quinta-feira, 31 de março de 2011

A grande arte de tocar violão (III)

Sidney Silveira

Desta vez, com John Williams, acompanhado de orquestra, tocando o famoso Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo. Ouça-se aqui. Biscoito fino, com sabor ibérico. Assim como este aqui, com a prodígio Ana Vidovic interpretando Albeniz — ela que já havia sido indicada em outro post que fazia referência a este link.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Veiculação postergada

Sidney Silveira

Terminei hoje um texto intitulado "Os modos da calúnia", composto a propósito de uma celeuma em que me vi envolvido, em virtude de uma Srª. de uma associação católica de São Paulo, num juízo para lá de temerário, ter-me atribuído um ato — com patente intenção difamatória — que não pratiquei, pois, como se frisou noutro texto, não me julgo articulador dos destinos espirituais alheios, sobretudo naquilo que os melhores teólogos chamam de "matéria opinável", ou seja: aquela em que há margem razoável para discussões. No entanto, dada a incomensurável quantidade de emails que recebi ontem e hoje (alguns de pessoas que pareciam trazer pendente nos lábios a sanguinolenta baba de Caim e gostariam que eu fosse o vingador de suas feridas passadas), decidi não publicá-lo, pelo menos no calor do momento, para não incorrer no pecado de rixa. Fica mais para frente a sua veiculação no Contra Impugnantes, até porque, relendo-o agora, vejo que se aproveita.

Em tempo: Aos que me escreveram encomendando os DVDs da aula do Nougué "Bach e a Harmonia das Esferas", prometo responder até sexta.

terça-feira, 29 de março de 2011

A culpa é do caluniado (I)

Sidney Silveira


Estava eu aqui no meu canto, quietinho, até vir uma distinta Srª. de São Paulo dizer que “articulei” a ida do Pe. Leo Holtz para a FSSPX, sendo isto uma absoluta inverdade. Eu apenas trouxe essa coisa a público para não calar perante um ato a mim imputado que não cometi — e na verdade já tinha posto um ponto final na coisa, no texto anterior. Mas agora mandam-me outra mensagem, escrita por esta Srª. ao mesmo grupo católico, justificando-se a partir da premissa de que, sendo a minha opinião favorável à saida do Pe. Holtz para a FSSPX, eu jamais poderia considerar como “calúnia” a informação (dada caridosamente por ela) de que eu articulei tal saída, "pondo com isto fim à primeira paróquia pessoal no rito antigo no Brasil", em suas generosas palavras. Antes, eu deveria agradecer a ela por isto!


Para se ter idéia desta espetacular lógica de carvoeiro, analogamente é como se alguém divulgasse por email a um grupo de pessoas que a minha mãe é prostituta (sem o ser), mas se desculpasse do ato dizendo não ser uma informação caluniosa porque a minha mãe, presumivelmente, tem ótima opinião sobre a prostituição... Deus do céu! Muito triste essa história toda, pois bastava simplesmente reconhecer — interiormente, e não para mim, que não estou mendigando alheias desculpas — que cometeu um erro imputando a alguém um ato que não cometeu.


Pois bem, em teologia moral, a calúnia não é especificada pela opinião do caluniado sobre os fatos publicamente relatados pelo caluniador, mas é algo bastante objetivo: calúnia é a atribuição a alguém, com intenção difamatória, de atos objetivamente não cometidos. Ela anda de braços dados com a detração, como teremos oportunidade de verificar. Em suma, o essencial (ou, como diria um aristotélico, o “próprio”) da calúnia é pura e simplesmente divulgar inverdades sobre uma pessoa, e a intenção difamatória é tanto mais patente quanto mais facilmente seja possível verificar o equívoco da informação. No meu caso, bastava a ela informar-se devidamente com as pessoas — tanto do Rio como de São Paulo — que são próximas a ela e me conhecem, as quais poderiam perguntar-me se era verdade ou não a minha participação na saída do Pe. Holtz da Diocese do Rio. Simples assim. Mas para que ter o trabalho de checar a informação?


Pois bem, como a definição de “calúnia” acima mencionada vai além dos manuais de teologia moral para principiantes, pois requer uma ida aos princípios, escreverei quando tiver tempo — provavelmente de hoje para amanhã —, sem açodamento, uma resposta que prometo será final, de minha parte. Só não o faço agora porque estou trabalhando, e ninguém paga as minhas contas.


E, à referida Srª., digo desde logo: não lhe quero mal algum, e também não pretendo “intimidá-la” (como a Srª. disse em sua segunda mensagem ao tal grupo), pois na verdade não mato nem uma mosca.


Vou apenas defender-me, pois é meu direito natural, aproveitando a ocasião para trazer à luz o que é, em sentido próprio, uma calúnia, se ela é pecado e, por fim, se é pecado mortal, desses que retiram a graça no ato. E, como a Sra. escreveu caridosamente que eu fui ao tomismo pulando o Catecismo, não me queira mal se porventura escapar-me alguma socrática ironia... Vou esforçar-me para que não.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Enfim, novos DVDs prontos



Sidney Silveira

Finalmente, acabei a impressão dos primeiros DVDs da aula do Nougué "Bach e a Harmonia das Esferas", que custará R$ 39,00, mais o frete por SEDEX (com o qual trabalhamos). Os interessados podem encomendá-lo pelo email curso@edsetimoselo.com.br, dizendo o número de DVDs que desejam adquirir e o endereço de envio, para calcularmos a postagem. Agradeço penhoradamente aos que apoiarem mais este projeto.

