quinta-feira, 29 de maio de 2014

O papel da crítica literária



Sidney Silveira 

Trecho de aula do curso "A LÍNGUA ABSOLVIDA", ministrado pelo lexicógrafo Sergio De Carvalho Pachá.

A propósito, as INSCRIÇÕES CONTINUAM ABERTAS em:

terça-feira, 27 de maio de 2014

Gruta da Natividade em chamas



Sidney Silveira

AOS AMIGOS CATÓLICOS

Quase toda semana, recebo inúmeras mensagens de pessoas a indagar-me por que não tenho comentado ultimamente, no Contra Impugnantes, assuntos relativos à Igreja Católica, como, por exemplo, a recente viagem do Papa Bergoglio à Terra Santa e suas dialogantes peripécias ecumenistas. Coisicas como a visita reverencial do Papa ao túmulo do fundador do sionismo político moderno, Theodor Herzl.

RESPOSTA: por irrevogável tristeza, nada mais. Ou melhor, também por prudência, pois os tempos atuais exigem-na em grau elevadíssimo. 

Continuarei por um tempo sem comentar.

Mas hoje não me furto a compartilhar uma notícia que não me parece irrelevante: a Gruta da Natividade, em Belém, acidentalmente pegou fogo após a visita do Papa, quando uma candeia de azeite lambeu as cortinas e as paredes daquele lugar santo. Para quem não sabe, o azeite tem o sentido bíblico da unção de Deus, signo da presença do Seu divino Espírito.

Como não há acidente (em sentido metafísico) que escape à Divina Providência, tal acontecimento não pode deixar de levar os católicos de boa vontade pelo menos a refletir a respeito dos rumos duma Igreja que teima em ter uma pregação tão antiapostólica, ou seja, em não querer converter ninguém, e eriça-se com funesta diplomacia para não ferir susceptibilidades.

Mais não digo.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Beliscões criminosos e abortos consagrados em lei



Sidney Silveira

QUALQUER IMBECIL com dois dedos de miolos sabe muitíssimo bem a diferença entre uma palmada pedagógica em meninos levados e quaisquer maus tratos físicos, criminosos, de adultos contra crianças — os quais, a propósito, estão abarcados devidamente pelo nosso Código Penal.

Mas pôr as duas coisas no mesmo saco não é pura e simples imbecilidade, apesar de ser veemente signo dum agônico estado de obliteração mental. Em verdade, implica a pior espécie de má-fé: a do cego voluntário politicamente correto que, nos dias atuais, cerra fileiras entre os próceres da engenharia social globalista cuja urgência maior é destruir as tradições ocidentais, mormente as cristãs.

Tais idiotas inúteis serão levados de roldão por quem os instrumentaliza como a animais pavlovianos obedientes, que salivam perante slogans baratos.

Muitos deles serão literalmente devorados pela geração de monstros que hoje alimentam, com falsas boas intenções. E digo "falsas" porque, contrariamente ao que afirma o ditado popular, o inferno está repleto de tudo, menos de boas intenções!

Quando deduzo o futuro dos próximos 20 anos à luz do quadro atual, sou acometido da certeza de que homeschooling se tornou absoluta necessidade para quem queira formar trincheiras efetivas de sobrevivência, no ambiente inóspito e insalubre da idiotia consagrada como lei universal.

Idiotia criminosa do mundo em que beliscões são crime inafiançável e abortos são prática incentivada pelos governos.

Quando releio na antiga Regra de S. Bento qualquer referência direta ou indireta à caridade sanatória dos castigos moderados impingidos aos pueri oblati, ou seja, às crianças que os pais levavam aos mosteiros a fim de se educarem e, possivelmente, se tornarem monges, e contemplo os nossos legisladores-pedagogos contemporâneos, tenho imediatamente a clara visão da vaca atolada num brejo dos infernos...

P.S. O formato desse homeschooling, ou seja, as suas premissas e vetores, é um problema que não abordo aqui. 

domingo, 25 de maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

IMAGINAÇÃO DESGOVERNADA: o intemperante e o incontinente


Sidney Silveira

SOB O IMPÉRIO DAS PAIXÕES o homem fica imantado ao presente, perde a dimensão da temporalidade. 

