sexta-feira, 29 de junho de 2012

Trecho de palestra no lançamento do livro "Sobre o Mal", de Tomás de Aquino...


Sidney Silveira
...que tivemos a honra de apresentar há seis anos, e que está momentaneamente esgotado. Mas estamos trabalhando não apenas para reimprimi-lo, mas também para traduzir os demais tomos desta obra imensa que é o "De Malo". Além, é claro, de outros projetos aqui já anunciados, de livros de São Bernardo, São Boaventura, Cícero e Agostinho. A propósito, em breve darei notícias da ida do livro "As Heresias de Pedro Abelardo" para a gráfica.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Nelson Rodrigues e Marx





Sidney Silveira


[Tenho várias restrições à obra ficcional de Nelson Rodrigues — romances, peças e novelas —, não obstante o considere um escritor de gênio, cronista de talento ímpar, frasista formidável e criador de tipos pitorescos inesquecíveis. Não é meu objetivo falar sobre essas restrições aqui, mas apenas dizer que Nelson às vezes se saía com tiradas simplesmente sensacionais; uma delas é a que vai abaixo, onde fala do triunfo do idiota, com a ascensão do marxismo.]


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"Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, se limitava a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente, etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina".

Depoimento tocante

Sidney Silveira


Hoje fui às lágrimas com o email recebido de um dos nossos leitores, a quem não conheço e deu um depoimento que — nesta hora de doença e desalento — me tocou a alma. Transcrevo-o abaixo, com a autorização do remetente; apenas lhe preservo o nome.


Deus lhe pague, caro amigo! Você não sabe o bem que me fez ler a sua carta, pois tantas e tantas vezes tive o ímpeto de simplesmente parar com este trabalho pra lá de quixotesco e tão malquisto por pessoas católicas que com ele tanto se sentem incomodadas, mas nessas horas sempre tenho tido um claro sinal de que ainda não é o momento.


Que Nossa Senhora, Omnipotentia Supplex, abençoe e proteja a sua família.


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"Caro Sidney Silveira,


Escrevo-lhe depois de ter lido o último "post" do Contra Impugnantes, supondo que o que tenho a dizer, talvez, possa lhe servir de estímulo nesses tempos difíceis.


Infelizmente, meu pouco talento não me qualifica para o estudo da filosofia tomista, e, por isso, a aquisição de livros da Sétimo Selo só se justificaria na esperança de que meus filhos, ainda miúdos, venham a ter melhores dons — e disciplina — que o pai.


A boa notícia que trago é outra, e já um pouco passada. Devo-lhe um sincero agradecimento, porque você, através do prefácio que escreveu para "A Natureza do Bem", foi responsável pelo início de um longo caminho que terminou, graças a Deus, na minha conversão. Ainda estudante na UFRJ, li seu prefácio como parte do programa de um curso de Sociologia da Religião, ministrado por uma professora ocultista (que nos ensinava gnosticismo, teosofismo, antroposofia, etc.). Já não lembro se o livro foi indicado por engano, ou para debochar de Santo Agostinho, que certamente não agradava à professora. Em todo caso, o efeito em mim foi o oposto: preso ao materialismo, supondo que a religião fosse não mais que sintoma ou conseqüência da ignorância, descobri, de repente, logo onde menos esperava, um sinal de vida inteligente. E uma inteligência de sabor diferente, distinta do academicismo que me cercava; uma inteligência que me sacudia, me impelia, me obrigava a decisões — e que, hoje, sei chamar pelo nome de sabedoria. Descobri, então, que o ignorante era eu.


Suas linhas introdutórias do prefácio, sobre a necessidade do sentimento de culpa, do arrependimento, da penitência — coisas tão deploradas pelas filosofias modernas —, vieram a frutificar, mais de três anos depois, no seu devido lugar: o confessionário, com a graça de Deus, junto a um padre fiel à Tradição.


Olhando em retrospectiva, não posso deixar de lhe agradecer, por haver conseguido me libertar dos preconceitos estúpidos que eu vinha nutrindo contra a religião, desde a pré-adolescência (e, particularmente, contra a Verdadeira Religião, o Catolicismo). Dada a avalanche de propaganda anticatólica na minha formação, aliada à minha recalcitrância e ao emburrecimento derivado da vida de pecado, esteja certo de que não foi pouca façanha. Como estou certo de que este não é o primeiro testemunho de conversão que você recebe, e tampouco será o último, escrevo-lhe na esperança de que, apesar dos meus numerosos pecados e do muito que devo crescer no amor de Deus e na vida cristã, esse meu relato possa, de algum modo, incentivá-lo nas tribulações de cada dia. Afinal, seu sacrifício me valeu a conversão, o doloroso processo de retificação de uma união pecaminosa (hoje, um matrimônio), e a luz que me serve de guia na educação de meus filhos.