Pe. Leo Holtz e uma calúnia feia e gratuita contra este escriba

Sidney Silveira


Alguns amigos, que conhecem muito bem o meu caráter, repassaram-me agora pela manhã uma mensagem de uma Srª. ligada a um grupo católico de São Paulo, na qual ela afirma, de um modo enviesado, que eu “articulei” a ida do Pe. Leonardo Holtz para a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, conclusão tirada do simples anúncio, aqui no blog, da saída do referido sacerdote da Arquidiocese do Rio de Janeiro para ingressar em águas doutrinariamente sãs, como são as da FSSPX. Deus do céu, que pecado mortal!!!! Pecado de detração e de calúnia. Pecado que retira no ato a graça. Espero, de coração, que a dita Srª. se arrependa e confesse a Deus, por meio do seu diretor espiritual (se o tem), tal ato caluniador contra a minha insignificante pessoa, e isto não por mim — que nem a conheço e, desde já, a perdôo —, mas para entrar novamente na graça, que é inchoatio gloriæ.


Só menciono de público isto aqui porque não sei a quantas pessoas chegou a calúnia, e porque, a esta altura da minha vida, não vejo razão para levar uma pecha que simplesmente não me cabe: a de articulador dos destinos espirituais alheios.


Para a devida informação desta Srª. e de todas as pessoas que a leram, digo o seguinte: até a sexta-feira em que o Pe. Holtz veio a minha casa para benzer uma estátua de Sto. Tomás de Aquino, eu sequer o conhecia!!!! Nunca, jamais, em tempo algum, eu o tinha visto, falado com ele ao telefone ou trocado emails. Foi por intermédio de um amigo (que sequer é da FSSPX, e nem pertence a qualquer grupo ou seita dos que pululam na Igreja hoje, após a tragédia conciliar e pós-conciliar) que bondosamente o Pe. Holtz veio a minha casa fazer a bênção, e a ele muito agradeço por isto. Na ocasião, ele falou-me dos seus motivos para dar este passo rumo à FSSPX, e eu os compreendi totalmente — e com eles concordei, integralmente. Mas, ao contrário do que afirmou esta mulher que sequer conheço, não tive a mais remota participação nisto, até porque a decisão já estava tomada e comunicada ao Arcebispo do Rio de Janeiro. Portanto, dizer que eu “articulei” a ida do Pe. Holtz para a FSSPX é pura e simples mentira caluniosa, um testemunho falso. Pecado mortal, por ser frontalmente contrário ao Oitavo Mandamento, ainda que a pessoa detratada seja um zé-ninguém como eu. Se nisto eu estiver mentindo, que Deus me condene ao inferno!


Vale no entanto fazer uma advertência: para qualquer pessoa com dois neurônios solitários — que seja leitora dos textos do Contra Impugnantes, dos livros da Sétimo Selo e que acompanhe as nossas aulas em vídeo —, nunca houve a mais ínfima sombra de dúvida de que tanto eu como o Prof. Nougué apoiamos doutrinariamente a FSSPX, embora a ela não pertençamos formalmente. A única chance de que deixássemos esta posição pessoal seria se ocorresse um acordo da Fraternidade com as autoridades romanas que fosse contrário à Tradição. Coisa que, depois de Assis III, da beatificação a jato de J. Paulo II y otras cositas más, queira Deus não ocorra, pois a resistência católica se perderia totalmente.


Agora, um conselho (sobretudo aos jovens que buscam aprofundar a sua fé): não participem de nenhuma dessas listas de discussão de internet, que não levam a absolutamente nada, ou melhor: muitas vezes são ocasião de pecados graves e de fomento a seitas ou grupos que não conseguem pensar senão contemplando o próprio umbigo. Estudem. Estudem. Estudem com a liberdade que Deus deu à sua vontade e pedindo-Lhe luzes para a inteligência. E sejam simples como as pombas e prudentes como as serpentes, pois estamos numa babel intraeclesiástica diabólica.


Por fim, a esta Srª. cujo nome não cito para não alimentar mais querelas, reitero: nada fiz do que afirma. Nada articulei. Sequer conhecia o Pe. Holtz até a última sexta-feira. Apenas o ouvi por ocasião de sua cortês visita à minha casa, e concordei inteiramente com a sua decisão. E digo mais: eu teria chegado à mesma conclusão antes. Mas de uma coisa a Srª. pode acusar-me: de não ser um avestruz com a cabeça metida na lama... Mas jamais, como a Srª. escreveu a uma dessas listas de discussão, de “articulador do fim da primeira paróquia pessoal do rito antigo no Brasil”.


O que escrevo agora é com o coração serenamente fito em Nossa Senhora, minha Mãe, minha Protetora. Dito isto, sigamos em frente.

sábado, 26 de março de 2011

A bênção da estátua e o Pe. Leonardo Holtz, da FSSPX



Sidney Silveira

Nesta sexta-feira (25/03), recebi a visita do Padre Leonardo Holtz, que (acompanhado de seu pai) veio a minha casa para benzer a estátua de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico — que agora tem uma linda representação de cerca de 15 kg bronze maciço, em belíssima obra assinada pela escultora Sonia Cotecchia. Na ocasião, o Pe. Holtz informou-me que, enfim, deixou a Arquidiocese do Rio para ingressar na Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Após o relato dos seus motivos, não pude senão concordar inteiramente com eles, pois na verdade é mais do que patente o seguinte: na Igreja mainstream, os melhores são hoje boicotados, impedidos de exercer o seu múnus sacerdotal em nível de excelência. Ao ouvir o Pe. Holtz, lembrei-me de uma frase do filósofo Julián Marías, que dizia ser o nosso tempo caracterizado pelo ódio à excelência (embora se referisse o pensador espanhol ao mundo, ao passo que hoje isto ocorre, dramaticamente, no meio eclesiástico, que deveria ser a luz do mundo).