Isto ocorre quando as paixões o solicitam com tal veemência que ele é acometido duma espécie de ignorância culposa com relação a vários aspectos implicados nas suas ações. Neste sentido, diz o senso comum que "a paixão oblitera a razão" — sobretudo quando se trata de fazer referência à paixão como fonte de escolhas equivocadas ou más. Em ocasiões tais, o presente adquire um valor de absoluto na consciência do apaixonado, imobilizando a torrente do tempo na psique.

Um pequeno conjunto de imagens começa então a ter recorrência patológica, a ponto de prejudicar a dinâmica das potências psíquicas do sujeito, que passa a não vislumbrar o presente com categorias de futuro, como fazem as pessoas relativamente saudáveis. Em suma, alguém neste estado tem dificuldade de projetar o tempo com mínima lógica, ou seja, enxergar conexões razoáveis entre os atos presentes e as vindouras conseqüências neles implicadas ou latentes.

Esse tipo de ignorância fruto da paixão — que faz o sujeito concentrar tenazmente a sua atenção no momento presente, de modo a lançar cinzentas nuvens sobre o futuro — já havia sido associado por Aristóteles aos vícios da "intemperança" e da "incontinência", sendo a distinção principal entre elas que uma é mais próxima do ato, enquanto a outra é hábito. No incontinente a cegueira dura enquanto dura a imagem sensível que deflagra a paixão; no intemperante ela dura mais, ou melhor, dura longamente devido à permanência do mau hábito mental arraigado.

Num e noutro caso, o tratamento espiritual deve começar por exercícios de continência da imaginação. Depois, passar ao direcionamento terapêutico, gradual, da potência imaginativa a outros objetos que não os recorrentes, assim como à meditação acerca dos malefícios desta fixação doentia em poucas imagens.

Entre incontinentes estão estupradores, por exemplo; entre intemperantes estão suicidas. Curar a uns e a outros pode e deve passar por uma reeducação da inteligência e da vontade, o que muitas vezes é capaz de tornar desnecessário o uso de psicotrópicos.

Mas somente um psicólogo com boa formação filosófica, mormente metafísica, pode alcançar esta verdade: a inclinação veemente do apetite desordenado — chamada em termos aristotélico-tomistas de "paixão" — pode ser consideravelmente minimizada, expurgada de seus excessos

Um psicólogo da estirpe do tomista Martín Federico Echavarría.

Infelizmente, estudiosos da alma humana com este perfil são hoje mais difíceis de encontrar que o homem honesto ao qual o velho Diógenes estava à cata, com sua famosa lanterna.

À luz do dia.

Tira-gosto do curso "A Beleza na História Cultural"


Sidney Silveira

Com o medievalista Ricardo da Costa e este que vos escreve.

Os interessados poderão ter certificado internacional concedido por IVITRA, entidade vinculada à Universidade de Alicante, na Espanha. 

AS INSCRIÇÕES CONTINUARÃO ABERTAS EM:


Em caso de dúvida, por favor, entrem em contato com Lissandra Lopes de Oliveira, pelo e-mail contato@institutoangelicum.com.br.

Aos inscritos no curso "A Língua Absolvida", do Instituto Angelicum

Caríssimos, pedimos que façam as suas perguntas e comentários no Fórum do curso, mas não as enviem por e-mail. 

Isto facilitará enormemente o nosso trabalho de respondê-las.

Obrigado a todos.

domingo, 18 de maio de 2014

A espiral e o quadrado: mais um tira-gosto do curso "A Língua Absolvida"


Sidney Silveira

TRECHO DA SEGUNDA AULA do Prof. Sergio De Carvalho Pachá que irá ao ar nesta segunda-feira (19/05) no site do Instituto Angelicum.

Aproveito o ensejo para informar que AS INSCRIÇÕES CONTINUARÃO ABERTAS EM:


Saudações a todos.

sábado, 17 de maio de 2014

LIÇÃO BÁSICA DE ESTILÍSTICA: “assíndeto” e “polissíndeto” num mesmo período


Sidney Silveira

Vamos ao exemplo aludido no título acima:

“O pedagogo formado na escola de Paulo Freire pontifica, inventa, mistura, e mente, e distorce, e seduz”.

