terça-feira, 22 de julho de 2014

Aonde vai a zona de sombrada contemporaneidade?


Sidney Silveira

Na acepção do termo, épocas são períodos históricos diferenciáveis entre si, conforme frisa Erwin Panofsky em seu hoje clássico Arquitetura Gótica e Escolástica. Mas para que, de fato, as épocas se diferenciem é preciso haver vetores de unidade e de identidade distintos a lhes dar esta ou aquela forma predominante. Seja como for, um historiador só pode aferir tais traços demarcadores de distintas etapas históricas comparando-as em seus principais tópicos: religião, artes em geral, filosofia, política, ciência, arquitetura, etc. 

Em sociedades que perderam totalmente o sentido de unidade e de identidade, como as contemporâneas, o historiador e o cientista político são literalmente esmagados pela multiplicidade indomável de fontes colidentes entre si. Precisam ser quase profetas a buscar luzes para além do perímetro da sociedade que estudam — cuja inteligibilidade, em seu conjunto, dá-se antes pelos vestígios da grandeza perdida do que pelo caos demarcador do seu epitáfio.

Assim são as épocas se transição: zonas de sombra potencialmente moldáveis a várias formas

A zona de sombra deste começo de século XXI, em particular, caracteriza-se pela abrangência dos tentáculos em luta pelo poder (sobretudo islamismo, globalismo ocidental e eurasianismo), como também pela tentativa artificiosa de destruição das diferenças, sem as quais nenhum genuíno vetor de unidade ou de identidade é possível. 

Ou vocês acham factível que, por decreto da ONU, sobrevenha uma sociedade global a um só tempo ecumênica, pancristã, transnacional, atéia, islâmica, judaica, abortista, socialista, pacifista, plurissexual, pedófila e multiculturalista?

Apertem os cintos. O piloto do avião sumiu e pouca gente é capaz de dar testemunho desse sumiço.