Faço votos, Pe. Holtz, de que Nossa Senhora acompanhe e santifique esta nova etapa de sua vida. A propósito, daqui a alguns meses o sacerdote passará uma temporada de estudos em La Reja, no Seminário da FSSPX na Argentina, onde terá aulas com ninguém menos que o Pe. Álvaro Calderón — a meu ver, o maior tomista da atualidade, em todo o mundo. Para quem não sabe, um teólogo que, além de grande metafísico, é físico nuclear...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Angueth inspirado...

Sidney Silveira
Boa, Angueth! Leiam esta aqui.

Os dizeres da estátua

Sidney Silveira
Por email, perguntam-me que dizeres são aqueles no busto de bronze de Santo Tomás. É uma espécie de cópia do manuscrito da obra Principium Rigans Montes, do Aquinate. Trata-se de uma alusão ao Salmo 103, no trecho que diz: Rigans montes de superioribus, suis de fructu operum tuorum satiabitur terra. "Regas os montes das alturas, com o fruto de tuas obras será saciada a terra".
Em tempo: Direi jocosamente à escultora Sonia Cotecchia que a minha casa corre o risco de virar ponto de peregrinação; em apenas dois dias, 10 pessoas já se ofereceram para ir lá ver essa bela obra...

terça-feira, 22 de março de 2011

É a guerra contra a Líbia uma guerra justa?

Menino iraquiano, após ataque a Bagdá


Carlos Nougué

Resumamos a doutrina de Santo Tomás de Aquino a respeito da guerra justa. Segundo ele, para que uma guerra seja justa, é preciso que se cumpram as seguintes precondições:

1) Que a causa que a move seja justa. Assim, não é justo fazer guerra para impor uma fé, como fazem os muçulmanos; conquanto seja justo mover guerra para permitir o exercício da fé verdadeira ou católica, como fizeram os cruzados.[1]

2) Deve ser reta a intenção de quem faz a guerra, ou seja, deve-se ter a intenção de fazer com que retorne a justa paz e a verdadeira ordem.

3) A guerra deve ter possibilidade de êxito, sob pena de nem ser guerra, mas mera sedição, revolta, etc. Foi o que fizeram os essênios e outros ao revoltar-se contra o Império Romano, sem a menor possibilidade de vitória.

4) Mais que isso, porém: ainda que movido por uma justa causa e intenção, e com possibilidade de vitória, aquele que guerreia não tem direito de usar de mentiras. Naturalmente, não deve revelar seus planos táticos ao inimigo. Mas uma coisa é não revelá-los; outra é mentir, que é pecado em qualquer situação. Assim, ao que parece, o estratagema de Pearl Harbor já condenaria os EUA por abuso do direito de guerra.

Mas, antes de considerarmos a atual guerra contra a Líbia, movida por poderosa coalizão internacional, consideremos, para efeitos de comparação, a Guerra do Iraque.

1) Era justa a causa da guerra contra o Iraque? Ainda que demos (mas sem conceder) que, sim, era justa, por tratar-se de impedir novos ataques como o levado a efeito contra as torres gêmeas, não o era por outro ângulo: o de impor o regime democrático-liberal. Isto é guerrear para impor uma espécie de fé ― e fé falsa. Com efeito, dizia São Pio X na Carta sobre Le Sillon: “A democracia é uma religião mais universal que a Igreja [...]. Resulta do grande movimento de apostasia organizado em todos os países para o estabelecimento de uma Igreja Universal que não terá dogmas, nem hierarquia, nem regra para o espírito, nem freio para as paixões”.

2) Tinha Bush intenção reta ao mover a guerra? Embora seja quase infantil acreditar que não fosse movido também por interesses econômicos os mais mesquinhos, [2] demos outra vez (novamente sem conceder) que não se movia por tais interesses.

3) Tinham os EUA possibilidade de vitória? Sim, é claro.

4) Mas é óbvio que tais “dares” se dissipam ao considerar-se que, em verdade, a alegada e propalada razão imediata da guerra era já uma grande mentira: a fabricação pelo Iraque de armas químicas. (Afora o fato de nunca, até hoje, se terem apresentado provas da suposta ligação direta entre Bin Laden e Saddam Hussein.) Isto, de per si, por ser mentirosa a própria alegada razão imediata da guerra, já macula a ação dos EUA e seus aliados.

5) Ademais, não sabiam os EUA que a situação interna do Iraque se tornaria pior, sem paz nem ordem, com a queda do presidente daquele país? Quem não sabia que, se Saddam não tivesse sido duro para conter a guerra fratricida das facções islâmicas rivais, incluindo os sanguinários curdos, o Iraque já seria sob Saddam o que é hoje: um território banhado de sangue do fanatismo de uma falsa religião?