Que Deus lhe pague todo esse benefício".

Raimundo Lúlio, pelo Prof. Ricardo da Costa



Sidney Silveira

Nesta palestra do Prof. Ricardo da Costa, proferida em tom bastante didático, percebe-se como Raimundo Lúlio antecipa, em alguns aspectos, as confusões, reducionismos e imprecisões da filosofia moderna — malgrado a importância histórica de sua Ars. O conceito de eternidade do pensador catalão medieval, arrolado ali pelo Prof. Ricardo, já aponta para o grande declínio em relação aos principais filósofos do seu próprio século — o século XIII. Isto para não falar de suas idéias trinitárias, também aí citadas, que parecem ter sido engendradas após ele tomar alguma erva alucinógena...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Carta aos leitores

Exsurge, Domine, et judica causam tuam.


Salmo 73.



Caríssimos leitores do Contra Impugnantes,


Escrevo-lhes para dizer algumas coisas de ordem pessoal.


Há tempos vinha eu mentalmente concebendo esta breve carta, mas sempre relutava em escrever, esperando melhor aragem, e assim os anúncios sobre a redução da produtividade do blog — que em algumas ocasiões foram aqui postados — acabavam omitindo o que se dirá a seguir. Agora, em virtude das circunstâncias, decido escrevê-la e postá-la, pois é possível que haja conseqüências para este nosso trabalho de divulgação de Santo Tomás de Aquino e do tomismo no Brasil, tanto pelo blog como pela editora.


E isto num tempo indefinido; talvez próximo, talvez não.


Ø A primeira e mais importante circunstância a relatar é que o meu problema cardíaco congênito me tem acossado por demais nos últimos tempos, a ponto de eu por diversas vezes precisar ir às pressas para o hospital. Trata-se de uma anomalia física na artéria aorta que acarreta uma série de eventos e, cada vez mais, me torna um paciente de risco de infarto e/ou AVC. O problema vem sendo agravado pela pressão arterial alta ou convergente, que sempre vem de súbito, e por uma arritmia cardíaca que toda semana tem dado as caras. Por estes dias, mais de uma vez tive a clara sensação de que chegava o momento de prestar contas a Deus, coisa que não aconteceu porque não era mesmo a hora, mas estou advertido de que esses eventos tendem a se agravar ou a se multiplicar, mesmo com a medicação; e a cirurgia por ora não é indicada. Deus é quem sabe o momento, sem dúvida, e até existem casos de pessoas com esta cardiopatia que duram razoavelmente; são porém mais disciplinadas que eu. Seja como for, estou fazendo esforços para melhorar.


Minha mãe, que da última vez, altas madrugadas, veio em desabalada corrida de sua casa à minha para levar-me ao hospital, é quem tem sofrido. Seja como for, quando chegar a hora apenas imploro ao Pai para morrer em amizade com Ele, ou seja, penitente, e se possível recebendo a Sagrada Eucaristia. O resto é palha. Difícil é conviver com as melhoras e pioras repentinas.


Ø Estou sendo defenestrado do meu atual emprego — o qual durante anos me propiciou tirar dinheiro do próprio bolso, não raro de maneira demasiado confiante, quase pródiga, para publicar os livros da editora, assim como para financiar a vinda ao Brasil de tomistas como os professores Jorge Martínez Barrera, autor de La Política en Aristóteles y Tomás de Aquino (no evento de lançamento desta obra entre nós), e Martín Echavarría, autor de La Práxis de la Psicología y sus Niveles Epistemológicos según Santo Tomás (no evento Santo Tomás, médico da alma), por exemplo. Isto acontece numa hora bastante ruim, em que por mil contingências pessoais precisei adquirir dívidas que sabe Deus se conseguirei quitar. Enfim, estou abandonando-me à Divina Providência, mas confesso ser este um exercício bastante difícil, pois ninguém é indiferente ao seu futuro imediato, visto que as contas chegam ao final do mês com impiedosa regularidade. Talvez os Santos sejam indiferentes, mas não é o meu caso.


