Espaço destinado a combater a insidiosa e multiforme cultura liberal, que tem entre as suas raízes mais daninhas: uma falaciosa noção de liberdade humana; a idolatria — implícita ou explícita — da consciência individual; a separação entre natureza e moral; a contraposição entre Estado e indivíduo; a dissolução da Religião em categorias morais sem fundamento metafísico; a perda da noção de bem comum político.
terça-feira, 31 de maio de 2011
Frutos espirituais
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Trecho do livro "Jesus Cristo e os filósofos"
Sem ter como escrever para o Contra Impugnantes por estes dias, transcrevo abaixo um trecho do livro Jesus Cristo e os Filósofos, do Pe. Eugenio Cantera (com o corte em um parágrafo em que, inadvertidamente, ele citava Lamennais). Vale muito a pena ler este pedaço... A propósito, o livro inteiro é encontrável neste link. Outra coisa: não tive como expurgar o texto de todos os erros de português da tradução, por falta de tempo; mas o que importa, neste caso, é o conteúdo.
[1] Santo Tomás, Contra Genti., lib. I, cap. 62; III, cap. 57; I, q. XIV, art. 4.
[2] Sess. III, c. 2.
[3] João, XIV, 6.
[4] Ibid. XII, 46.
[5] Ibid. VIII, 12.
[6] Ibid. VIII, 25.
[7] Ibid. XIV, 6.
[8] Ibid. XVIII, 37.
[9] Ibid. XIII, 13.
[10] Colos., II, 3.
[11] Jésus-Christ, t. I, pg. 336.
[12] Estúdios filosóficos sobre el Christianismo, t. IV, pg. 310.
[13] Ps. XLIV, 3.
[14] La liberté de penser et la libre pensée, pg. 55.
[15] El Racionalismo y la humanidad, pg. 77.
[16] I, q. XVI, art. 1.
[17] Ps. IV, 7.
[18] Soliloq., II, cap. 5.
[19] I, q. XVI, art. 2.
[20] I, q. XXVII, art. 2.
Liberalismo e Catolicismo: livro do Pe. Roussel no blog do SPES
sexta-feira, 27 de maio de 2011
"Qualquer que escandalizar um desses pequeninos (...), melhor seria que lhe pendurassem ao pescoço uma mó (...) e que o lançassem no fundo do mar".
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Palestra de lançamento do livro "O Êxtase da Intimidade"
Evento tomista em São Paulo transferido para julho
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Novas “Jornadas” da FSSPX
As "Jornadas 2011" da FSSPX, no Seminário de La Reja, versarão sobre o tema da “Política Católica”, e terão entre seus expositores o Padre Álvaro Calderón. Ou seja, versarão sobre o próprio tema que nos levou à fundação do SPES - Seminário Permanente de Estudos Sociopolíticos Santo Tomás de Aquino, e contarão com aquele por quem nos orientamos constantemente, o Padre Calderón. Vejam o cartaz das Jornadas aqui.
Enviamos-lhes o folheto e o convite para as JORNADAS 2011. Aos jovens pedimos que se inscrevam O QUANTO ANTES para facilitar a organização.
A todos: que rezem pelo sucesso destas Jornadas; convidem seus conhecidos e parentes e nos ajudem a pagar os numerosos gastos gerados por estas Jornadas.
Desde já muito obrigado a todos, e que Deus os bendiga copiosamente.”
domingo, 22 de maio de 2011
Palestra "O Amor em Santo Tomás de Aquino", nesta terça-feira (24-05)
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Raimundo Lúlio e Maomé, no IX EIEM
Giovanni da Modena (afresco "O Juízo Final")
Sidney Silveira
O Prof. Ricardo da Costa disponibilizou em seu site o breve texto sobre Maomé que servirá de base para a palestra que ministrará no IX EIEM - Encontro Internacional de Estudos Medievais, em Cuiabá — evento a realizar-se entre os dias 04 e 07 de julho deste ano. O "ecumênico" Lúlio...
terça-feira, 17 de maio de 2011
Sobre demônios e endemoniados (IV)
Sidney Silveira
O conhecimento diabólico do futuro
Sabemos que os entes operam no limite das potências radicadas na forma específica do seu ato de ser, que é participado. Assim, apesar de Charles Darwin, no dia em que o macaco resolver um teorema de matemática pura, entender as relações geométricas implicadas numa variante do jogo de xadrez e, por fim, redigir algo tão extraordinário como o PL 122 que circula pelos corredores de nosso Legislativo, teremos encontrado o elo perdido da teoria da evolução. Mas como a metafísica aconselha-nos a não ser tão otimistas, fiquemos por ora com a certeza de que, nos entes, o operar segue o ser (operatio sequitur esse), e, portanto, nada pode atuar além de suas possibilidades ontológicas. E isto também se aplica aos demônios: a sua operação é demarcada pela forma entitativa que lhes é própria, o que nos leva a uma série de questões relevantes, se se trata de estudar como tais criaturas podem agir sobre o homem. Uma delas implica o ato do conhecimento, que neles é mais perfeito do que em nós.