6) Mas, como se disse, se não interesses econômicos petrolíferos, pelo menos moveu os EUA a atacar o Iraque a tentativa de impor o credo liberal-democrático. E isso também torna injusta a guerra em questão, porque não era intenção de Bush reinstaurar ali a ordem e paz. Estas, por certo aspecto, já se davam sob o governo de Saddam; ao passo que, como se pode ver perfeitamente hoje, o estado de coisas depois da guerra e do justiçamento de Saddam seria previsivelmente pior que o anterior. Tampouco, portanto, foi justa a guerra no Iraque por este ângulo: intenção não reta, e ao menos grande probabilidade de um estado pior que o anterior.

7) Além disso, pensemos: o regime de Saddam era o único regime islâmico que dava razoável liberdade à Igreja (havia até um ministro católico). O que sucedeu após a queda e morte de Saddam? O massacre sistemático dos católicos iraquianos. E quem é o principal aliado dos EUA no mundo árabe? A monstruosa Arábia Saudita, lugar de grande perseguição dos católicos.

8) Ademais, não sejamos ingênuos: tanto Saddam como Bin Laden eram agentes dos serviços secretos norte-americanos. Depois, naturalmente, os EUA perderam o controle sobre eles. Sucedeu algo semelhante ao ocorrido no Irã: para derrubar o xá Reza Parlevi, que estava montando a maior frota do Golfo Pérsico, os serviços secretos britânicos estimularam sua derrubada pelo movimento xiita. Depois, é claro, perderam o controle sobre os aiatolás; mas foram a causa primeira da ascensão destes.[3]

Ou seja, a Guerra do Iraque não foi uma guerra justa.

Consideremos agora a atual guerra contra a Líbia.

1) Diga-se de antemão que Kadafi é um perfeito tirano, e que sob sua tirania a fé católica não pode propagar-se, o que de per si, pelo que dissemos, já torna seu regime ilegítimo.

2) Perguntemo-nos, porém, sobre os móveis da guerra movida pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, com apoio (relativo) da chamada Liga Árabe e com abstenção (afinal de contas, conivente) da China, da Rússia, etc., na ONU. Podemos dar (ainda sem conceder), também aqui, que tal coalizão não se mova de modo algum por interesses econômicos mesquinhos...

3) Mas pode-se dar que seu móvel central seja outro senão a progressiva instalação no mundo da democracia liberal, importante alicerce para a ereção de um efetivo governo mundial? É verdade que, na marcha para tal governo, podem as forças que concorrem para sua constituição absorver as Chinas e as Arábias Sauditas da vida (por sua importância para a manutenção do capitalismo internacional, que por sua vez é alicerce fundamental da democracia liberal), neutralizando-as no bojo de tal impulso. Mas também é verdade que, se puderem livrar-se das pedras no sapato de sua religião universal, os condutores da globalização certamente o farão, como agora estão fazendo com uma série de governos tirânicos do mundo árabe-africano, entre os quais se inclui o de Kadafi. Só por isso já se pode dizer injusta a guerra movida contra a Líbia: ela tem por fim a instauração pela força de uma fé – e de uma falsa fé.

4) E que dizer da sucessão de mentiras sobre as quais se fundam os argumentos dos atacantes?

a) Kadafi é, sim, um tirano; mas não o são também os governantes de diversos países aliados da coalizão que ora ataca a Líbia, como o da Arábia Saudita?

b) Kadafi está atacando populações civis ou está atacando grupos rebeldes?

c) Os ataques aéreos da coalizão atacante não atingem alvos e populações civis?

d) A ação militar da coalizão atacante visa apenas a bloquear o espaço aéreo da Líbia?

e) Essa mesma ação militar não visa a derrubar nem a matar Kadafi?

5) Tal sucessão de mentiras, de per si, já macula a guerra movida contra a Líbia, e faz ao menos suspeitar que seja movida também por mesquinhos interesses econômicos.

6) Mas, acima de tudo, não se deve perder de vista que o que move centralmente esta nova guerra levada a cabo pela atual liderança mundial é o próprio vetor da história em seus estertores: a marcha para um governo mundial anticristão, democrático-liberal – o cenário do surgimento do Anticristo. E não é preciso que os governantes dos EUA, de Israel, da França, etc., bem como os papas pós-conciliares, tenham consciência de que sua ação conduz à entronização desse tenebroso e apocalíptico personagem, por meio do qual os poderes infernais tentarão derrotar total e definitivamente a Realeza Total de Nosso Senhor Jesus Cristo. Basta que ajam, de algum modo, segundo tais poderes.

E, com efeito, ou se está sob a bandeira de Cristo Rei e sua Igreja (não a Igreja do homem), ou se está sob o pavilhão de Satanás. Tertium non datur: não há terceira possibilidade.

Adendo: Tampouco pode o vencedor de uma guerra castigar o derrotado em proporção maior que a de sua agressão. No máximo o olho por olho, dente por dente. Ora, as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki eram imensamente desproporcionais ao dano causado pelo derrotado (que, aliás, já estava realmente derrotado quando sofreu o holocausto nuclear): a bomba atômica não mata apenas inimigos; afeta parte da natureza humana, degenera-a ao longo de gerações. Crime inominável, que clama ao céu por vingança. E crime cometido contra as duas únicas cidades japonesas com catedrais católicas; cidades compostas de grande maioria de xintoístas convertidos ao catolicismo. Como já se disse, se não tivessem ganhado a Segunda Guerra Mundial, os EUA é que se teriam sentado no banco dos réus de algum tribunal como o de Nuremberg. Com efeito, pode alguém honestamente afirmar que bombas atômicas são menos criminosas que câmaras de gás ou que gulags?