Ø Nestes anos de blog tive desavenças com algumas pessoas, em geral católicas. Agora, com os ímpetos do apetite irascível bastante arrefecidos, aproveito a ocasião para pedir desculpas a todos, sem exceção alguma, que se sentiram pessoalmente afetados por este trabalho de divulgação do tomismo no Brasil. Quero reiterar de público que nunca foi esta a intenção dos textos do Contra Impugnantes: ferir pessoas. Se isto em algum momento aconteceu, creiam-me, foi algo acidental e não intencional. Se assim não pareceu aos olhos de alguns, credite-se esta circunstância à minha incompetência para fazer diferente.


Ø Permitindo-me a saúde, os nossos modestos projetos editoriais continuarão, desde que se autofinanciem. Temos obras de São Bernardo, Santo Agostinho, São Boaventura e Cícero programadas para este ano, após a apresentação de Inteligência e Pecado em Santo Tomás. São Bernardo é o próximo da lista e a edição do livro As Heresias de Pedro Abelardo está, finalmente, encaminhada, com apresentação assinada conjuntamente por mim e pelo Prof. Ricardo da Costa, meu querido irmão. Mas a velocidade das demais publicações dependerá de que cada obra venda, a curto prazo, o suficiente para bancar a seguinte. Portanto, só comprando os livros nossos leitores nos ajudarão com este projeto!


Ø Passou o tempo em que eu ficava chateado ao ver que pingavam as vendas de obras importantes e bem editadas, como por exemplo o De Substantiis Separatis (“Sobre os Anjos”), de Santo Tomás de Aquino. Para mim, era inconcebível ver tanta gente no Brasil que se diz amante da Tradição católica (padres ou leigos) e entra em discussões apologéticas ou pretensamente filosóficas, mas, ao mesmo tempo, dá as costas à formação teológica e metafísica sem a qual acaba caindo em diálogos fúteis, contraproducentes e, às vezes, ridículos.


Neste contexto, não posso deixar de dizer o seguinte, com relação a alguns dos nossos tomistas: lamento que eles — talvez ciosos de seus empregos, talvez por estarem engolfados numa inércia hedonística, talvez por injustificado ciúme, talvez por vestirem a toga de “acadêmicos” e não quererem misturar-se à plebe, ou então devido à deformação que a mentalidade modernista operou em seus estudos da obra do Santo Doutor — não tenham feito maiores esforços, em conjunto conosco, para a publicação da obra do Aquinate no Brasil. Lamento não terem conseguido ver que, a par de quaisquer divergências a respeito da atual crise da Igreja, é um bem em si publicar Santo Tomás em língua portuguesa (evidentemente, em boas traduções!), e era seu dever abrir os olhos para a necessidade de fazer muito mais do que têm feito, pois a Igreja sangra e, mesmo no horizonte eclesiástico mainstream, é possível realizar bem mais. Evidentemente, não com bom-mocismo; não mantendo os olhos fechados para a realidade; não se isolando com afetado ar de superioridade; não trabalhando apenas para os grupos a que aderiram.


Muito bem: isto agora não mais me entristece. Prefiro entregar-me à meditação do Salmo que serve de epígrafe a este texto — “Levantai-Vos, Senhor, e defendei a Vossa causa” —, na certeza de que a vontade de Deus sempre se cumpre.


Ø Para quem pretende levar a voz católica ao púlpito do mundo, o conselho prudencial é o seguinte: não basta ler o Magistério da Igreja; é preciso conhecer os critérios teológicos dos grandes Doutores, sobretudo os do Doutor Comum, para somente então adentrar a arena. E, é claro, ser vocacionado para tal importante tarefa, mesmo sendo leigo; a propósito, não custa lembrar que, no atual estado de necessidade, é lícito recorrer a leigos conhecedores da doutrina; muitas vezes é até mais seguro. Mas numa situação normal, como aconteceu desde sempre, convém estar a defesa da fé aos cuidados dos clérigos, que possuem graças de estado proporcionadas a tão elevado trabalho.


Infelizmente, cumprir tal vocação nos seminários modernistas tornou-se impossível, pois a formação que os futuros padres recebem é muitíssimo deficiente, pois não se alimentam eles da doutrina comum da Igreja, mas de uma mescla anárquica de teorias que de católicas não têm sequer a casca. E mesmo nos seminários tradicionais é preciso estar atento para o risco de perder-se o vetor tomista na formação dos sacerdotes, para que não se descumpra, também neles, a expressa advertência de 700 anos de Magistério.