Pois bem, conhecer é apossar-se da forma inteligível do ente em ato, além de ser um movimento acidental da potência intelectiva. Esta máxima gnosiológica, no entanto, não elucida todos os modos próprios deste tipo especial de relação chamada “conhecimento”. Ressalte-se, neste ponto, que uma coisa é o conhecimento atual — ou presencial, para alguns tomistas. Este acontece quando o intelecto tem a clara visão de determinado inteligível. Por exemplo, o médico que, após a análise de um conjunto de exames à luz dos princípios por ele conhecidos, constata o câncer do paciente. Neste caso poder-se-ia dizer que a inteligência do médico vê o câncer, presencia-o, ou seja, apossa-se formalmente desta realidade extramental (quer dizer: que está fora de sua mente). Então o médico pode afirmar: eu sei, aqui e agora, que este meu paciente tem um câncer. Em síntese, dá-se nesta hipótese a adequação entre a inteligência a coisa.
Ocorre que conhecer algo não é apenas conhecer as causas de que depende. Posso muito bem conhecer as causas de uma coisa, mas não elucidar a sua essência e não esgotar a inteligibilidade do seu modo de operar (aqui, dada a nossa humana forma de conhecer, não custa lembrar que só temos a notitia veritatis da essência de uma coisa quando descortinamos quais são as suas operações próprias, e não por uma espécie mágica de intuição direta). Daí que exista também um tipo de conhecimento ao qual podemos chamar de conjectural, ou seja: um saber que parte de premissas claras e seguras, mas ainda não é atual, no sentido de que: a) a realidade cognoscível ainda não se atualizou na ordem do ser, e, portanto, trata-se de uma mera probabilidade; b) ela atualizou-se, mas o cognoscente ignora algumas de suas notas distintivas; c) ela atualizou-se, mas o cognoscente não conhece a totalidade da série causal ali implicada; etc.
Não é o caso, neste texto, de examinar todos os tipos de conhecimento, mas cito os dois acima — o presencial e o conjectural — para abordar um problema a propósito do tema em questão. Pois bem, tendo os demônios as formas inteligíveis das coisas infundidas em sua mente por Deus desde o instante em que foram criados como anjos, eles não extraem das coisas o conhecimento, como nós, mas contemplando-as apenas atualizam o conhecimento que desde sempre tiveram acerca delas. Por exemplo: antes de haver o ente gato, eles já conheciam a forma inteligível gatesca que lhes havia sido posta na inteligência por Deus, razão pela qual Santo Tomás de Aquino, fazendo uso de uma linguagem analógica, chega a afirmar em alguns textos que as coisas têm mais ser na inteligência dos anjos do que em si mesmas.
Ocorre o seguinte: conhecer o quid est do gato não é conhecer este ou aquele gato (pois o conhecimento quiditativo também se distingue do presencial, como me ensinou o meu querido amigo Luiz Astorga, um metafísico de alto coturno, para usar uma metáfora militar dos tempos de antanho), razão pela qual a questão espinhosa no tomismo sempre foi saber como os demônios, conhecendo desde sempre as essências ou quididades, conhecem também os entes singulares. Esta questão é correlata a outra — a que nos interessa aqui, pois estamos em meio a uma investigação teológica: até que ponto podem os demônios conhecer o futuro? E, conhecendo-o, como poderiam atuar sobre o homem, para perdê-lo?
Noutros textos assinalamos que Deus, sendo Ser infinito, simplícimo, conhece tudo presencialmente, ou seja, tem a posse perfeita de todos os inteligíveis em ato porque todos têm a sua fonte n’Ele mesmo e nada existe fora do Ser, quer dizer: à parte de Deus. Daí afirmar-se que Deus, conhecendo-Se em ato perfeitamente, conhece tudo o que é, o que foi, o que será e o que seria — em grau sumo e sem defecção de nenhum tipo. Por sua vez, dos anjos (e por conseguinte dos demônios), que não são Ato Puro simplícimo de ser, dado que têm composição de ato e potência, de substância e acidentes e de essência e ser, podemos dizer que:
a) tendo em sua inteligência todas as formas inteligíveis das coisas criadas, eles conhecem virtualmente tudo no plano natural, embora não de forma instantânea (num só ato), e sim sucessiva, com um antes e um depois;
b) eles não esgotam a inteligibilidade do Próprio Ser, que é Deus, pois a inteligibilidade deste é tão inesgotável e infinita quanto o seu Ser, e nenhum ente finito pode abarcá-la;
c) eles não conhecem a ordem da Divina Providência, que sobrepassa toda natureza criada.
