segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sobre as coisas políticas (III): parênteses para o segundo turno das eleições presidenciais

Quemós, deus dos moabitas

Sidney Silveira

Proponhamos a seguinte questão: alguém pede a um cristão que escolha, entre dois deuses pagãos, o menos pior — ao qual deverá acender um incenso, caso queira manter-se vivo. Quemós, deus dos moabitas a quem se sacrificavam menininhas virgens; ou Dagon, deus dos filisteus, metade peixe, metade homem, a quem nos tempos bíblicos foi oferecido um grande sacrifício público pela captura de Sansão (Juízes, XVI, 23). Que fazer? Dobrar-se aos ídolos ou abraçar o martírio dizendo um veemente “não” a ambos? Analogamente, procuremos saber se há, do ponto de vista da fé, o menos pior a quem o cristão* deva incensar com o seu voto democrático, neste segundo turno das eleições presidenciais em terras tupiniquins: Serra ou Dilma?

A dificuldade maior dos católicos tradicionais que caíram no milenarismo a que se aludiu anteriormente é a seguinte: na maioria das vezes sem o saber, estão impregnados da visão liberal que separara totalmente as coisas políticas das espirituais, como se pertencessem elas a ordens incomunicáveis entre si. Portanto, a sua firme esperança em evitar o presumível mal menor no plano político se apóia no fato de que não conseguem vislumbrar o mal maior espiritual em que todas as correntes da política contemporânea — sem nenhuma exceção! — se enquadram. Assim, embora intuam o movimento em direção à tragédia universal no qual o mundo contemporâneo atola, só conseguem vislumbrar placebos e imaginam com eles combater um câncer com metástase múltipla.

Estão agora estes nossos amigos vibrando por haver segundo turno nas eleições para presidente. Parecem ver em Serra uma real alternativa à esquerdização absoluta do país. Ó quimera das quimeras! De onde diabos porventura saiu o candidato do PSDB? Não foi da esquerda dos anos 60? E não foi o governo a que ele pertenceu o primeiro a financiar o MST com recursos vultosíssimos do contribuinte, além de levar em frente políticas que estão na agenda das esquerdas internacionais, como por exemplo o sistema de cotas da affirmative action? Ademais, qual o item da lei natural que ele defende em relação aos outros candidatos e, particularmente, a Dilma Roussef? Será ele por exemplo contra o aborto? Bem, a título de informação, foi Serra quem instituiu o aborto estatal no Brasil, ou seja: como ministro da Fazenda de FHC, em 1998 ele aprovou a Norma Técnica do Aborto no Sistema Único de Saúde (SUS), que propiciou a realização de abortos em mulheres (presumivelmente) estupradas.

Na gestão de José Serra, o SUS providenciou material para curetagem e kits de aspiração uterina — manual e elétrica —, além do abortivo microprostol. Leiam aqui a íntegra do texto assinado pelo tucano que tantos abortos já tornou possíveis com a chancela do Estado brasileiro. Ademais, é o nosso candidato um notório incentivador das políticas gayzistas que, dentro de muito pouco tempo, estarão consagradas pelo PL 122; este, transformado em lei, instituirá entre nós o crime de homofobia.

Outra coisa de relevância: com os candidatos eleitos ontem (03/10), a base do atual governo chegará a 55% na Câmara e no Senado. Ora, como nestas questões citadas (e em muitas outras) não há diferença essencial entre os candidatos e as correntes que representam, mas apenas acidental, alguém duvida que o aborto, o casamento homossexual e muitas outras leis contrárias ao cristianismo serão aprovadas com facilidade, seja no governo de Serra ou no de Dilma?

Em vista destas e de outras coisas, entre Quemós e Dagon prefiro ficar com a minha consciência cristã.

P.S. Veja-se no site do Provida a contagem (no alto da home): em 04/10/2010, faz 4.347 dias que o ex-ministro da Saúde José Serra aprovou a Norma Técnica do Aborto. Procure-se, no mesmo site, o texto intitulado "Ministério da Saúde ensina a matar".
P.S.2. Os textos desta série sobre as coisas políticas continuam. Neles tentaremos mostrar que, sendo o mal político atual incomensurável — talvez só passível de ser resolvido por um grande milagre —, nem por isso devemos cair no desespero.

* É óbvio que me refiro ao cristão católico.