Há, sem dúvida, casos isolados de seminaristas que, à revelia dos reitores e professores, procuram obter formação espiritual e teológica fora do local onde estudam (tive a comprovação cabal desta triste verdade nos últimos anos, pois recebo mensagens de desiludidos seminaristas do Brasil inteiro. Um, noutro dia, chegou a chorar quando lhe apontei a resolução tomista para alguns problemas de teologia moral, que o seminário não ensina). Em vista disso é de suma importância divulgar mais e melhor a obra do Aquinate sem as nefastas matizações conciliares — ecumenistas e “confusionistas” até a medula. É premente a necessidade de incutir doses cavalares de tomismo no Corpo Místico, pois, como afirma o teólogo Álvaro Calderón em seu recente livro, Santo Tomás é capaz de dar efetiva resposta à desintegração que, nos últimos séculos, sofreu a alma cristã.


Infelizmente, hoje percebo que isto só poderá acontecer por milagre. O que não quer dizer que, humanamente, as pessoas capacitadas para esta tarefa devam deixar de fazer a sua parte, jogando fora os talentos recebidos.


Ø Reitere-se à exaustão: é descabido alguém meter-se a defender a fé sem antes se alfabetizar teologicamente. É descabido alguém querer defender uma posição perante a crise atual apenas com “sentimentos” ou arrolando a esmo, de forma interminável, documentos do Magistério. É descabido propor ações políticas sem compreender qual o papel da política, na concepção católica. É uma tremenda falta de senso de realidade querer enfrentar leões famintos confiando apenas na força das próprias mãos. O pior é que, em alguns casos, há quem se associe a leões achando que, juntamente com eles, vai combater inimigos externos (sem sequer enxergar que os leões já são os inimigos).


E não se diga que tais pessoas confiam em Deus, pois a verdadeira confiança em Deus não leva o homem a cegar culpavelmente a própria consciência, a ponto de não saber se os talentos recebidos são proporcionais às obras que pretende realizar, mas, ao contrário, leva-o a enxergar melhor a realidade, vislumbrar o campo de batalha em que pode e deve lutar. Dizia Santo Tomás que a confiança é uma esperança fortalecida por inabalável convicção, mas tal convicção, definitivamente, não é a dos imprudentes; tal convicção, definitivamente, não é a dos pretensiosos. E muito menos a dos meros curiosos que se metem a levantar a voz, sem ter conteúdo algum, aumentando com isto a confusão doutrinária das almas em escala geométrica. Bem afirmava São Bernardo que a curiosidade é o primeiro grau da soberba (primus itaque superbiæ gradus est curiositas)[1], e certamente não é nela que baseia a confiança em Deus.


Perdoem o desabafo.


Ø Outros projetos aqui anunciados em diferentes ocasiões dependem de terceiros para concretizar-se, e infelizmente têm andado na velocidade de um cágado infartado. É o caso dos cursos de tomismo pela internet (estou há meses esperando uma resposta dos “técnicos” que, no começo, me disseram tratar-se de algo fácil) e também do lançamento das Questões Disputadas Sobre a Alma, de Santo Tomás de Aquino, obra-prima traduzida pelo querido amigo Luiz Astorga, que está se doutorando em Angelologia, e entregue no começo deste ano à editora É Realizações — com padrão editorial que não fica nada a dever ao que de melhor hoje se publica do Aquinate, no mundo inteiro.


Vale igualmente mencionar os projetos que apenas esperam a poeira assentar, para se concretizar. Um deles é a conclusão do livro A Vontade Derrotada – Nietzsche e o Avesso do Homem, que pelos inúmeros emails recebidos por mim parece estar sendo aguardado com certa expectativa. A concepção do trabalho está toda em minha mente, e vou escrevendo quando aparece tempo e o coração deixa.


Ø Apesar de a produtividade da postagem de textos no Contra Impugnantes ter decrescido bastante, comparada à dos anos anteriores, o índice de leitura do blog permanece relativamente alto — o que significa haver um bom número de pessoas que entra todos os dias neste espaço virtual na expectativa de ver coisas novas, sobretudo ler algo relativo ao tomismo.


Este é um dos motivos pelos quais estou postando esta mensagem, pois pode haver mudanças repentinas neste trabalho pelas razões acima expostas, totalmente alheias à minha vontade. O outro motivo é que, como a informação a respeito do meu problema de saúde vazou, e recebi mensagens de amigos preocupados com o meu estado, vi-me compelido a evitar que a coisa se torne um telefone sem fio. O problema é real, sim, mas estou procurando tratá-lo da melhor forma que posso. Momentaneamente, estou sem plano de saúde e sabemos o que isto significa em nosso miserável país. Mas hoje trabalho para resolver isto também.


