste casos estão consideradas as ações más que, mesmo sem a ignorância, se realizariam em virtude do ímpeto ou disposição de ânimo do sujeito.
c) Conseguinte. É a ignorância que resulta da voluntária negligência em averiguar a verdade. Se tal ignorância coincide com o desejo de não ver-se privado de realizar o ato (que se saberia ilícito, se o sujeito fizesse a menor investigação), ocorre conjuntamente com a ignorância afetada.

A ignorância, em todos esses casos, exerce um influxo decisivo sobre os atos humanos, que se realizam pela vontade informada pela inteligência. E é mais ou menos culpável na medida em que o sujeito está mais ou menos capacitado para sair dela — sobretudo se o seu ofício assim o exige. Apenas para ilustrar com um exemplo, certa vez um padre me disse que a Igreja não deveria mais fazer nenhum anátema, pois acarretaria grande publicidade para a obra proibida pela autoridade eclesiástica. Um livro obsceno ou com idéias errôneas que fosse formalmente condenado pela Igreja, de acordo com o sacerdote, teria uma enormíssima propaganda, ao que objetei respondendo o seguinte: a causa final do anátema, ou seja, a sua razão de ser, não é haver maior ou menor publicidade no mundo da obra condenada, mas defender a fé e proteger todo o Corpo Místico (sobretudo os simples fiéis) de doutrinas que põem em risco as suas vidas e, principalmente, as suas almas. Há poucos meses eu soube de um jovem culto que se suicidou e deixou um bilhete com alusão a uma tese de conhecido economista liberal, segundo a qual a nossa vida nos pertence e o corpo de cada um é propriedade particular — razão pela qual poderia dispor deles como bem entendesse. Fiquei muito impressionado com isso, pois é uma prova cabal de quão nefastas podem ser as obras que contêm graves e sutis erros. Noutra oportunidade, refutaremos essa tese liberal de que a nossa vida nos pertence, por (supostamente) ser propriedade nossa, mostrando que o termo “propriedade”, neste caso, é usado de forma absolutamente equívoca, e nada tem a ver com o “próprio” aristotélico — um dos cinco predicáveis.

Evidentemente, em diferentes graus somos todos ignorantes, como a propósito já nos ensinara Sócrates — que se dizia portador do maior e mais valioso conhecimento: só sabia que nada sabia. Mas não falamos aqui da ignorância a respeito de algo que não tenhamos obrigação de saber, e sim da ignorância culpável. E se é verdade o que diz Aristóteles na primeira frase de sua Metafísica (“O homem deseja, por natureza, conhecer”), ignorar o que devemos saber é defraudar, na raiz, a nossa natureza intelectivo-volitiva.

Baseado, pois, naquelas distinções iniciais, podemos dizer, com Royo Marín:

A ignorância invencível de direito desculpa perante Deus, mas não perante os homens. O motivo de desculpar perante Deus é que se trata de uma ignorância involuntária. E o motivo de não desculpar perante os homens é que a ignorância, em si, não retira toda a imputabilidade da ação, nem as suas conseqüências (muitas vezes drásticas).

A ignorância vencível é sempre culpável, em maior ou menor grau, de acordo com a negligência em averiguar a verdade. A razão da culpabilidade é que, neste caso, a ignorância é sempre voluntária. O homem se dá conta de sua ignorância e nada faz (ou faz pouco) para averiguar os seus deveres. Embora neste casos a ignorância reduza o grau de voluntariedade da ação — e por conseguinte seja menos culpável —, não a retira de todo.

A ignorância antecedente desculpa naquilo que se ignora. O que mata voluntariamente um homem ignorando que é sacerdote se torna réu de homicídio, mas não de sacrilégio pessoal.

A ignorância conseguinte nunca desculpa, embora diminua um pouco a malícia do ato. O advogado que prejudica o cliente por não ter estudado com diligência o caso, por exemplo.

Voltaremos ao tema.

domingo, 10 de janeiro de 2010

"TV" Contra Impugnantes: Heráclito de Éfeso


Sidney Silveira
Veja-se nesse trecho de aula do Nougué alguns aspectos do sistema aporético de Heráclito de Éfeso.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nova aula do curso de História da Filosofia

Sidney Silveira
A quinta aula do curso do Nougué ("História da Filosofia: do impulso grego ao abismo moderno") já está disponível para os inscritos no link www.santotomas.com.br/cursos. Estamos, por ora, na escola eleática. Os ainda não inscritos podem solicitar a sua adesão ao curso pelo email do Marcel Assunção Barbosa: marcel@santotomas.com.br. Obviamente sou suspeito para falar, mas o curso está, de fato, excepcional!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Prestação de contas e pedido de apoio

Sidney Silveira
Em 2009, o Contra Impugnantes publicou exatos 225 textos, o que dá a média de um escrito a cada 1,6 dia. A “TV” Contra Impugnantes veiculou, ao longo de nove meses, 62 vídeos com trechos de aulas que abordavam algum aspecto do Tomismo, o que nos leva à média de um vídeo a cada 4,3 dias. Em 2008, em sete meses de atividade foram ao todo 164 textos — o que perfaz a média de um texto a cada 1,2 dia.