> Como se vê, há três orações seguidas entre as quais não existe nenhum conectivo, nenhuma conjunção: “(...) pontifica, inventa, mistura (...)”. Este recurso estilístico está à mão de qualquer escritor competente, e o vemos tanto em Camões como nos romancistas modernos, quando querem dar colorido e força ao que pretendem dizer.

> Há também três orações começadas com a conjunção “e” precedida de vírgula: “(...) , e mente, e distorce, e seduz (...)”. Outro recurso bastante usado por escritores de valor, quando querem passar qualquer imagem num crescendo. 

Em ambos os casos, nenhuma norma gramatical foi infringida; ao contrário, é português escrito com talento e conhecimento de causa! 

Obs.: "Síndeto" é o termo de origem grega comumente usado para designar a nossa conjunção “e”. Portanto, “assíndeto” é a seqüência de orações sem essa conjunção; e “polissíndeto”, por sua vez, é a seqüência de orações com virtuosa repetição da referida conjunção.

Se você interessa-se por escrever bem em português, INSCREVA-SE NO CURSO "A LÍNGUA ABSOLVIDA", do lexicógrafo Sergio De Carvalho Pachá, em

Os limites e a função da gramática

Sidney Silveira

"A gramática não é um mero repositório de regras negativas, pelo fato de ser, antes e acima de tudo, a normatização dos fatos da linguagem — que a antecedem. A gramática não inventa a índole do idioma; ela a pressupõe".

Trecho da segunda aula do curso "A Língua Absolvida", com Sergio Pachá, que irá ao ar na próxima segunda-feira, no site do Instituto Angelicum. 

Enquanto isso, preparamos respostas a algumas perguntas dos alunos relativas à primeira aula — assim como a gravação da terceira aula desta iniciativa pedagógica.

Obrigado a todos os participantes! 
Até breve.

P.S. Um dos temas que, mais à frente, abordaremos é a distinção entre gramática e filosofia da linguagem; esta última, conforme a conceberam Aristóteles, Santo Tomás e outros. Trata-se de coisas correlatas, porém distintas, segundo o nosso parecer.

Como as aulas são gravadas, informamos que as inscrições para o curso "A Língua Absolvida" continuarão abertas em:


P.S.2 Lembro aos alunos do curso "A Beleza na História Cultural" que, na próxima terça-feira, haverá aula; nela falaremos sobretudo de Boécio.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Aquele a quem chamamos Deus...


Sidney Silveira

NÃO HÁ GRANDE FILOSOFIA onde não se conceba um princípio absoluto, e infinito, para todas as coisas — ao qual sempre, direta ou indiretamente, seja necessário fazer referência.

A carência deste referencial supremo transforma-se, cedo ou tarde, no buraco negro em que as teorias filosóficas, mesmo as potencialmente melhores, começam a perder-se.

terça-feira, 13 de maio de 2014

NO ENSINO, TOLERÂNCIA para com os próprios pequenos erros


Sidney Silveira

Somente quem já ministrou aulas longas sabe que podem acontecer lapsos no decorrer duma exposição. Condoer-se demasiado por eles é virar estátua de sal — e esterilizar-se no ato. 

Essas pequenas impropriedades numa fala expositiva são comuns. Apenas advirtamos que o bom professor, após identificá-las, as corrige. Mas nunca, jamais, em tempo algum comete o erro capital de jogar fora a criança com a água do banho, ou seja, não destrói o que de bom construiu por conta de excessivos escrúpulos. 

Errinhos em meio a uma floresta de acertos têm valor moralmente profilático: o de impedir que o bom professor se torne vaidoso, ao perceber que a sua memória não é infalível e a inteligência às vezes tropeça. O importante é que tais falhas não se dêem com relação à forma da coisa ensinada, mas apenas quanto a tópicos materiais — tendo em vista o professor que a matéria, em sentido metafísico, está para a forma assim como a potência está para o ato, os acidentes estão para a substância e a essência está para o ser.