Acrescente-se a isto o fato de que os demônios (como qualquer criatura) precisam transitar da potência ao ato para atuar, na exata medida em todo ente, não sendo ato puro de ser, é composto, e tudo o que tem composição opera por meio de faculdades, e estas, por sua vez, estão em potência em relação aos seus objetos formais próprios. No caso do demônio, criatura angelical, a sua inteligência, mesmo tendo as formas inteligíveis das coisas já infundidas nela, está em potência para adquirir novos conhecimentos ou atualizar os que virtualmente já possui. Assim, pode um anjo conhecer um novo conteúdo inteligível sobrenatural, revelado diretamente por Deus, por exemplo; pode conhecer algo novo comunicado por um anjo de hierarquia superior, que conhece as mesmas coisas por meio de formas inteligíveis mais universais; etc.
Tendo em vista tudo o que foi assinalado até aqui, com relação ao modo elevado de conhecimento angélico — e portanto demoníaco —, diga-se que a criatura espiritual conhece as coisas de três formas principais: 1ª.: o já citado conhecimento presencial (a posse do inteligível hic et nunc, numa fulgurante intuição direta das essências das coisas); 2ª.: o conhecimento certo (o futuro necessário, deduzido das causas essencialmente ordenadas)1; 3ª.: e o conhecimento conjectural, também mencionado (o futuro contingente, deduzido de causas acidentalmente ordenadas). Neste último caso, é possível ao anjo errar, pois, embora as suas deduções sejam precisas ao extremo, não abarcam a completude dos modos de ser da realidade, daí Santo Tomás ter provado que somente Deus pode conhecer perfeitamente os futuros contingentes, pois tudo para a Sua inteligência é presença; só Ele, pois, é omnisciente.
Finalizando o quadro, podemos dizer que um evento futuro pode ser conhecido em si mesmo, ou nas causas de que depende. O primeiro modo só cabe a Deus, Ser perfeitíssimo e, portanto, superior a qualquer ordem temporal — pois Ele não apenas é eterno, mas é a própria eternidade sem a qual sequer poderia haver tempo, como mostra o Nougué no segundo DVD da série A Síntese Tomista, intitulado “O Tempo e a Eternidade em Santo Tomás de Aquino”. Sendo assim, o futuro para Ele não há.
Com relação ao segundo modo, vale reiterar o que ficou acima assentado, mas com outras formulações:
Ø Certos sucessos ou eventos dependem de causas necessárias, ou seja, não podem não acontecer num dado contexto (por exemplo, a aurora). Este e qualquer outro futuro necessário pode ser conhecido perfeitamente pelo demônio, cuja inteligência agudíssima penetra os segredos da natureza;
Ø Outros sucessos ou eventos dependem de causas acidentais radicadas em algumas tendências do ente. Trata-se aqui do futuro conjecturável, que não pode ser conhecido perfeitamente pelo demônio, mas em muitos casos pode ser deduzido com grande probabilidade de acerto, mas não mais que isto. A propósito, o demônio somente tentou a Cristo porque o seu conhecimento acerca da pessoa de Nosso Senhor era conjectural, e não presencial apodíctico, como se afirmou alhures;
Ø Por fim, outros sucessos provêm de causas imprevisíveis, ou seja, que podem produzir este ou aquele efeito de forma indiscriminada (por exemplo, diante de um mesmo fato, um homem converte-se à fé e o outro se perde). É o chamado futuro livre ou contingente, que não está à mão de nenhuma criatura prever.
Ditas estas coisas, concluamos dizendo que o conhecimento do demônio acerca da natureza humana é superior ao do próprio homem, mas ainda há mais: o conhecimento presencial dos demônios acerca de um enorme conjunto de acidentes individuantes deste ou daquele homem é também elevadíssimo. Por exemplo, ao contemplar um indivíduo qualquer, um demônio — cuja inteligência não possui o obstáculo da matéria — conhece todos os seus detalhes corporais (ex.: se há alguma artéria entupida, a quantidade de sangue circulante no corpo, os dentes bons e cariados, etc.).
