sábado, 14 de maio de 2011

O sistema das pequenas detrações

Sidney Silveira


Com honrosas exceções, a chamada “vida acadêmica” no Brasil é hoje o mais lúgubre cemitério da inteligência. Não que os que lá estejam sejam propriamente burros, pois a última coisa a dizer de pessoas maquiavélicas é que são burras; mas sem dúvida essas trágicas personagens compõem o quadro de uma singular estupidificação coletiva. Contempladas de uma perspectiva espiritual, são antes de tudo dignas de compaixão, pois se tornaram vítimas do próprio estupor, da autocastração de suas potências superiores. Quem conhece bem as lides dos departamentos acadêmicos (sobretudo nas universidades públicas brasileiras), entende perfeitamente o que digo: politicagem, conluios, favorecimentos ilícitos, detrações e mentiras de todo tipo; enfim, muito pouco há ali que nos remeta ao nobre fim da academia: produzir ciência em sua acepção mais elevada.(1) Com exceção, como se disse, dos heróicos esforços isolados.


Algo análogo se pode dizer de alguns intelectuais católicos hoje atuantes na universidade, nos seminários modernistas ou em institutos de filosofia bancados financeiramente por gente cujo interesse é contrário aos fins da Igreja. Praticam sem nenhum pudor uma espécie particular de bullying (para usar uma expressão em voga) contra estudiosos ligados à Tradição, ou seja, contra os que dizem – publicamente, como é o correto – um veemente “não” às absurdidades doutrinárias, pastorais e litúrgicas da Igreja pós-Conciliar. “Cuidado com fulano, que ele fala mal do Papa”; “Sicrano é cismático porque apóia a FSSPX”; “Aquele outro é sedevacantista enrustido”. Obviamente não se dão o trabalho de destrinchar racionalmente tais assertivas (verdadeiros slogans mentais nos quais escolheram acreditar), nem respondem às objeções, talvez por não quererem ver o tamanho de sua omissão em matéria grave. No fundo, esses choramingas lembram-me uma musiquinha regravada pelo palhaço Tiririca (eleito recentemente deputado federal em nosso maravilhoso sistema político): “O Tunico me bateu!”.


Certamente esses professores não são como os esquerdistas da academia, pois ao menos têm o Evangelho em seu horizonte. Mas, apesar de não chegarem ao nível de baixaria dos esquerdistas, a detração que praticam é mais culpável, pois estão devidamente inteirados acerca do certo e do errado em doutrina moral. Apenas se esquecem disto – seja para defender os seus empregos, seja para não ficar mal com os amigos, seja para não ver a verdade ou sequer inquirir acerca dela, permanecendo assim numa cômoda posição alimentada pelo falso conforto psicológico de quem tapou as narinas para não sentir o odor nauseabundo, de quem fechou os olhos para não ver o óbvio. Quando penso que a inquirição da verdade é justamente o próprio da ciência filosófica que alguns deles estudam, fico assombrado. Estão tornando-se talentos perdidos ou mutilados.


No que diz respeito à minha pessoa, este pequeno sistema de detrações sequer magoa, pois estou vacinado contra atitudes desse tipo, e, ademais, já espero por elas, porque conheço o ônus da independência de ação em tempos moralmente decadentes. Essas pessoas precisarão aumentar bastante o bullying para causar algum estrago, pois as publicações da Sétimo Selo e os cursos do Instituto Angelicum continuarão (se for da vontade de Deus, é claro), assim como os projetos em parceria com outras editoras. Se pelos frutos se conhece a árvore, prefiro deixar que eles falem por si; não vou dar-me o trabalho de me defender de nenhum disse-me-disse.


Tenho é esperança de que algumas dessas pessoas (que nos acompanham atentamente), ao verem que ter coragem não faz mal a ninguém, e que as boas obras impõem-se por si, se imbuam de um espírito mais construtivo e, sobretudo, mais de acordo com a fé que professam.


E deixem de ficar murmurando por aí contra nós, porque pega muito mal para homens feitos...


Em tempo: Observe-se que não reclamo aqui de divergirem de nós (refiro-me agora a mim e ao Nougué), nem de nos acharem pessoas de quem se deva manter certa distância; isso não é problema. Refiro-me a essa atitude de bastidor, de ferir a honra do próximo por trás, como numa punhalada. Atitude próxima da contumélia...


(1) As histórias que conheço são incontáveis. Tenho um irmão professor universitário que vive há anos este ambiente insalubre, e o mínimo que lhe aconteceu foi sofrer um Acidente Vascular Cerebral – AVC, após um período de grande pressão psicológica. Com a graça de Deus, depois de um tempo ele recuperou-se totalmente (não teve seqüelas de nenhuma ordem) e retomou as suas atividades, desta vez escaldado para não ser vítima do mesmo tipo de malefício.