Se perfeito é aquilo a que não falta nada para ser o que é, pensemos nós, os que amamos os estudos, o seguinte: esses pequenos tropeços são inevitáveis, razão pela qual devem servir como aprendizado. Não façamos deles barreiras intransponíveis. 

Não se trata de ter tolerância para com os erros, e sim de não fazer deles um monstro invencível. Afinal, a compreensão da falibilidade humana não é auto-indulgência.

Amor, paciência e constância, eis o que torna alguém perito em qualquer coisa. 

Mas a perfeição absoluta, só no céu.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tira-gosto da primeira aula do curso "A Língua Absolvida"

Sidney Silveira

PARA ADOÇAR A BOCA

Esta aula do Prof. Sergio Pachá deverá ir ao ar hoje à noite (12/05) no site do Instituto Angelicum, ou amanhã pela manhã.

Aproveito o ensejo para informar que AS INSCRIÇÕES CONTINUARÃO ABERTAS EM:


Matriculem-se, amigos. Ajudem-nos a ajudar o Brasil.


domingo, 11 de maio de 2014

O silêncio dos nada inocentes

Sidney Silveira

Fiz há pouco tempo uma entrevista com o Prof. Sergio De Carvalho Pachá, na qual ele contou os bastidores do nefastíssimo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (veja-se o material em https://www.youtube.com/watch?v=-_wIluG3yRs)

Se fôssemos um país em que os jornalistas são, em média, relativamente sérios, os grandes veículos de imprensa (que recebem "migalhas" do governo patrocinador do Acordo, em forma de milhões de recursos a título de propaganda oficial) fariam aquilo que, no jargão jornalístico, se chama entre nós de "suíte", ou seja: repercutiriam a coisa.

Mas nada. 

Depois, se me der na telha, darei o nome de alguns desses bois que por conveniência não mugem, pessoas a quem eu mesmo mandei a entrevista e ficaram tão apáticas quanto um sagüi diante da "Suma Teológica". 

Estou de saco cheio de muitos dos chamados "coleguinhas" de imprensa!

Em Portugal, a entrevista acaba de ser veiculada num dos maiores jornais diários do país: o Público. O texto é assinado pelo diretor adjunto de redação, Nuno Pacheco.

Vejam o artigo no link abaixo. 

E, uma vez mais, COMPARTILHEM!

sábado, 10 de maio de 2014

Curso "A Língua Absolvida": INSCRIÇÕES AINDA EM ABERTO


Sidney Silveira
No começo da próxima semana estará no ar o vídeo da primeira aula do curso a ser ministrado pelo Prof. Sergio De Carvalho Pachá no Instituto Angelicum, assim como textos preparados para este passo inicial da empreitada já referida anteriormente em vários links do Contra Impugnantes.

O nosso propósito não é brandir regras gramaticais como se se tratasse de parâmetros metafísicos imutáveis e universalíssimos, visto que a gramática não é ciência primeira. Em síntese, queremos ajudar as pessoas a compreender o sentido dessa normatividade no contexto da índole da língua portuguesa — e lhes dar instrumentos para escrever e falar com correção, elegância e, se possível, beleza.

Inscreva-se em: 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Vaidade, hipermetropia da alma


Sidney Silveira

O desobediente não pode ser sábio. O jactancioso não pode ser sábio. O que vive a meter-se em contendas não pode ser sábio. O hipócrita não pode ser sábio. O pertinaz não pode ser sábio. O que está sempre à procura de novidades não pode ser sábio. O que não ajusta a sua vontade à dos homens mais excelentes não pode ser sábio. 

Aqui estão, pois, enumeradas as sete filhas da vaidade — vício capital que faz perder a alma: 

> Desobediência
> Jactância
> Contenda
> Hipocrisia
> Pertinácia
> Presunção de novidades 
> Discórdia

Este é o parecer de Santo Tomás de Aquino; não subscrevê-lo seria tolice.