Ora, como boa parte dos pecados têm ressonância no corpo, um demônio com poucas informações consegue muitas vezes ter a clara visão da situação espiritual de um homem (se é tendente à gula, à luxúria, à ira, etc.). Daí que, conhecendo essas tendências viciosas, bastará a ele apresentar ou sugerir as imagens que induzirão o homem a atualizá-las.
O que os satanazes não podem, de maneira alguma, é prever com grau máximo de certeza se o homem tentado cairá ou não, pois, como ficou acima dito, só Deus conhece os futuros contingentes.
(continua)
[1] Quem me adverte com relação ao conhecimento certo (intermediário entre o presencial e o conjectural) é também o nobre amigo Luiz Astorga, que atualmente está se doutorando com uma tese sobre o estatuto ontológico das formas inteligíveis angélicas. Um tomista de quem todos ainda ouviremos muito falar no Brasil.
domingo, 15 de maio de 2011
Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, consagrada ao Imaculado Coração de Maria
sábado, 14 de maio de 2011
O sistema das pequenas detrações
Sidney Silveira
Com honrosas exceções, a chamada “vida acadêmica” no Brasil é hoje o mais lúgubre cemitério da inteligência. Não que os que lá estejam sejam propriamente burros, pois a última coisa a dizer de pessoas maquiavélicas é que são burras; mas sem dúvida essas trágicas personagens compõem o quadro de uma singular estupidificação coletiva. Contempladas de uma perspectiva espiritual, são antes de tudo dignas de compaixão, pois se tornaram vítimas do próprio estupor, da autocastração de suas potências superiores. Quem conhece bem as lides dos departamentos acadêmicos (sobretudo nas universidades públicas brasileiras), entende perfeitamente o que digo: politicagem, conluios, favorecimentos ilícitos, detrações e mentiras de todo tipo; enfim, muito pouco há ali que nos remeta ao nobre fim da academia: produzir ciência em sua acepção mais elevada.(1) Com exceção, como se disse, dos heróicos esforços isolados.
Algo análogo se pode dizer de alguns intelectuais católicos hoje atuantes na universidade, nos seminários modernistas ou em institutos de filosofia bancados financeiramente por gente cujo interesse é contrário aos fins da Igreja. Praticam sem nenhum pudor uma espécie particular de bullying (para usar uma expressão em voga) contra estudiosos ligados à Tradição, ou seja, contra os que dizem – publicamente, como é o correto – um veemente “não” às absurdidades doutrinárias, pastorais e litúrgicas da Igreja pós-Conciliar. “Cuidado com fulano, que ele fala mal do Papa”; “Sicrano é cismático porque apóia a FSSPX”; “Aquele outro é sedevacantista enrustido”. Obviamente não se dão o trabalho de destrinchar racionalmente tais assertivas (verdadeiros slogans mentais nos quais escolheram acreditar), nem respondem às objeções, talvez por não quererem ver o tamanho de sua omissão em matéria grave. No fundo, esses choramingas lembram-me uma musiquinha regravada pelo palhaço Tiririca (eleito recentemente deputado federal em nosso maravilhoso sistema político): “O Tunico me bateu!”.
Certamente esses professores não são como os esquerdistas da academia, pois ao menos têm o Evangelho em seu horizonte. Mas, apesar de não chegarem ao nível de baixaria dos esquerdistas, a detração que praticam é mais culpável, pois estão devidamente inteirados acerca do certo e do errado em doutrina moral. Apenas se esquecem disto – seja para defender os seus empregos, seja para não ficar mal com os amigos, seja para não ver a verdade ou sequer inquirir acerca dela, permanecendo assim numa cômoda posição alimentada pelo falso conforto psicológico de quem tapou as narinas para não sentir o odor nauseabundo, de quem fechou os olhos para não ver o óbvio. Quando penso que a inquirição da verdade é justamente o próprio da ciência filosófica que alguns deles estudam, fico assombrado. Estão tornando-se talentos perdidos ou mutilados.
No que diz respeito à minha pessoa, este pequeno sistema de detrações sequer magoa, pois estou vacinado contra atitudes desse tipo, e, ademais, já espero por elas, porque conheço o ônus da independência de ação em tempos moralmente decadentes. Essas pessoas precisarão aumentar bastante o bullying para causar algum estrago, pois as publicações da Sétimo Selo e os cursos do Instituto Angelicum continuarão (se for da vontade de Deus, é claro), assim como os projetos em parceria com outras editoras. Se pelos frutos se conhece a árvore, prefiro deixar que eles falem por si; não vou dar-me o trabalho de me defender de nenhum disse-me-disse.