Despeço-me com um cordial abraço a todos e agradeço especialmente àqueles que, sabendo do meu presente estado (que, se Deus quiser, há de melhorar), recentemente me enviaram mensagens de apoio.


E me perdoem por abrir espaço para publicar um texto de caráter tão pessoal, mas, como eu disse, me vi compelido a fazê-lo.


Sidney Silveira


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1- São Bernardo. De gradibus humilitatis et superbiae, X, 28.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Inteligência e Pecado em Santo Tomás de Aquino" saiu da gráfica

Sidney Silveira

Hoje chegaram-me da gráfica os exemplares do livro Inteligência e Pecado em Santo Tomás de Aquino, do teólogo Celestino Pires — primeiro livro do Instituto Angelicum (que reputo uma obra-prima). Reitero o que foi dito noutra postagem: os interessados devem enviar mensagem para contatoangelicum@gmail.com, informando-nos nome e endereço completo.

Começamos hoje a responder aos que já encomendaram o livro, fornecendo os dados para pagamento.

P.S. Um pouco mais à frente, publicarei a "Carta aos Leitores" à qual fiz alusão anteiormente.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A verdade segundo Tomás de Aquino


Sidney Silveira

De ontem para hoje, recebi coincidentemente mensagens de três pessoas pedindo-me que fizesse uma síntese do conceito de verdade em Santo Tomás. Como não estou com tempo para responder a emails, disse a elas que compartilharia um vídeo que já está no Youtune há algum tempo, no qual faço brevíssima exposição de algumas características do conceito de verdade segundo o Aquinate. Ei-lo!


P.S. É claro que o conceito tomista abrange vários outros aspectos além desses acima descritos, os quais noutra oportunidade enumerarei aqui. Mas como por ora isto é impossível, peço aos que me escreveram um pouquinho de paciência...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

"Umbrales de la Filosofía": tomismo da melhor cepa

Sidney Silveira

Comecei hoje a leitura do livro Umbrales de la Filosofía - Cuatro Introducciones Tomistas, do Pe. Álvaro Calderón. O mínimo que, desde logo, posso dizer com toda a segurança é: como emociona ver o tomismo vivo!

A inteligência humana é tão débil frente à inesgotabilidade da verdade, que sempre precisa de guias seguros para poder desbravá-la, sondá-la mais e mais, repotencializar-se e abrir novos horizontes, assimilar novas formas inteligíveis e escavar o mistério do Ser. E que guias bons são os verdeiros tomistas, fiéis à letra e ao espírito da obra do mestre medieval! Quão lindamente mostram que Santo Tomás não morreu nem deixou de ensinar, como o indica a oração da Missa de 7 de Março:

"Oh, Deus, que ilustrais a Igreja com a admirável ciência do bem-aventurado Tomás, confessor Vosso, e a fecundais com a santidade de sua influência, dai-nos a graça de entender o que ele ensinou e de fielmente imitar o que praticou. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!".

Conforme argutamente aponta Calderón, a perene atualidade do ensinamento do Doutor Comum é indicada pelo presente dos seguintes verbos nesta oração: clarificas et fecundas.

Pode o mundo desabar, a Igreja conhecer tempestades as mais diabólicas, dando-nos a impressão de que o inimigo nela infiltrado venceu, mas quis a Providência deixar-nos aqui na Terra um remédio teológico eficaz para manter a Tradição sempre viva: a obra de Santo Tomás de Aquino, verdadeiro milagre da inteligência a serviço da fé e da filosofia.

Ao acabar a leitura, escreverei um comentário sobre esta preciosa obra aqui no Contra Impugnantes. Isto depois de dar encaminhamento à resolução de uns problemas de saúde urgentes, aos quais farei alusão numa "Carta aos Leitores" a ser postada em breve neste espaço.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Glenn Gould toca Bach



Sidney Silveira

O genial intérprete tocando e cantarolando.... Belo vídeo!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Platão: um gnóstico?


