Sidney Silveira
Realmente, não há como responder a todas as pessoas que mandaram mensagens de agradecimento pela pequena disputatio publicada no Contra Impugnantes acerca de se é lícito ao filósofo usar de uma linguagem torpe, com palavrões e insultos, contra adversários maliciosos. Obrigado, pessoal!
Na verdade, escolhi naquele texto apenas três objeções que me pareceram suficientes para que, no corpus, a resposta mostrasse toda a sua força. Sem dúvida, há outros argumentos em contrário que não pus ali simplesmente por falta de tempo — pois dá trabalho compor um texto neste formato escolástico e eu preciso ganhar o pão de cada dia; não tenho papai nem mamãe que me paguem as contas e muito menos nenhum endinheirado que se disponha a me manter às suas expensas. A propósito, hoje vejo com clareza: Deus me livre disso! Prefiro continuar passando dificuldades e me entregando à Divina Providência, que só dá o que realmente preciso; nem mais nem menos. E, no dia em que Deus não quiser ver-nos a mim e ao Carlos envolvidos em tantos projetos, encerro todas essas atividades (cursos, blog, editora, etc.) da mesma forma como comecei. Afinal, o que importa é, como diz São Paulo, combater o bom combate. O resto é poeira e passa voando, como a vida humana — que é, como gosta de repetir o Carlos, uma flor de um dia.
Vale ainda dizer que, no sed contra daquele texto (para ser estritamente dialético e manter a forma clássica da disputa), consignei um argumento de Aristóteles que mostrava o seguinte: para alcançarmos a verdade, precisamos argumentar, e se o fazemos exacerbando as paixões com mil e um palavrões, a coisa certamente não chegará a bom termo. As autoridades do sed contra foram colhidas da Sagrada Escritura, que recrimina com duríssimas advertências a linguagem vulgar, típica dos ímpios e pecadores empedernidos, e não de um filósofo. Escolhi algumas citações, apenas, mas há incontáveis trechos de Salmos, Epístolas, etc. Quem quiser, procure que certamente encontrará textos espirituais de grande profundidade sobre este tema.
Bem, é isso, amigos: passei por aqui hoje apenas para agradecer, de uma só vez, aos emails a respeito desse texto do filósofo boca-suja (já que estou sem tempo para responder um a um).
Nessas horas, encontramos ânimo para continuar, até o ponto em que apraza a Deus.