Chamamos “vaidoso” ao homem que, habitualmente, procura manifestar a própria excelência de maneira artificiosa e desordenada. Expliquemos os termos: "artificiosa" porque este pobre-diabo vive, de fato, a criar artifícios mil com o intuito de referir presumíveis ou supostos méritos que possua; "desordenada" porque, em verdade, o simples fato de se esforçar neste sentido diagnostica-lhe a perda do senso de proporções e de direcionamento da alma — aprisionada numa espécie de sala de espelhos na qual apenas as suas qualidades são projetadas, de diferentes ângulos.

Noutras palavras: o vaidoso não obedece senão ao seu umbigo; usa o pronome “eu” com cansativa constância — oblíqua ou manifestamente —, sem perceber que a maior parte dos seus raciocínios são circunlóquios cujo fim é enaltecer a si próprio; vive metido em contendas; tende à hipocrisia de maneira funesta, pois, para não se sentir diminuído, muitas vezes procura aparentar ser mais do que é; se porventura é contra-argumentado, não cede nem mesmo às mais acachapantes evidências em contrário às suas opiniões, mantidas a ferro e fogo; em tudo e por tudo, quer ser ou parecer original; não suporta a existência de pessoas mais excelentes, sendo exatamente contra estas que se volta com maior afinco, pelo tortuoso instinto de autodefesa por meio do qual se atormenta sem parar, com a possibilidade de se ver ou de se sentir superado.

Quem não possui um "vaidadômetro" saiba que estes são os traços distintivos do homem vaidoso — de quem é bom manter preventiva distância, por uma questão de higiene pessoal. E o é, sobretudo, porque a vaidade tem algo de contagioso, pois geralmente as criaturas que sofrem deste vício infernal acabam encontrando carradas de justificativas para o seu proceder, com rigorosa lógica entre as premissas e as conclusões. Isto pode tornar-se nefastamente atrativo para pessoas que ainda não criaram anticorpos contra a vaidade.

A propósito, dois são os principais anticorpos contra a vaidade: humildade e generosidade. Não por outro motivo, o verdadeiro pedagogo educa, antes de tudo, para estas duas virtudes morais, sabedor de que, sem elas, se cria um impedimento formal para a ordenação dos saberes em vista de que o homem se torne melhor e enxergue a si próprio sem um defeito análogo ao de quem sofre de hipermetropia: a dificuldade de focar a imagem em objetos próximos. E nada mais próximo de cada homem do que a visão da sua própria pequenez, comparada à vastidão do universo e também à incomensurabilidade de Deus, para quem n’Ele crê. 

Muitos talentos se perdem porque ninguém lhes ensinou a fazer este ajuste de foco a tempo de evitar que o vício capital da vaidade deitasse raízes em suas almas.

Maldito seja, pois, o mestre que induz os seus discípulos à vaidade, em vez de lhes apresentar o caminho — dificultoso e árido, sem dúvida — da sabedoria, à qual se fez alusão no começo deste breve texto e que tem a humildade como primeiríssimo degrau.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Beleza, salutar mistério



Sidney Silveira
A Beleza, realidade metafísica una, imutável e universalíssima, pode ser imitada pelas artes humanas, mas jamais produzida por elas. Somente uma inteligência capaz de criar o ente poderia produzir a Beleza em si mesma, que é um dos transcendentais do ser. E esta é a inteligência divina. 

Ao homem, submerso na realidade claro-escura do ser em que a inteligibilidade é sempre movediça, escapável e transeunte, cabe elevar-se dificultosamente — pelas ciências e pelas artes — ao ponto em que vestígios dessa suma Beleza são vislumbrados e acabam por servir de modelo, de cânone, de regra.

Dos teoremas matemáticos às grandes sinfonias musicais, das conclusões mais especiosas da lógica aos meandros elevadíssimos da metafísica, da percepção da harmonia das formas físicas à compreensão de realidades geométricas, da observação das operações portentosas da natureza ao entendimento do fulgor das virtudes morais manifestado nas boas ações, a Beleza sempre apresenta-se à nossa inteligência envolta nalgum mistério

Ocorre o seguinte: esta impermeável zona de sombra de qualquer das belezas alcançáveis pelo espírito do homem, longe de deprimi-lo, é luz balsâmica para a sua alma, conducente ao êxtase — que não é outra coisa senão a entrega amorosa ao Inefável, amplexo entre uma inteligência finita e a infinitude do ser

Num verso sublime, Camões descreveu genialmente essa escalada estética, ápice do caminho amoroso configurado no instante em que se tocam o inteligível humano e o supra-inteligível divino: 

"E faz que este natural 
Amor, que tanto se preza 
Suba da sombra ao real
Da particular beleza
Para a Beleza geral".

terça-feira, 6 de maio de 2014

POR QUE DEVO FAZER O CURSO "A Língua Absolvida", com o dicionarista, filólogo, gramático, escritor, tradutor e poeta Sergio De Carvalho Pachá?