Sidney Silveira
Aula do Prof. Carlos Nougué na qual se aponta o exagero de apontar Platão como um gnóstico, pura e simplesmente.

domingo, 10 de junho de 2012

A orelha do livro “Inteligência e Pecado em Santo Tomás de Aquino”



Sidney Silveira


[À guisa de mais um tira-gosto desta obra de mestre, que o Instituto Angelicum tem a honra de apresentar ao público brasileiro, numa bem-cuidada edição]



Qual é o papel da inteligência na ação má? Para responder a esta espinhosa questão, o teólogo Celestino Pires apresenta todos os lugares em que Santo Tomás de Aquino abordou-a em sua obra.


Trata-se de um problema que abarca a um só tempo os âmbitos gnosiológico, antropológico, moral e teológico. Gnosiológico porque expõe as notas distintivas do ato de conhecer; antropológico porque diz respeito ao fundamental tópico da liberdade humana; moral porque conduz o leitor aos meandros da questão do mal nas ações das criaturas dotadas de inteligência e vontade; e teológico porque demonstra, numa perspectiva metafísica, a absoluta impecabilidade de Deus, a pecabilidade dos Anjos, a pecabilidade do homem no estado de inocência em que foi criado e, por fim, a do homem já dramaticamente afetado em suas potências anímicas pela Queda original.


Celestino Pires mostra as hesitações de Santo Tomás ao deparar-se com uma premissa que, desde Sócrates, acompanhava o pensamento ocidental: a de que haveria um erro da inteligência prévio a toda ação má resultante de escolhas livres, ou seja, um erro anterior ao exercício da vontade enquanto apetite do bem. Para resolver a questão, o Aquinate precisou ultrapassar a psicologia aristotélica, em cuja fonte bebera desde a juventude, e desenvolveu uma teoria da eleição que poderia aplicar-se à doutrina do Estagirita apenas se considerarmos o homem no estado de natureza decaída. Mas não poderia aplicar-se ao homem no estado de pureza espiritual em que saiu das mãos do Criador.


Para explicar a possibilidade de o homem no estado de inocência pecar, o Aquinate utiliza o tesouro da metafísica do ser por ele elevada a um grau de perfeição teorética difícil de igualar. Questão que pressupõe um problema ainda mais dificultoso: a da possibilidade de Lúcifer pecar, sendo ele um Anjo que, devido à sua natureza espiritual, não poderia cometer erro tão grosseiro de acreditar que poderia ser como Deus. Celestino pinça da obra de Santo Tomás a conclusão genial: Lúcifer quis assemelhar-se a Deus tão-somente no que diz respeito ao governo sobre as demais criaturas. Mas jamais a sua elevada inteligência poderia fazê-lo supor que poderia ser como Deus quanto ao ser.


Inteligência e Pecado em Santo Tomás de Aquino se insere entre o que de melhor o neotomismo produziu no século XX — o que não é pouco, se considerarmos a imensidão das obras de Gallus Manser, Garrigou-Lagrange, Santiago Ramírez, Joseph Gredt, Édouard Hugon e outros. Obra de escola, sem dúvida, mas que não se limita a reproduzir os textos do mestre medieval, pois Celestino aproveita o caminho trilhado pelo Doutor Comum em questões perante as quais hesitaram Sócrates, Platão e Aristóteles, para mostrar como, no ato do pecado, a desarmonia das tendências humanas propicia à inteligência julgar como bem o que é mal.

sábado, 9 de junho de 2012

Exemplares do livro do Pe. Canderón esgotados!

Sidney Silveira

Agradecemos a todos os que solicitaram neste sábado o livro Umbrales de la Filosofía, do Pe. Álvaro Calderón. Os exemplares se esgotaram em poucas horas! Os compradores receberão na próxima segunda-feira (11/06) um email com a indicação da conta-corrente para depósito.

Informamos que o email contatoangelicum@gmail.com continuará a receber os pedidos do livro de Celestino Pires, Inteligência e Pecado em Santo Tomás. No decorrer da semana, os que já nos enviaram mensagem solicitando a obra receberão uma resposta indicando uma outra conta-corrente para depósito.

Saudações a todos.

"Los umbrales de la filosofía", do Pe. Calderón




Sidney Silveira

Para o mesmo email contatoangelicum@gmail.com (por meio do qual estamos realizando as vendas de Inteligência e Pecado em Santo Tomás de Aquino, de Celestino Pires) podem ser enviados os pedidos para aquisição do livro Umbrales de la Filosofía, do Pe. Álvaro Calderón — que será vendido ao valor de R$ 40,00 (incluído o frete), numa promoção para os 12 exemplares que temos conosco. Portanto, apenas os 12 primeiros que nos enviarem mensagem poderão adquirir esta densa obra do Pe. Calderón, verdadeiro tratado de lógica tomista. Presumo que todos esses exemplares estejam vendidos ainda neste sábado!