Tenho é esperança de que algumas dessas pessoas (que nos acompanham atentamente), ao verem que ter coragem não faz mal a ninguém, e que as boas obras impõem-se por si, se imbuam de um espírito mais construtivo e, sobretudo, mais de acordo com a fé que professam.
E deixem de ficar murmurando por aí contra nós, porque pega muito mal para homens feitos...
Em tempo: Observe-se que não reclamo aqui de divergirem de nós (refiro-me agora a mim e ao Nougué), nem de nos acharem pessoas de quem se deva manter certa distância; isso não é problema. Refiro-me a essa atitude de bastidor, de ferir a honra do próximo por trás, como numa punhalada. Atitude próxima da contumélia...
(1) As histórias que conheço são incontáveis. Tenho um irmão professor universitário que vive há anos este ambiente insalubre, e o mínimo que lhe aconteceu foi sofrer um Acidente Vascular Cerebral – AVC, após um período de grande pressão psicológica. Com a graça de Deus, depois de um tempo ele recuperou-se totalmente (não teve seqüelas de nenhuma ordem) e retomou as suas atividades, desta vez escaldado para não ser vítima do mesmo tipo de malefício.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Sobre demônios e endemoniados (III)
Sidney Silveira
De acordo com alguns dos maiores teólogos da história da Igreja, entre os motivos pelos quais Deus permite a possessão diabólica estão:
a) o aumento da glória de Deus[1], devido ao fato de que, por meio dos possessos, se manifestam de forma patente as perfeições e a autoridade divina; b) a manifestação da verdade da Religião Católica (a verdadeira religião), pois somente ela é dotada de poder sobre as forças infernais, por delegação direta de Cristo; c) o castigo dos pecadores, em especial dos mais obstinados que pecam contra o Espírito Santo; d) o proveito espiritual dos bons, ou seja, dos justos; e) os ensinamentos que se extraem de cada caso de possessão, tanto acerca do mundo espiritual como a respeito da condição humana.[2]
Da parte do Lúcifer e de todos os seus seguidores, a causa da possessão é simplesmente o imenso ódio que os demônios têm dos homens e o prazer que sentem ao perdê-los, ao retirá-los do caminho conducente ao céu. Vale dizer que os demônios, se não fossem limitados por Deus, perderiam a humanidade inteira, em razão de sua absoluta superioridade ontológica em relação a nós, nesta gradação de ser que vai da matéria prima ao Ato Puro da essência divina.
Como ficou anteriormente assentado, a possessão é uma das quatro formas de ação diabólica sobre o homem, e, em boa parte dos casos, dão-se algumas predisposições humanas para que se chegue a tal ponto. A principal é a seguinte: o indivíduo que leva uma vida de pecado em matéria grave acaba transformando-se em merecedor desta triste condição de endemoniado, embora não se deva pressupor que a possessão represente sempre um castigo dos pecados do possesso; não foi tão rara na história da Igreja a possessão de homens justos e bons, para se cumprirem alguns dos motivos acima arrolados da permissão divina para esse tipo de mal. A propósito, é sobre as almas boas que o demônio preferiria agir sempre, pois o pecador em estado de pecado mortal habitual já está, de alguma forma, sob o domínio satânico, razão pela qual é justamente contra os que buscam a santidade que o Maligno mais gosta de agir.
Com relação ao modo da possessão diabólica, diga-se que ele está circunscrito ao que a sua forma entitativa é capaz de atualizar, na ordem do ser. Assim, por exemplo, tendo as criaturas espirituais domínio sobre a matéria – que, em sentido metafísico, é absolutamente inerte, pois não pode passar por si mesma da potência ao ato –, elas conseguem realizar quaisquer movimentos locais sem a menor dificuldade. Assim, os demônios podem mover objetos de um lugar a outro, para sugestionar uma alma que esteja sob o influxo da infestação local. Observe-se que este domínio sobre a matéria é extrínseco, ou seja, não é dado aos entes espirituais criar a matéria nem mudar a substância de forma direta e imediata. Como salientam alguns teólogos e exorcistas, os demônios podem mudar internamente a matéria tão-somente de forma indireta e mediata, ou seja, alterando a qualidade das substâncias pela mescla de elementos.
No caso do homem, também a ação satânica é direta e imediata apenas sobre o corpo e suas potências, sendo indireta e mediata sobre a alma. Em síntese, o demônio influencia a alma só a partir daquilo em que ela é dependente do corpo para atuar. Assim, ele é capaz de trabalhar sobre a imaginação (sentido corporal interno) sugerindo formas que possam causar medo, desejo, ira, etc., e desta forma predispor a vontade a escolher mal, obliterada por paixões. Mas não pode o demônio agir diretamente sobre a vontade, razão pela qual não está em seu poder obrigá-la a querer pecar, mas apenas induzi-la a fazê-lo atuando sobre o corpo predispositivamente. Por exemplo: o demônio pode acelerar os batimentos cardíacos de uma pessoa e dar a ela a sensação de morte iminente, para induzi-la a cometer algum pecado específico sobre o influxo do medo – que, como se diz neste conto, em geral não é outra coisa senão um desgoverno na imaginação.
