quinta-feira, 24 de maio de 2012

Freud, por Martín Echavarría





Sidney Silveira


[Compartilho com os leitores do Contra Impugnantes um trecho do sensacional livro “Corrientes de Psicología Contemporánea”, do meu querido amigo Martín Echavarría. É sobre essa soteriologia do divã chamada psicanálise].



"Freud é um autor que procede de modo intuitivo e fundamenta as suas afirmações nas próprias (e muitas vezes escassas) observações e experiências, que (...) não raro estão eivadas de uma posição filosófica prévia, não explicitada. Com freqüência cai Freud no uso de todo o tipo de falácias e erros formais na construção de seus raciocínios.

(...) Em suma, a teoria de Freud (se é que se pode falar de uma teoria definitiva, pois este autor a foi constantemente modificando) tem muitíssimas lacunas, algumas das quais assinalamos anteriormente. Não faremos aqui uma crítica de fundo de seus pressupostos filosóficos, o que tomaria maior espaço que o desejável, dado o escopo deste trabalho, mas apenas assinalar algumas inconseqüências de suas teorias.


(...) Um defeito muito importante é a quase absoluta ausência, na teoria freudiana, da mente ("mens"), ou seja, dos aspectos racionais que tão evidentemente têm parte na vida psíquica humana, como a capacidade de pensar conceitos universais, de emitir enunciados e raciocinar. Não que Freud diga que entre este nível intelectivo e o sensitivo haja apenas diferença de grau, como no empirismo; o fato é que ele não dá absolutamente nenhuma explicação de sua existência, nem a tem em conta em sua explicação global da vida humana, exceção feita ao obscuro conceito de "representação de palavra".


(...) Freud tem, em muitos círculos, a fama de curador quase miraculoso, apesar de não apresentar em suas obras nem um só caso convincente de cura, como demonstra o psiquiatra ítalo-suíco Ermanno Pavesi. (...). A terapia psicanalítica é a ilustração de uma rama do pensamento "mágico": como tratamento, funciona no estrito limite do efeito placebo. E justamente devido ao caráter da psicanálise como substituta pós-moderna da religião, ou seja, por ser uma fé e uma práxis pós-religiosa, as críticas científica e filosófica (de per si demolidoras) são insuficientes para uma refutação última, cabal e completa da psicanálise. É necessário também recorrer a uma explicação propriamente teológica".