[1] Diga-se, aliás, que um governo não cristão perde a legitimidade no momento mesmo em que começa a impedir a propagação da verdadeira fé.

[2] Com efeito, como acreditar em tal desinteresse se acabamos de ler que, segundo o megainvestidor Warren Buffett – o terceiro homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes –, as ações japonesas são bons investimentos após o dramático terremoto e tsunami que arrasaram o Japão, sobre cuja cabeça, ademais, pende a espada de Dâmocles de uma catástrofe nuclear... Assim é o mundo iniciado pela revolução industrial inglesa e pela lei de Le Chapelier (da revolução francesa), que esmagaram tanto a produção artesanal e as unidades camponesas familiares quanto as corporações de ofício. Nem é preciso dizer que, com tal esmagamento, se esmagaram também a família e toda uma ordenação socioeconômica ainda reta.

[3] Nada de surpreendente, se pensarmos que foram os ingleses, mediante Lawrence da Arábia, quem forjou os estados nacionais daqueles beduínos do deserto que constituíam grande parte do povo islâmico; e o fizeram para derrotar seus inimigos na Primeira Guerra Mundial, ainda que à custa da islamização de boa parte da terra. E não nos esqueçamos, sobretudo, de que foram os EUA quem pressionou a União Europeia a aceitar em seu seio a islâmica Turquia (que sempre fora considerada da Ásia Menor); e, especialmente, quem fez de tudo para que os países europeus aceitassem a entrada maciça de imigrantes muçulmanos. Por quê? Será preciso repetir o óbvio? Para acabar com o que restava de Cristandade. (Aliás, já a Primeira Guerra Mundial não se dera, essencialmente, para acabar com o que já então era o único império católico, o Austro-Húngaro? E a revolução bolchevique também não ocorrera para acabar com o Império czarista, não católico, é verdade, cismático, é verdade, cesaripapista, é verdade, mas ao fim e ao cabo cristão aos olhos do inimigo? E não ocorrera a sanguinária revolução francesa para acabar não só com a monarquia, mas sobretudo com a Igreja Católica e sua união com os poderes temporais? E assim por diante.)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Santo Tomás em bronze, obra única!




Sidney Silveira
Estou aqui às lágrimas — que não consigo conter! —, pois me chegou ainda há pouco a obra de arte encomendada à escultora Sonia Cotecchia: um Santo Tomás em bronze maciço! Obra única no mundo. A artista fez um trabalho minucioso, estupendo, seguindo de perto as minhas instruções e as do meu querido amigo Luiz Astorga, ao longo de alguns meses. Sem palavras para descrever a emoção que toma conta de mim neste momento, apenas compartilho as imagens acima, tiradas do meu celular (numa delas, ao fundo, Boécio, o gato da casa...). Agora é trazer um bom sacerdote aqui para benzê-la, arrumar um móvel adequado e um spot de luz que valorize este magnífico trabalho. Obrigado, Boi Mudo! Obrigado, Sonia!

Ainda sobre Barrios

Sidney Silveira
O Nougué manda-me um email agora dizendo que John Williams, um dos maiores intérpretes de Bach ao violão — discípulo de Andrés Segovia — afirmava o seguinte: Agustín Barrios é melhor que muita gente, incluindo o nosso Villa-Lobos. Eu bem sabia disto porque um tio meu, que foi violonista clássico, vivia dizendo que Barrios era um grande gênio, e acabou convencendo-me... Pois bem, procurando, achei um vídeo antigo em que Raphael Rabello, em casa, "brinca" de tocar Barrios (no caso, Las Abejas). Ei-lo aqui. Mas há muito mais coisa a ouvir. Como ainda continuo recebendo emails acerca de duas postagens anteriores — esta e esta —, com muito gosto divulgo o nosso Raphael exercitando-se, ainda que descompromissadamente (sem estar no andamento normal da música).

Evento do último sábado



Sidney Silveira
Agradeço penhoradamente aos amigos que me convidaram para o evento do último sábado, quando se abordaram os temas metafísica do pecado e existência dos Anjos. Falar durante 6 horas foi uma experiência inédita para mim... Mas, malgrado as imperfeições e dificuldades intrínsecas do expositor ao tratar de assuntos tão complexos, acho que valeu. Por fim, como não poderia deixar de ser, agradeço a todos os que se dispuseram — num dia de sábado de sol no Rio de Janeiro — a comparecer ao encontro. Assim como aos amigos que vieram de Juiz de Fora.

Autoridades eclesiásticas contra a piedade...

Sidney Silveira
Quando o Pe. Calderón afirma, no livro A Candeia Debaixo do Alqueire ("encomendável" pelo email rosangela@edsetimoselo.com.br), que o maior drama do católico tradicional hoje é defender a Autoridade [de Cristo] contra as autoridades [eclesiásticas], é mais ou menos disto que está falando — entre inúmeras outras coisas, é claro. Ser católico hoje, na Igreja, é um grande desafio, que ninguém duvide...

domingo, 20 de março de 2011

A grande arte de tocar violão (II)

Sidney Silveira
Mal acabei de postar o texto anterior, recebi emails de pessoas querendo saber um pouco mais sobre Barrios. Bem, para terem mais uma idéia da beleza de suas composições, disponibilizo um dos movimentos de sua obra-prima, La Catedral, interpretada por uma das maiores violonistas do mundo na atualidade: a jovem croata Ana Vidovic. O vídeo está aqui. Assim como na interpretação indicada no post anterior, por Ioana Gandrabur, esta é também maravilhosa.

