terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O canibalismo moral dos tolerantes


Sidney Silveira

Só se tolera o que não é bom, e isto circunstancialmente, seja para evitar um mal maior, seja em ordem a um bem mais valioso. Assim, por exemplo, podemos tolerar os defeitos de um amigo para manter a amizade, do cônjuge para não se desfazer o casamento e os nossos próprios para não enlouquecermos, por excesso de escrúpulos.

Tolerância não é algo que se ostente, pois além de tudo não é sequer princípio moral.

A tolerância será boa apenas quando estiver conformada pela virtude da prudência. Em todos os demais casos ela é falha grave ou gravíssima, razão por que tem comumente outros nomes: tolerar o vício é permissividade; tolerar a mentira, cumplicidade; tolerar a maldade, covardia; tolerar o erro, estupidez; tolerar a tirania, suicídio político; tolerar a louvação da mediocridade, assassinato civilizacional.

Apresentar-se como tolerante é velhacaria típica do caráter sucumbido ao espírito de rebanho. O balido dos tolerantes autoproclamados é, pois, o das ovelhas carnívoras prontas a canibalizar quem não adere ao seu grupo.

A intolerância, por sua vez, será boa sempre que representar a adesão a princípios inegociáveis: a verdade, o bem, a beleza moral...

O mundo que quer enfiar a tolerância goela abaixo de todos, como se ela fora dever moral, tem um nome: inferno. Esta é a mais terrível maneira de ser intolerante.

Onde é proibido proibir, impera o mal.