Dadas estas premissas, reiteremos: os demônios só podem exercer alguma influência sobre as atividades intelectivas e volitivas humanas de forma indireta e limitada.
No próximo texto, veremos de que forma estas criaturas espirituais maléficas podem atuar sobre a inteligência e a vontade do homo viator, deste peregrino pelo vale de lágrimas que é o mundo.
____________
[1] Diga-se que, sendo Deus absolutamente glorioso, em si mesma a Sua glória não pode aumentar. O que aumenta é o que os teólogos chamam de glória extrínseca, ou seja, a glória que os homens tributam a Deus, embora Ele não necessite dela.
[2] Estes são apenas os principais motivos da permissão divina para a possessão. Alguns teólogos enumeram outros motivos, como: 1- para que as pessoas próximas ao possesso se arrependam e se convertam; 2- para manifestar a omnipotência e a misericórdia divinas; 3- para provar os eleitos em sua santidade; 4- para humilhar o demônio; 5- para mostrar aos homens que os demônios existem e que é necessário se precatar contra eles; 6- para evitar o aumento da culpa do endemoniados; 7- etc.
Problemas no Blogger
quinta-feira, 12 de maio de 2011
"O amor na perspectiva de Tomás de Aquino", palestra no dia 24/05, na Livraria da Travessa
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Trecho de aula de grego
Cinco novidades!
sábado, 7 de maio de 2011
"João Paulo II: o beato, o super-homem e o místico", interessante artigo do Pe. João Batista A. Prado Ferraz Costa.
"O estrondo publicitário, o espalhafato midiático, o grande sucesso de marketing em torno da beatificação de João Paulo II não conseguem esconder a realidade de que uma considerável parcela de católicos (entre os poucos que ainda conservam íntegra a fé e a sã doutrina) está perplexa ante a elevação à glória dos altares de um papa que, durante o seu longo pontificado, não levou em devida conta a tradição bimilenar da Igreja, mudando completamente o modo de agir da Igreja, principalmente no que concerne à sua relação com as religiões falsas.
A primeira coisa que nos escandaliza na beatificação de João Paulo II, como bem observou um jovem católico, é que a pressão da sinagoga contra a beatificação do grande Papa Pio XII teve mais força nos corredores do Vaticano do que os argumentos teológicos sólidos de tantos católicos contra a beatificação de João Paulo II, um papa que chocou os fiéis com atitudes como o beijo do Corão, o sinal dos adoradores da deusa Shiva que recebeu de uma sacerdotisa indiana. Realmente, esses dois pesos e duas medidas adotados pela alta burocracia vaticana, herdeira das benesses de João Paulo II, são de pasmar.
Além dos argumentos de ordem teológica contra a beatificação de João Paulo II, há graves manifestações de desconcerto da parte de católicos que se julgam afrontados por várias atitudes do neo beato. Houve reação não só dos cubanos mas também de católicos da Silésia, que foram no século passado deportados e tiveram suas casas invadidas e seus bens esbulhados pelos comunistas polacos. Trata-se de um dos maiores crimes da história do século XX. Por ocasião de sua visita àquela região, João Paulo II, que gostava de fazer discursos em reparação dos “pecados históricos”, não disse uma palavra sequer.
Todavia, cumpre reconhecer que João Paulo II demonstrava tanta desenvoltura, tanta segurança em seus atos, que constituía uma personalidade singular que merece acurado exame da parte de todas as pessoas que tenham interesse pela vida dos grandes personagens da história.
A mim João Paulo II sempre me fez lembrar dois ideais de homens traçados por dois pensadores modernos: o super-homem de Nietzsche e o místico de alma aberta, de Bergson.
Com efeito, ao contrário do que pensa muita gente, Nietzsche, embora fosse um inimigo do cristianismo, não era um niilista. É verdade que queria destruir o cristianismo, 'responsável pela ascensão da escoria', para dar lugar a uma nova aristocracia que, por meio do super-homem, produzisse uma cultura superior. Mas queria uma nova tábua de valores cunhada pelo homem forte. Não queria a negação de valores como o asqueroso Jean- Paul Sartre. Por exemplo, Nietzsche não era um defensor da libertinagem; Sartre, sim; em sua medonha vida privada bem o demonstrou.