Aos que estiverem interessados na aquisição desta obra, pedimos que coloquem no assunto do email: Livro do Pe. Calderón.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

David Hume, Charles Darwin e o acaso em Santo Tomás


Sidney Silveira
Trecho de aula em que se citam a gnosiologia de Hume, aspectos do evolucionismo darwinista (com menção à fraude do Homem de Piltdown) e o conceito de acaso segundo Tomás de Aquino.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Informações para compra do livro "Inteligência e Pecado em Santo Tomás"


Sidney Silveira

Inteligência e Pecado em Santo Tomás de Aquino, do teólogo Celestino Pires, é um denso estudo que aborda em profundidade a antropologia e a gnosiologia do Doutor Comum da Igreja. Trata-se de uma obra-prima produzida pelo tomismo na década de 60, em período anterior à tsunami conciliar.

Desta vez, faremos apenas venda direta (além da distribuição por algumas poucas livrarias cariocas), porque um projeto modesto como o nosso não pode submeter-se a um mercado distribuidor funesto, que chega a cobrar dos pequenos editores 60% do valor de capa.

Portanto, os interessados em garantir o seu exemplar devem manifestar seu interesse escrevendo para contatoangelicum@gmail.com e informando nome e endereço completo (incluindo o CEP), para calcularmos o envio do livro, o que será feito pela modalidade PAC dos Correios, a qual garante a entrega. Responderemos em poucos dias, com as informações de depósito em conta.


O valor da obra é R$ 61,00.


Como a tiragem inicial é de 350 exemplares, garanta o seu! E ajude o nosso projeto, que tem a previsão de lançamento do próximo livro — já também pronto: As Heresias de Pedro Abelardo, de São Bernardo de Claraval — assim que as vendas do livro de Celestino garantirem o pagamento dos custos gráficos, de editoração eletrônica, etc.


INFORMAÇÃO RELEVANTE: quem comprar diretamente terá desconto de 10%.

sábado, 2 de junho de 2012

A neurose na filosofia: o reino da auto-exaltação



“Não há talento que ele não degrade / Não há ciência e saber que ele, à porfia, / Não ache aquém de sua majestade”.


Emílio de Meneses



Sidney Silveira

Dizia Adler que o neurótico é vítima da realidade imaginária que elegeu como diretriz ou finalidade de vida. Em síntese, é o sujeito que escolhe um fim fictício para dar sentido à existência e busca satisfazer, simultaneamente, as exigências do mundo real e desse universo por ele inventado, mantendo-se cativo de uma tormentosa ambivalência.

Expliquemo-nos: em seus devaneios de grandeza, o neurótico aspira a coisas superiores, sublimes, mas esconde um radical sentimento de inferioridade que precisa ser — de alguma forma — compensado. Ele então cria um sofisticado sistema de mentiras para si mesmo e para as demais pessoas, por meio do qual manipula as próprias faculdades intelectivas e as coloca a serviço da finalidade quimérica produzida por sua imaginação. Daí afirmar Adler que o neurótico é, ao mesmo tempo, ambicioso e pusilânime: cobiça coisas que lhe dão um sentimento de quase divindade, mas sequer tem coragem de olhar-se no espelho da consciência.

É claro que essa falta de coragem é também dissimulada, pois o neurótico habilmente sufoca a consciência para apresentar as razões de seus ataques contra Deus e o mundo — justificar o perene ultimate fighting em que, inevitavelmente, transforma as suas relações com quaisquer pessoas que ponham em risco a sua fantasiosa auto-imagem. É como um sujeito mirrado, esquálido, que tresloucadamente se visse refletido no espelho como um gladiador invicto. Como se pode deduzir, a eriçada susceptibilidade do neurótico é a exata medida desse desajuste entre realidade e ficção, produto de uma vaidade sem limites que o faz considerar como “rivais” todos os que não contribuam instrumentalmente para a sua exaltação, indesejáveis oponentes a ser esmagados, destruídos a qualquer preço.

Tortuoso idealista, o neurótico é um Quixote cujos moinhos de vento são fruto de uma meta quase inconsciente: mascarar o seu complexo de inferioridade com o aplauso do mundo. Há, portanto, uma cupidez em toda neurose, pois o núcleo do caráter neurótico e todos os movimentos anímicos que dele emanam estão a serviço de uma confortante sensação de superioridade traduzida em sua pletórica auto-afirmação — que normalmente ocorre em detrimento de toda possível e incômoda afirmação das demais pessoas. Estas, na mente doentia do neurótico, não podem de forma alguma empanar o seu brilho, mitigar a sua “luz”. Desgraçadamente, tal sensação de superioridade não é outra coisa senão a atualização do medo atroz que o neurótico tem de olhar para si mesmo.

