Sidney Silveira
Muitos jovens têm segurado o rojão. Disso ninguém pode duvidar, pois se trata de uma evidência metafísica. E o têm segurado com admirável firmeza, nas lúgubres noites lôbregas de luar, em que lobisomens anunciam — com estrepitoso uivo — a alegria de prazeres cada vez menos furtivos.
Ora, como o mundo, na cabeça de alguns dos nossos clérigos, é uma irmandade feita de invencível júbilo, algumas de Suas Excelências Reverendíssimas pertencentes à CNBB tiveram a brilhante idéia de transformar em poesia de viçosa fragrância os princípios conformadores de sua fé na moçada. Compuseram o “Credo da Juventude”, conforme nos informa o site Fratres in Unum. Vale a pena conferir o link acima. Há frases que poderíamos inserir entre as grandes éclogas da literatura luso-brasileira, dado o seu caráter bucólico. Isto se não fossem as escorregadelas no manejo dos recursos de que dispõe o idioma de Camões...
Coisas assim:
“Creio no jovem e na jovem que sabe o que quer, que enfrenta a luta, que não foge da raia / (...) Creio nos jovens e nas jovens da Comunidade, do campo, da escola, da periferia, que sabem viver o amor em sua realidade” (...).
Tal escrito não poderia passar em branco, ou seja, sem homenagens condizentes com o seu valor literário-doutrinal.
Pois bem. Um amigo latinista dos bons fez o favor de verter o “Credo da Juventude” para o multissecular idioma litúrgico da Igreja, e o “creio na rapaziada que segue em frente e segura o rojão” transformou-se — por meio de uma alquimia sacral — em credo in sodales qui progrediunt et virgam sustinent flammarum.**
Lindo! Até porque passar ao latim solecismos, anacolutos, erros de concordância e coisas que tais não é mole.
A versão latina do Credo infanto-juvenil da CNBB foi publicada no blog do Pedro Sette, de quem o eminentíssimo latinista é amigo comum. A propósito, com louvável humildade e também por razões sapienciais, o artista escolheu o anonimato e decidiu sobriamente não incluir esta obra entre os seus feitos intelectuais públicos.
Degustem o texto, que começa com a devida apresentação:
“Ecce novum Credo Iuventutis a CNBB editum, quod ab eis favetur confiturum in saecula saeculorum”.
Pelo amor de Deus, leiam! E, se quiserem, podem reunir-se em grupos e ensaiá-lo em gregoriano — para o caso de as autoridades o quererem cantado durante a Jornada Mundial da Juventude. Não esqueçam de cotejar com o original em português deste marco canônico, para uma justa apreciação.
Sem segurar rojão algum, concedo a esse escrito o meu mais bem-humorado nihil obstat, que vale uma nota de três reais...
** Durante uma revisão, perguntei-lhe por que não preferiu o depoente progrediuntur em vez do bem menos usado (embora abonado) progrediunt. Disse ele: "O 'jovem' desse Credo é ativo demais para formas passivas, meu caro... Ademais, tinha que botar alguma esquisitice, senão trairia o original".
** Durante uma revisão, perguntei-lhe por que não preferiu o depoente progrediuntur em vez do bem menos usado (embora abonado) progrediunt. Disse ele: "O 'jovem' desse Credo é ativo demais para formas passivas, meu caro... Ademais, tinha que botar alguma esquisitice, senão trairia o original".
Adendo final: Um amigo de notável inteligência e bom humor constante escreveu-me o seguinte: "Imagine Nosso Senhor dando este tipo de ordem: 'Pois, eu vos digo: segurai o rojão e não fujais da raia!'" (citação de I a Modernistas Estultos, capítulo 76, versículo 175). Sim, os números de capítulos e versículos são grandes porque, se colocarmos no papel todas as bobagens dos modernistas tupiniquins, não haverá papel suficiente para tal)".
Eu acresentaria: "Ide e segurai o rojão, para não ficardes na mão". Esta é a sugestão de rima rica para um hit sacro a ser entoado pela Ivete Sangalo na JMJ, em meio a requebros febris...