Sidney Silveira

Respondo primeiramente com Napoleão Mendes de Almeida:

"Como respeitar a idéia de quem não respeita o idioma em que a expõe? É difícil aceitar qualquer princípio sem a aplicação das regras gramaticais; torna-se ele inconsistente, quando não falso, diante da fraqueza da linguagem. A própria narração jornalística de um fato afigura-se falha de crédito quando o relator mostra inverdades de linguagem.

Hífen que liga o passado com o presente, o presente com o futuro, traço de união de civilizações, a gramática ensina-nos a prática de um idioma, incutindo-nos tanto maior respeito quanto maior organização política tem o povo cujo idioma ela ordenadamente expõe". 

Acrescento:

Querem essas palavras de Napoleão Mendes de Almeida dizer que a gramática é panacéia para a resolução dos problemas sociais e políticos de um povo? Resposta: "Não". Mas ela é o primeiro passo ordenador da estrutura da linguagem, que, por sua vez, é veículo de conceitos e pensamentos abstratos. 

Portanto, aprender a concatenar as próprias idéias com ordem — o que é impossível sem o conhecimento mínimo da ciência normativa da linguagem — é uma espécie de dever cívico, antídoto contra os slogans ideológicos simplistas vomitados da boca de farsantes como se fossem o âmago do saber.

O curso de Sergio Pachá pelo Instituto Angelicum, no entanto, não será de gramática, mas passará pela gramática, no seguinte sentido: nele serão tratadas questões direta e indiretamente atinentes ao falar e ao escrever em português com correção, clareza e beleza.

Isto não me parece pouco, num país que vem mostrando cotidianamente como a selvageria anda de braços dados com a língua inventada pelos demagogos e engenheiros sociais.

P.S. Se todo este arrazoado tem conteúdo verdadeiro, talvez valha a pena inscrever-se no curso "A Língua Absolvida", no site do Instituto Angelicum, em: 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O PORTUGUÊS em português: curso "A Língua Absolvida"


Sidney Silveira
Com o Prof. Sergio De Carvalho Pachá, ex-lexicógrafo chefe da Academia Brasileira de Letras, gramático, filólogo, tradutor, poeta e escritor. As inscrições continuam no site do Instituto Angelicum, em:


Você, que ama a pátria da língua portuguesa, tão depauperada entre nós, inscreva-se já!

sábado, 3 de maio de 2014

Entre a vaidade e a justa medida da honra

Sidney Silveira

INSTADO PELA ADMOESTAÇÃO do leitor André Vieira a respeito do texto em que menciono com tintas picarescas a participação do padre Reginaldo Manzotti num programa da MTV — ocasião em que eu estava ao lado do clérigo, defendendo o mesmo ponto —, procurei dar uma resposta simples e direta. 

Segundo o nobre amigo, vaidosamente esnobei o sacerdote 

Como se trata duma questão universalíssima, ou seja, de interesse geral, parece-me conveniente publicá-la no C.I. porque mais pessoas terão a oportunidade de lê-la.

Reitero o meu sincero agradecimento ao André pela crítica, que é sempre bem-vinda, sobretudo quando a intenção me parece reta. 

AQUI VAI: 

"Caro e nobre André, a vaidade é o desejo de uma glória vã — muito perigoso para a alma, razão pela qual lhe agradeço sinceramente pela advertência. Mas permita-me dar uma resposta que começa pela seguinte indagação: o desejo de glória pessoal é sempre vão ou ilícito? Na maravilhosa questão 132 da II-II da “Suma Teológica”, Santo Tomás diz que não! Quando se trata do natural anseio de reconhecimento dos próprios méritos por parte de qualquer homem, não constitui pecado. Ademais, é conselho evangélico saído da boca do próprio Cristo imediatamente após proferir as bem-aventuranças do Sermão da Montanha: “A vossa luz resplandeça diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está no céu” (Mt. V, 16). 