O riquíssimo universo interior da alma humana, ao qual Santa Teresa de Ávila chamava castelo interior, é dramaticamente empobrecido na pessoa neurótica. Daí ela tornar-se incapaz de estabelecer relações saudáveis, ou seja, relações que não sejam uma constante referência aos seus próprios talentos e feitos, reiterados cabotinamente ad nauseam. Nas palavras de Rufolph Allers, o neurótico padece de uma espécie de conflito metafísico, configurado na rebeldia interior que o transforma em alguém impossibilitado de aquilatar a realidade de forma objetiva. Em suma, ele abole as leis do mundo real por um arbitrário decreto de sua vontade hipertrofiada — vontade excitada pelo voraz anseio de superação de tudo e de todos, o que necessariamente lhe causa conflitos em progressão geométrica. Como se pode ver, por trás da neurose concebida nestes termos, há aquilo que a sã teologia católica sempre chamou de soberba.

É possível entrever, na história do pensamento humano, o neurótico por trás de muitas teorias erigidas sob a égide de uma pueril tentativa de destruição de tudo o que até então foi feito. Em poucas palavras, enfronhado nas coisas do espírito, o neurótico é o hipercrítico que, para exaltar-se, joga a criança fora com a água do banho — ou seja: desconstrói as realizações do passado com o mal-disfarçado propósito de colocar-se como “reinventor da roda”.

Alguns exemplos são bastante significativos:



Ø para Descartes, é evidente que a filosofia estava esperando por sua dúvida metódica pautada em “idéias claras e distintas”, pois ele deixa bem claro que, até então, não as havia;


Ø Hume diz modestamente que o seu trabalho filosófico é análogo ao que Newton fez com a física: uma reviravolta completa, portadora de novas luzes para a filosofia;



Ø Kant, que despertara do “sonho dogmático” lendo Hume, afirma estar realizando nada menos que uma revolução copernicana. De fato a sua obra representara uma revolução, porém no sentido pejorativo, devido à total desarticulação entre a inteligência e a realidade implicada em seu criticismo;



Ø Heidegger “descobre” que, desde os pré-socráticos até ele — obviamente —, toda a história da filosofia esqueceu-se do ser e só abordou o ente (vê-se, aqui, como o autor alemão, que lera Santo Tomás, não o conseguiu compreender);



Ø Husserl afirma que o seu método da redução eidética é inédito e trará novos horizontes para o filosofar;



Ø Xavier Zubiri tenta demolir a noção aristotélica de substância e a teoria tomista da abstração, mas, com a sua inteligencia sentiente — apresentada como novidade gnosiológica ímpar, embora seja uma roupagem nova para uma mescla de teses presentes na filosofia medieval —, engendra aporias sem fim;



Ø Nietzsche, que se autoproclama um profeta cuja obra está muito além do seu tempo, quer não apenas pôr abaixo quase tudo o que foi feito até então, mas ser ele próprio o vértice de uma transvaloração de todos os valores, que prenunciará o homem do porvir;



Ø Freud acredita piamente que a sua psicanálise é o último elo do desenvolvimento pós-moral do homem;



Ø Sartre, afetando um desdém superior em relação a dois milênios de tradição cristã, leva as premissas fenomenológicas de Husserl e Heidegger às últimas conseqüências e estabelece um niilismo demolidor e sem saída. Nada mais.


Pois bem. Olhadas através de uma lupa crítica, as teorias engendradas por esses e outros precursores do mundo contemporâneo padecem de incongruências reveladoras do estado mental que lhes serviu de substrato, no momento em que estabeleciam as suas principais teses. Mas ainda está por ser feito um acurado estudo psicológico que demonstre cabalmente tratar-se de teorias filhas da neurose, ou seja, nascidas de transtornos narcísicos em que o padrão de grandiosidade resulta num corrosivo e infértil afã de novidade.

Teorias que provêm de uma desordem do caráter nascida do mais delirante egocentrismo, e, portanto, incapazes de se elevar à instância noética onde repousa a Verdade — imaterial, una, indivisa, imutável, sem contradições de nenhuma ordem.