A grande arte de tocar violão

Sidney Silveira
Compartilho com os nossos amigos uma interpretação não menos que sublime de Una Lismosna por el Amor de Dios, do genial Agustín Barrios, pela violonista cega Ioana Gandrabur. O vídeo está aqui.

sexta-feira, 18 de março de 2011

"TV" Contra Impugnantes: A Metafísica da Virtude

Sidney Silveira

Disponibilizo para os nossos leitores e amigos, neste link, mais um trecho de aula — ministrada em novembro do ano passado.
Em tempo: Ainda há vagas para a palestra de amanhã, para a qual os interessados devem enviar uma mensagem de confirmação para o email referido neste outro link.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A prova da existência dos Anjos, pelo argumento de razoabilidade

Sidney Silveira

Uma premissa reiterada em diferentes obras por Tomás de Aquino é a seguinte: depois da bondade divina — que é um fim transcendente e independente das coisas —, o principal bem que pode haver é a perfeição do universo, que não haveria se, nele, não houvesse graus de ser. Ora, cabe à inteligência divina produzir o ser em todos os graus, por criação; por conseguinte, como a inteligência divina é perfeitíssima em máximo grau, o universo há de ser perfeito, pois a perfeição dos efeitos é proporcional à perfeição da causa de que provêm*.

Antes de prosseguir, convém fazer uma distinção: perfeito é aquilo que, para ser o que é, não lhe falta nada. Assim, um homem perfeito possui não apenas as notas distintivas de sua essência (as faculdades da inteligência e da vontade), mas também todo um conjunto de características genéricas e específicas que distinguem as potências que pode atualizar, sem as quais não seria perfeito. Ora, uma das potências da alma humana é a motriz; sendo assim, se num homem x essa potência anímica é reduzida drasticamente, ele não será perfeito. Por exemplo, um homem a quem faltem as duas pernas é imperfeito no tocante a este aspecto, o que quer dizer o seguinte: embora ele continue perfeitamente homem (pois mantém as notas essenciais distintivas de sua forma entitativa), é um homem imperfeito. E o mesmo se pode dizer de um cego, etc. Repitamos: perfeito é o que, para ser o que é, não lhe falta nada.

Retomemos a premissa inicial. A perfeição do universo é, depois da perfeição divina, o maior bem que há, e este bem se observa na gradação de ser que constitui a incomensurável riqueza do universo. Ora, um dos graus de ser é justamente o da potência intelectiva, ou seja, esta possibilidade (e tendência) que alguns entes possuem de assimilar imaterialmente a forma das coisas, sendo isto, propriamente, o conhecimento. No homem, esta potência se dá de forma imperfeita e finita, pois ele precisa instrumentalmente dos sentidos corpóreos para atualizá-la, dado que o primeiro grau de intelecção em nós se refere à essência das coisas materiais (quidditas rei materialis). Logo, se entre o homem e Deus não existissem entes espirituais totalmente incorpóreos, haveria, nesta gradação de ser que observamos no universo, um grande hiato. Sendo assim, é preciso admitir a existência destas criaturas imateriais independentes da instância corpórea — que para a teologia são os Anjos, e para a metafísica são as substâncias separadas da matéria.

Outro argumento: no tocante ao ser das coisas existentes no universo, o perfeito tem precedência ontológica com relação ao menos perfeito (por ex.: o mais quente em relação ao menos quente). Ora, existindo um tipo de inteligência de per si dependente do corpo para conhecer (como a alma humana), é conseqüente e lógico concluir que haja, na ordem do ser, um tipo de inteligência mais perfeito, não dependente do corpo para entender. E esta é a inteligência angélica.

A força desta prova por razoabilidade — ou por argumentos de conveniência, como a chamam alguns — aumenta quando aquele que depara com ela já está na posse da prova apodítica da existência de Deus, e possui o conhecimento dos Seus atributos. Neste caso, a conclusão se torna absolutamente evidente, porque a sua contrária — a proposição da não-existência das criaturas imateriais — seria absurda. Mal comparando, seria como imaginar a existência de um computador que funcionasse sem HD, sem placas, sem memória, sem processador e sem quaisquer componentes eletrônicos. Não à-toa, no final dos textos em que faz referência à prova, o Santo Doutor usa fórmulas como: “É necessário à razão admitir a existência destas criaturas espirituais...”.

Façamos ainda o seguinte raciocínio disjuntivo, a partir do que foi dito anteriormente:


1- Ou os Anjos existem (e perfazem a harmonia que observamos na maravilhosa gradação de ser que há no universo, criado à Imago Dei), ou a sabedoria divina não é perfeita.

2- Ora, é perfeitíssima a sabedoria de Deus, ordenadora de todas as coisas criadas em vista da absoluta perfeição do universo, espelho da Sua própria perfeição.

3- Logo, os Anjos existem.


Reitero: a prova ganha força demonstrativa apenas depois de adquirir-se o conhecimento apodítico (ou seja, científico, no sentido formal) da prova da existência de Deus, e dos Seus atributos, aos quais se chega dedutivamente com máxima certeza.