Pois bem. João Paulo II, por um lado, assemelha-se muito ao super-homem de Nietzsche por ter promovido a religião do homem, por ter conseguido uma síntese entre o humanismo ateu moderno e a Igreja reformada pelo Vaticano II. Hoje, a Igreja, em diálogo com todas as correntes ideológicas e religiosas da humanidade, tem como preocupação maior o bem do homem, tanto assim que disse João Paulo II “o homem é o caminho da Igreja.”
Realmente, só um super-homem carismático como João Paulo II poderia ter realizado tal transmutação de valores e mentalidades. Antes, os católicos eram rígidos e intransigentes em sua convicção de que sua religião era a única verdadeira e a observância do decálogo era necessária para a salvação das almas. Hoje, a maioria dos católicos acha que o importante é a confraternização entre as religiões para a defesa dos direitos humanos e combate da homofobia. E não se fala mais em alma, conceito metafísico completamente esquecido e embolorado.
Por outro lado, João Paulo II assemelha-se muito ao místico da teoria de Henri Bergson sobre a moral e a religião abertas. Como se sabe, Bergson dizia que os grandes místicos, não só os católicos e judeus do Antigo Testamento, mas também os pagãos, são os protagonistas das grandes transformações da humanidade.
Efetivamente, aquela religião estática e fechada da Contra-Reforma, que anatematizava com o syllabus toda modernidade, foi suplantada, graças à mística de João Paulo II, por uma religião aberta e dinâmica a serviço da humanidade. Daí ser ele comparável ao místico de Bergson.
Mas esse dinamismo de nova religião aberta e em evolução lembra não só a filosofia do élan vital de Bergson. Encerra, outrossim, inegavelmente, elementos do pensamento esotérico de Teilhard de Chardin, autor apreciado pelo novo beato. De fato, hoje vemos a Igreja, por meio do ecumenismo e diálogo inter-religioso, promovendo a unidade do gênero humano em direção a um patamar superior, o ponto ômega de Chardin, onde tudo e todos estariam unidos em uma síntese de puro amor!
Alguém poderia objetar – e eu concederia de bom grado – o papa João Paulo II era um homem piíssimo, devoto sincero de Nossa Senhora, arauto dos valores familiares católicos e denodado defensor da vida contra a cultura da morte e a lama da imoralidade da sociedade moderna. Tudo isso é verdade e o distingue com razão do seu sucessor. Certamente, tudo isso tem mérito diante de Deus e da história da Igreja. Mas resta saber qual foi seu legado maior. Infelizmente, estou convencido de que não será esse o seu legado. Se fosse, com certeza sua beatificação não teria tamanha repercussão. É muito mais festejado como um super-homem ou como um místico reformador da humanidade.
De modo que, diante de uma beatificação tão estrepitosa e controvertida e na expectativa de uma muito provável canonização de João Paulo II em breve impõe-se aos católicos a questão do valor de tal juízo da Igreja.
Creio que o teólogo Bernardo Bartmann é muito feliz na elucidação deste problema. Transcrevo a seguir trechos de sua Teologia Dogmática que explanam o tema.
“A questão da infalibilidade na canonização dos santos, pode-se considerar histórica e teologicamente. Os primeiros santos foram, além dos Apóstolos e Profetas, os mártires, cujos nomes eram escritos pelos bispos no elenco oficial dos reconhecidos pela Igreja. A inserção era feita depois de juízo maduro, acerca da vida anterior do mártir e não se aceitava qualquer um. A propósito dos três primeiros séculos, o protestante H. Achelis observa que os bispos exerciam um controle severo e recusavam os falsos mártires. Mais tarde, aos santos mártires acrescentaram-se os santos “confessores”: Antonio, Paulo, Atanásio, Efrém, Martinho de Tours. Era mais fácil constatar a realidade do martírio, do que a santidade dos confessores: para estes, o povo tomava parte no julgamento, mas ao bispo competia, em última instância, admiti-los nos catálogos.
(…)
Ao dealbar do ano 1000, a Igreja procurou, mediante fórmulas fixas, regular, pouco a pouco, o culto dos santos, mas só o conseguiu de modo definitivo em 1600. Na época pós-tridentina, surgiu a questão teológica. No tempo do Concílio de Trento, Tomás Badia (1483-1547), mestre dos Sacros Palácios, sustentou contra Ambrósio Catarino que a Igreja, ao honrar os santos, podia cair em erro. Afirmava dever crer-se na glória dos santos em geral, não porém na gloria de cada um em particular; afirmava, pois, que era preciso distinguir entre credere ex pietate e credere ex necessitate fidei. Nas canonizações, a Igreja não pode tomar por base a revelação, mas somente os testemunhos humanos, concernentes à vida e aos milagres, testemunhos sempre examinados com grande rigor. A quase totalidade dos teólogos, hoje, considera infalível esse juízo da Igreja mas a tese da infalibilidade da Igreja neste caso é julgada diversamente. Pesch diz que alguns a têm por uma “pia sententia”, ao passo que para outros, entre os quais Bento XIV, é de fé.
