sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Questões Disputadas Sobre a Alma", de Santo Tomás, vêm à luz em linda edição


Sidney Silveira
Universi, qui te exspectant, non confundentur, Domine.
(Todos os que esperam em vós, Senhor, não serão confundidos).
Salmo XXIV, 3-4.
Ser confundido é próprio de quem não busca a verdade. Esta é uma proposição análoga à do Salmo acima citado, o qual integra a Liturgia do primeiro domingo do Advento. Isto porque quem põe a esperança — virtude teologal — em Deus, verdade em Pessoa, ilumina a inteligência de maneira tal, que não poderá ser enganado nas coisas espirituais, ou seja: nas verdadeiramente importantes. A verdade não é, em nenhum âmbito que a possamos conceber, uma realidade adquirível fortuita ou involuntariamente; ao contrário, é necessário ao homem procurá-la com todas as forças da sua vontade, mas também com a inteligência liberta das amarras psicológicas que possam impedi-la de alcançar o objeto ao qual está naturalmente vertida: as formas inteligíveis.
Pois muito bem. Após a delicada cirurgia por que passei, restaram-me dúvidas quanto à minha saúde, ao meu emprego, à possibilidade de sair do imbroglio financeiro em que me meti, etc. Não tenho, hoje, quase nenhuma certeza quanto ao futuro imediato, razão pela qual o exercício de entrega à Divina Providência tornou-se compulsório. É como se Deus benevolamente estivesse reduzindo o âmbito das minhas escolhas, para que eu não faça tantas bobagens em escala geométrica. Impossível não ter a alma maculada por algum tipo de desalento, numa hora dessas, mesmo pedindo a Deus a dádiva da santa confiança, que, segundo Tomás de Aquino, pode definir-se da seguinte forma: uma esperança fortalecida por inabalável convicção.
Hoje porém tive uma dessas notícias revigorantes, que fazem o espírito respirar, mesmo quando quase tudo são sombras: a obra-prima Questões Disputadas Sobre a Alma está, enfim, no forno, e será apresentada ao grande público brasileiro ainda neste mês, numa edição estupenda, digna da importância de Santo Tomás de Aquino para a história da filosofia e para a Igreja. Com brilhante tradução do meu querido e nobre amigo Luiz Astorga, o livro vem à luz pela editora É com quase 500 páginas (numa edição bilíngüe) e nada menos do que 469 notas; destas, entre as que explicam os conceitos metafísicos e teológicos do Aquinate muitas são de minha lavra, muitas da lavra do próprio Luiz — além das notas remissivas às obras citadas por Santo Tomás no corpus das questões.
Neste primeiro texto de divulgação do livro, não me estenderei sobre os elevados conceitos a que chega o Doutor Angélico ao falar acerca da alma humana. Quero apenas, com enorme emoção, compartilhar com os amigos e leitores do Contra Impugnantes esta alvissareira notícia para os estudiosos da obra do Aquinate em nosso país.
Noutra oportunidade voltarei a falar deste escrito que chega a altitudes conceptuais poucas vezes vistas em toda a história da filosofia. Um escrito para quem, buscando firmemente a verdade, não possui a menor intenção de ser confundido.