* Que a gradação e variação que observamos no universo é um grande bem é algo que salta aos olhos, para qualquer pessoa não devotada à estupidez. Assim, a riqueza das incontáveis propriedades que há nos alimentos é, comprovadamente, um bem para a nossa saúde, dadas as nossas necessidades protéicas e vitamínicas para viver. Poderíamos enumerar os exemplos ad nauseam. Mas seria antieconômico...

Em tempo: Esta é uma breve introdução à aula deste sábado sobre os Anjos.

terça-feira, 15 de março de 2011

Potência e omnipotência (I)

Sidney Silveira

Ao nobre amigo Luiz Astorga.

Em sentido metafísico, potência é um possível no Ser. Ou, noutra formulação, o Ser é a raiz primária de todas as potências, o horizonte possibilitante dos entes e de seu devir — ou seja, de todo e qualquer trânsito da potência ao ato*. Ponho o Ser em maiúscula porque, aqui, a referência não é o ente (necessariamente composto de ato e potência, essência e ser, substância e acidentes, etc.), mas o Próprio Ser Subsistente que é Deus, o qual é simplícimo e não tem potência para não-ser, quer dizer, não possui nenhuma potência passiva, nenhuma potência para receber atualizações formais de outrem, dado que Ele não pode deixar de ser o que é**. O Próprio Ser tem, no entanto, potência ativa: são as idéias na mente divina — omnipotente na medida em que Deus pode tudo o que é possível no Ser. Em suma, a omnipotência significa exatamente isto: o absoluto poder da inteligência e da vontade divinas de realizar qualquer coisa na ordem do Ser, pois fora do Ser (ou seja: d’Ele próprio!) nada é possível e não há potências que se possam atualizar. Convém ressaltar que a potência ativa absoluta de Deus está na Sua inteligência e na Sua vontade, ambas imateriais, justamente porque Ele não tem composição de matéria.

Neste contexto, diga-se que a inteligência divina, que é potência ativa absoluta, quando pensa cria instantaneamente a coisa pensada. Fiat lux. Et facta est lux. Assim, se não houvesse a potência absoluta e criadora da mente divina, não haveria entes e, a fortiori, nenhuma outra potência (ativa ou passiva) além da omnipotência ativa do Próprio Ser. Por isto, se “eu sou”, e, sendo, posso atualizar estas ou aquelas potências radicadas na minha forma entitativa, isto se deve em primeira instância à omnipotência da mente de Deus, que participou o ser aos entes por criação — sendo esta, como diz Santo Tomás, uma “novidade no ser”. Em resumo, há uma radical dependência das potências ativas e passivas nos entes criados com relação à potência ativa absoluta, criadora e mantenedora, da inteligência divina; aquelas não existiriam sem esta, e mais ainda: metafisicamente, o Ser as mantém (o que se explicará noutro texto da série, ao se abordar isto que Tomás de Aquino chama de potentia obedentialis). Neste contexto, vale ainda frisar que a omnipotência só poderia caber a um Ser absoluto e infinito, e este é o Próprio Ser Subsistente chamado por alguns metafísicos de Ente Necessário, sem o qual nenhuma contingência seria possível. A prova da existência de Deus nos leva a este conhecimento.

A atualização da omnipotência divina se dá, entre infindáveis outras coisas, no milagre, evento extraordinário que extrapola as potências naturais dos entes. Ou seja, que a sarça de fogo tenha falado a Moiséis foi algo possível no Ser (cf. Gênesis, III, 4), mas este trânsito específico da potência ao ato não radicou nas potências ativas ou passivas da sarça de fogo, e sim na omnipotência ativa do Próprio Ser. Reiteremos, pois: potência é, primordialmente, um possível no Ser, e frisemos neste ponto que, ao definir a potência tomando como base a omnipotência do Próprio Ser, procuramos seguir de perto a Santo Tomás adotando uma premissa reiterada na Suma Teológica e noutras obras, segundo a qual as coisas são o que são em relação ao seu máximo: o bom e o mau o são em relação ao Bem; os entes e as privações o são em relação ao Ser; e a potência o é, proximamente, em relação ao ato de ser em que radica, mas primária e fundamentalmente em relação à omnipotência do Próprio Ser. E como, no plano metafísico, o mais perfeito tem precedência com relação ao menos perfeito, daí se segue que a potência se diga, primeiramente, da omnipotência do Próprio Ser a quem chamamos “Deus”. Em relação a esta, todas as demais potências serão relativas e estarão contingenciadas ou pela forma, ou pela matéria ou pelo ato de ser dos entes.

E mais: ser “ativa” ou “passiva” são distinções posteriores do conceito de potência. Ademais:

Ø É próprio de Deus (ser simplícimo, não composto) ter potência ativa absoluta. Esta omnipotência é a primeira de todas as potências na ordem do ser, e provém da forma perfeitíssima d’Aquele cuja essência é ser em sentido absoluto (esse simpliciter). Em Deus, a essência é Ser, e a este Ser infinito convém uma infinita potência.

Ø É próprio dos entes compostos matéria e forma (nos quais a essência não se identifica com o ser) ter potências radicadas e limitadas por suas respectivas essências, que são o receptáculo do ato de ser.

Ø É próprio dos entes compostos apenas de essência e ser (os Anjos, que não têm composição de matéria em sua forma) ter potências ativas em relação a todos os entes da ordem do Ser, excetuando Deus, em relação ao qual possuem potência passiva — como por exemplo para receber novas formas inteligíveis.