(…)
As dificuldades a se resolverem são as seguintes: antes de tudo, não está absolutamente claro se a Igreja quer definir o fato de que o santo em questão tenha chegado à visão de Deus. (…) Enfim – a principal dificuldade - deve-se acrescentar que é impossível, sem uma revelação divina, chegar a uma certeza de fé sobre o estado de graça de uma alma (Trid. S. 6, c. 12, Denz. 805). Acrescente-se que a Igreja, depois da morte dos Apóstolos, não recebe mais nenhuma revelação. A predestinação é um mistério imperscrutável. A Igreja, nas indagações sobre a vida dos santos, baseia-se não sobre testemunho divino, mas tão somente sobre informações humanas e elementos naturais que podem sempre ser subjetivos. Deus pode testemunhar em prol dos santos por meio de milagres. Mas também estes, como a mesma canonização, não têm relação íntima e direta com as verdades reveladas. Acrescente-se que esses milagres só podem reconhecidos por quem neles crê, mas essa fé não é obrigatória. A velha controvérsia sobre se é possível provar um dogma com um milagre que é notório na Igreja foi resolvida negativamente.
(…)
Sheid, tratando da infalibilidade do papa na canonização dos santos, escreve: “A dificuldade do problema está em se encontrar uma prova verdadeiramente satisfatória desta infalibilidade, cuja existência se afirma. (…) Não é por isso fácil estabelecer, de modo claro e probativo, que ela, em toda a sua extensão, entre também no âmbito da infalibilidade da Igreja.”
(…)
Em todo caso, os atos da canonização só podem ser aceitos por fé geral eclesiástica e não por fé divina. (…) Se no número dos santos encontramos algum “falso” santo, como Barlaam e Josafat, o culto relativo que lhes é prestado vai a Deus. Como um rei pode ser honrado num pseudo-embaixador, assim, Deus, num pseudo-santo.[1]”
Para remate, desejaria dizer que sei que corro o risco de ser tachado como antipático e presunçoso escrevendo estas linhas. Mas faço-o como o cumprimento de um dever de consciência, na esperança de que a Igreja, redescobrindo o caminho de sua tradição autêntica, condene o ecumenismo filantrópico maçônico, combata pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, volte a fecundar a sociedade civil pela constituição de sólidas famílias e tudo aquilo de bom que o papa João Paulo II fez possa ser celebrado e o que houve de mau esquecido e confiado à misericórdia divina, da qual todos temos suma necessidade".
Pe. João Batista de A. Prado Costa
Anápolis, 2 de maio de 2011.
Solenidade de São José Operário
[1] Bernardo Bartmann, Teologia Dogmatica, v. 1, p. 68-70, Paulinas, 1962.
Em tempo (Sidney): O texto original (que apenas reproduzimos no Contra Impugnantes), está no site da Associação Civil Santa Maria das Vitórias. Não conheço pessoalmente o P. João Batista — o Nougué, sim, o conhece —, mas parabenizo-o efusivamente por este corajoso artigo, sobretudo no que concerne às ações práticas do papa João Paulo II arroladas nos primeiros parágrafos, pois, acerca do modus da infalibilidade das canonizações, em linhas gerais, estudarei a partir de agora com todo o afinco a questão (pois ocorreu-me uma dúvida lendo o trecho de Bartmann)... De toda forma, sobre as canonizações pós-conciliares, estou com o que diz o Pe. Calderón em A Candeia Debaixo do Alqueire, após algumas páginas em que explica como foram "simplificados" os processos de canonização, que tinham um sentido prudencial profundo: "Ao retirar o fundamento de um rigoroso juízo de ortodoxia doutrinal, tudo o mais perde consistência: não há situação humana em que, com um pouco de imaginação, não se possam descobrir aspectos heróicos; nem há personalidade em que, com um pouco de publicidade, não se encontrem milagres. Depois da brutal simplificação dos processos sob João Paulo II, a Congregação para as Causas dos Santos transformou-se numa fábrica de santos em série para as necessidades pastorais do momento, sendo a principal de todas aureolar de santidade (...) a obra do Concílio".