Sidney Silveira
Dado o modo propriamente humano de conhecer – abstrativo e, por sua natureza, precário, pois nunca esgotamos a inteligibilidade do real –, a analogia é o procedimento por excelência das ciências e da filosofia, ainda quando cientistas e filósofos não tenham a menor noção do que venha a ser a analogia, a qual era conhecidíssima de matemáticos e de geômetras desde os tempos dos pitagóricos e de Euclides.
Para o que nos interessa destacar, basta referir o seguinte: para aqueles geniais perscrutadores da natureza das coisas, "logos" era termo designativo de qualquer relação de comensurabilidade entre duas partes homogêneas, ao passo que "analogia" era um "logos" composto, ou seja, a relação de comensurabilidade de duas relações. Portanto, se "logos" implicava uma relação entre apenas dois termos, por sua vez "analogia" exigia pelo menos quatro termos.
Diz o seguinte o filósofo José Miguel Gambra em notável estudo sobre a analogia. Se lembrarmos que a palavra grega "logos" foi traduzida pelos latinos por "ratio", do verbo "reor" (calcular, computar, etc.), assim como por "portio" (que significa "quasi pars", "mensura"), e se também considerarmos que o prefixo latino "pro" pode traduzir o grego "ana", chegaremos a "proportio" para traduzir "analogia". Estamos a falar, pois, de proporções e, portanto, de relações entre semelhanças e dessemelhanças.
Isto é, digamos de maneira sumariíssima, a analogia.
Conhecemos comparando, e comparar não é outra coisa senão mensurar graus de similitudes entre coisas distintas. Em síntese, raciocinar é o modo próprio de o homem investigar a realidade medindo-a em diferentes níveis, por comparação entre termos e conceitos implicados em princípios, premissas e evidências; nas palavras do Aquinate, "compondo e dividindo" – até chegar a conclusões mais ou menos certeiras.
Isto posto, assinala Gambra, aludindo ao neotomista Santiago Ramírez, maior estudioso do tema no século XX, que as ciências e a filosofia não têm como escapar à analogia.
Nós a encontramos em todos os tipos de conhecimento:
> NA FÍSICA, basta pensarmos na lei newtoniana segundo a qual dois corpos se atraem na razão direta de sua massa e na razão inversa ao quadrado da distância entre eles. Temos aqui uma perfeita analogia!
> NO DIREITO, a regra segundo a qual de duas ou mais coisas similares há de fazer-se o mesmo juízo, e não juízos diversos, é uma perfeita analogia!
> NA LÓGICA, se estabelecemos com Santo Tomás que o silogismo dialético está para a opinião assim como o silogismo apodítico está para a ciência, temos uma perfeita analogia.
Gambra enumera outras analogias na arquitetura, na filologia, na biologia, na sociologia, na história, na psicologia, na teologia, na poética e em incontáveis ciências, as mais díspares entre si, para deixar consignado tratar-se de um instrumento inescapável tanto para cientistas como para filósofos.
Pena que a modernidade e a pós-modernidade quase inteiras mataram a aula sobre esta ferramenta tão cara aos escolásticos...