Estas distinções são absolutamente necessárias na medida em que muitos metafísicos, ao longo de séculos sem fim, identificaram em sentido absoluto os conceitos de potência e matéria. Para estes, matéria e potência seriam sinônimos perfeitos, na medida em que a matéria primeira seria a pura potência para receber todas as formas. Outros, de modo análogo, disseram que a potência está na matéria como em seu sujeito. Ambos os casos padecem de materialismo, pois estas posições levam a aporias insanáveis, como por exemplo o fato de que, se assim fosse, não existiriam potências atualizáveis imaterialmente — o que não é verdadeiro. Reitere-se, pois, que a potência está na matéria acidentalmente, mas não essencialmente. Se a potência radicasse na matéria, Deus não teria potência nenhuma, o que não é correto porque ele é potência ativa infinita, absoluta.

* Nunca é demais lembrar que o movimento, ou seja, o trânsito da potência ao ato, radica sempre em algum ato de ser, pois o que não está na plena posse formal do ser não possui potência alguma, pois o não-ser nada pode operar ou atualizar. Aristóteles já dizia, neste sentido, que o ato é radicalmente anterior à potência.

** A propósito, alguns dos principais biógrafos de Santo Tomás contam que, ainda menino em tenra idade, ele se saiu com a seguinte pergunta a um religioso: “O que é Deus?”. Pode-se dizer que o grande Santo e Doutor passou a vida inteira buscando respostas a esta pergunta.

*** Convém frisar que a omnipotência divina não implica que Deus possa fazer o formalmente impossível, como o Nougué explica muito bem no DVD “O Tempo e a Eternidade”, da série A Síntese Tomista. Deus não poderia absurdamente contrariar a ordem implicada no seu Próprio Ser:

a) Ele não poderia não-ser;

b) Ele não poderia pecar, praticando o mal;

c) Ele não poderia fazer com que o passado não tenha sido; etc.

Nenhuma destas impossibilidades diminui a sua omnipotência, pois na verdade todas elas são privações.

(continua)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Evento tomista no próximo dia 19/03, no Rio (0800)

Sidney Silveira

Aceitei um convite de um grupo de Amigos da Montfort aqui do Rio, para participar de um evento que se realizará no próximo dia 19/03 (sábado), na Av. Rio Branco, nº 81, 19º andar, Centro. Serão duas aulas, e o programa é o seguinte:

De 9h às 12h:

1- A METAFÍSICA DO PECADO (da impecabilidade de Deus à realidade homem caído).

Das 14h às 17h:

2- OS ANJOS, REALIDADES SUPRAMATERIAIS (sua existência e operações).

O evento é livre, ou seja: custo zero! Portanto, todos os amigos do Rio de Janeiro ou de cidades próximas que quiserem participar estão, desde já, convidados. Pedimos apenas que confirmem presença (para o local ser preparado adequadamente) com Paulo Vítor, no seguinte email: amigosmontfortrj@gmail.com

Como o local comporta no máximo 50 pessoas — e não temos bem idéia de como será a procura — é conveniente para os interessados fazer a reserva assim que possível.

Estas duas pequenas aulas por mim ministradas terão como parâmetro a doutrina do Angélico, nosso amado Santo Tomás de Aquino.

Na ocasião, levarei alguns exemplares do livro Tratactus de Substantiis Separatis (Sobre os Anjos), de Santo Tomás, publicado pela Sétimo Selo com primorosa tradução de Luiz Astorga, assim como alguns DVDs da série “A Síntese Tomista”, para o caso de alguém querer adquiri-los diretamente comigo.

Saudações a todos e, para quem vai, até lá!

P.S. O local é bastante acessível (próximo ao metrô da Uruguaiana) e a sala é excelente.

terça-feira, 8 de março de 2011

Uma pérola no meio dos alfarrábios


Sidney Silveira
Enquanto o carnaval passa molestamente à minha porta, de forma ensurdecedora, com as cantorias de um bloco amplificado em milhares de decibéis por duas caixas de som do tamanho do inferno, remexo velhos livros — em busca de uma citação que entrará como nota de rodapé numa obra a ser editada pela Sétimo Selo. Por um instante paro a busca, ao me deparar com uma frase do livro Le Réalisme Méthodique, de Etienne Gilson.

"A diferença entre o filósofo realista e o idealista é a seguinte: o idealista pensa, enquanto o realista conhece".

Referia-se ali o medievalista francês à diferença entre o realismo tomista e todos os idealismos que ganharam força a partir de Descartes. Como meus ouvidos não têm membranas que os possam defender do ruído exterior, pelo menos minha inteligência foi, por um breve momento, agraciada com esta pequena pérola...

segunda-feira, 7 de março de 2011

DVD: Bach e a Harmonia das Esferas

Sidney Silveira
Além do livro "O Êxtase da Intimidade - Ontologia do Amor em Tomás de Aquino", do filósofo espanhol Juan Cruz Cruz (que sairá pela Sétimo Selo) também está no forno o DVD "Bach e a Harmonia das Esferas", uma aula do Nougué ministrada aqui no Rio e que, agora, sai pelo Instituto Angelicum. Acima, estão a capa e a contracapa do DVD (que vendido pelo blog custará R$ 39,00); para visualizá-las melhor, basta clicar duas vezes sobre a imagem.
P.S. Vale advertir o seguinte: esta aula não é a que está no Youtube, sobre o mesmo tema.