Revisitando esses textos e vídeos, observo que boa parte da filosofia e da teologia de Santo Tomás de Aquino foi abarcada, analisada, divulgada — em seus mais variados tópicos: metafísica, teodicéia, psicologia, antropologia, lógica, política, ética, moral, gnosiologia, escatologia, artes, economia, história, mística, hagiologia, Magistério da Igreja, história da filosofia, angelologia, etc. Tudo em geral remetido, referido, associado ao liberalismo maçônico que varreu o mundo depois da revolução francesa, e que, no âmbito do pensamento filosófico, encontra a sua fonte distante na decadência da escolástica, a partir de Duns Scot, com o seu voluntarismo desbragado que preanuncia o individualismo propugnado por nossos liberaiszões contemporâneos.

Neste período de um ano e meio, a Sétimo Selo publicou os seus três últimos livros: Atualidade do Tomismo (por sugestão de um amigo), Raimundo Lúlio e As Cruzadas e, com o apoio do Mosteiro da Santa Cruz e do recém-criado Instituto Angelicum, A Candeia Debaixo do Alqueire, do Padre Calderón, ora esgotado. Em breve, virão à luz o Protreptico, de Clemente de Alexandria, e uma obra de São Bernardo contra as heresias de Pedro Abelardo, ambas em edições bilíngües (grego/português e latim/português). Há outros livros "no forno", já traduzidos e com a apresentação pronta, mas para publicá-los precisaríamos de mais recursos.

Alguns cursos presenciais foram ministrados por mim e pelo Nougué, como o que durou quatro meses no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB, no Centro do Rio, dois minicursos na Academia Brasileira de Filosofia – ABF, um breve curso de extensão numa Faculdade de Comunicação no Rio de Janeiro e, por fim, outro curso em uma empresa do setor elétrico brasileiro. Há um mês, o Nougué começou um curso de História da Filosofia pela internet, com vários inscritos, e, em breve, eu e outros professores tomistas seguiremos o mesmo caminho, com outras atividades pela internet das quais daremos notícia quando for o momento propício.

Como eu e o Nougué, para ganharmos o nosso suado pão de cada dia, nos dividimos em várias atividades profissionais que nos tomam o melhor do tempo, e ademais estivemos doentes em boa parte desse período (eu extraí um câncer e tornei-me um paciente de risco, graças a um problema cardíaco administrado por alguns remédios, e o Carlos teve tantos problemas de saúde que mais parecia um hospital ambulante, pobre homem), o fato é que precisamos de apoio para continuar prestando este serviço, realizando este apostolado num campo tão necessário, que é o da filosofia. E necessário porque os adversários da Igreja que hoje a infiltram, a parasitam, ou que, mesmo estando fora dela, posam de homens do espírito amantes da tradição eclesiástica, são organizados, têm financiadores (entre os quais se contam banqueiros e maçons), estratégia e fins bem delineados para a sua ação política. Difundem o pior das teorias liberais e, para combatê-los com um mínimo equilíbrio de forças, precisamos de ajuda.

E tal ajuda pode ser ou com a compra de uma maior quantidade de livros da Sétimo Selo, ou então por uma conta bancária do Instituto que, em breve, divulgarei para aqueles que desejarem ser benfeitores deste projeto de resgate do Tomismo e defesa da fé no terreno filosófico-teológico.

Com mais recursos, este trabalho terá muito maior alcance e produzirá frutos em maior quantidade, na forma de livros, cursos, seminários, etc.

Contamos com vocês em 2010.

domingo, 3 de janeiro de 2010

"TV" Contra Impugnantes: a lei eterna e a lei natural

Pietro de Cortona (O Triunfo da Divina Providência)


Sidney Silveira
Veja-se, aqui, um trecho de aula em que o Nougué expõe sinteticamente e com palavras simples (já que era uma palestra para iniciantes em filosofia) os conceitos de lei eterna e lei natural em Santo Tomás de Aquino. Biscoito fino.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Reflexos de um trabalho

Sidney Silveira
Eu soube muito recentemente que um grupo de leitores do blog criou uma comunidade Contra Impugnantes no orkut, aberta a não-membros, a qual tem o seguinte propósito, de acordo com Leonardo Brum — moderador do espaço: "Comunidade para reunir aqueles que se interessam pelo trabalho dos professores Carlos Nougué e Sidney Silveira, responsáveis pelos textos do blog Contra Impugnantes, dedicado à divulgação da obra de Santo Tomás de Aquino". Agradeço a Leonardo Brum, a quem não conheço pessoalmente, mas apenas por meio de uma breve troca de emails por ocasião da venda de um exemplar do extraordinário livro do Padre Álvaro Calderón (temporariamente esgotado). Foi ali, nessa página do orkut, que soube já estar disponível na internet, neste endereço, uma parte da palestra do Nougué sobre a Realeza Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, proferida em Belo Horizonte e organizada pelos mantenedores do Index Bonorvm. Por fim, nesse mesmo dia eu soube que fora criado um blog do Grupo de Estudos Veritas, o qual, entre outros objetivos, tem o de divulgar o trabalho do Contra Impugnantes. Também agradeço aos criadores deste outro espaço, a quem não conheço.

Ocupar espaços na internet para difundir a doutrina católica e a filosofia deste gigante que foi Tomás de Aquino é sempre algo merecedor do nosso apoio. É sempre ocasião para, ainda que em modesta escala, louvar o que merece ser louvado.