Noutra obra portentosa, ensina Tomás que “vão” pode considerar-se sob três aspectos: 

1- vão é algo falso; 
2- vão é o que carece de consistência; 
3- vão é o que se mostra incapaz de realizar o fim devido.

Ora, o vaidoso é tudo isso: acaba por ser dúplice, pelo desejo irrealista e imoderado de reconhecimento; em várias ocasiões mostra-se inconsistente, pois quer prevalecer sobre os demais em tudo, o que é impossível; e é incapaz de realizar o fim principal da vida humana: servir de instrumento à manifestação da glória de Deus. Se porventura a minha atuação neste programa da MTV se enquadra nalgum destes tópicos, entrego tudo nas mãos do Altíssimo, que é perfeito em Seus julgamentos e há de aplicar o prêmio ou o castigo da maneira devida.

Engraçado é que, após o referido programa, o jornalista Reynaldo Azevedo disse-me: “Você é muito tímido”, e imediatamente pensei o quanto ele estava muito longe de acertar, pois se não falei mais foi por dois motivos: acabaria divergindo do padre publicamente, o que seria contraproducente com relação ao meu objetivo ali; e não fui adestrado para a falta de educação. Prefiro a derrota a usar de expedientes quaisquer para vencer, entre os quais o de fazer prevalecer a minha voz no grito. Seja como for, pelo resultado da enquete do programa não se pode dizer que foi uma derrota. Mas poderia ter sido muitíssimo melhor, se a esplendorosa doutrina sobre a castidade e o celibato pudesse ter sido exposta devidamente.

Digo mais: em matéria grave, como esta, os leigos católicos que estiverem em condições devem colocar a sua candeia acima do alqueire, mesmo quando ao seu lado estejam sacerdotes. E, a esta altura da vida, não vou incorrer no pecado da falsa modéstia — uma das mais terríveis formas de vaidade — apenas para não parecer vaidoso. Portanto, serenamente reitero o meu lamento de ter estado ali acompanhado de um sacerdote loquaz, provavelmente bem-intencionado, mas com formação teológica tão deficiente.

Por fim, ainda sobre a vaidade, trago gravado indelevelmente no coração outro ensinamento de Santo Tomás nesta matéria (em “De Malo”, q. 9, art.1). 

É o seguinte: 

“A glória humana pode dirigir-se louvavelmente a três fins. Em primeiro lugar, à glória de Deus, pois, pelo bem que alguém manifesta, é glorificado Deus, a quem pertence, como primeiro autor, aquele bem. (...) Em segundo lugar, à salvação do próximo, que, conhecendo o bem de alguém, se edifica ao imitá-lo. (...) Em terceiro lugar, ao bem do próprio homem, que, ao considerar serem os seus bens louvados por outros, dá graças e persiste neles mais firmemente”.

Por fim, agradeço sinceramente pela reprimenda. Mas defendo-me dizendo que sem o lúdico a vida seria um caos total. 

Ademais, caro André, o padre não é de açúcar e não se vai desfazer feito um choramingas ao ver-se retratado com olhar irreverente, sim, mas não desrespeitoso. A sua imunidade eclesiástica não chega ao ponto de torná-lo imune a críticas. 

E olha que omiti as coisas mais pitorescas...

Grande abraço e fique com Deus!"

Eu, o Lobão e o padre marombeiro, numa noite fria em Sampa




Sidney Silveira

HÁ MAIS DE TRÊS ANOS fui convidado a participar do programa do Lobão na MTV. O assunto era "castidade" e "celibato", e a coisa havia sido claramente montada para dar uma paulada na Igreja, pois o mote daquela sinfonia de desacertos era nada menos que o seguinte: a castidade e o celibato são responsáveis pelos escândalos de pedofilia na Igreja? 

Ao ser contactado pela produção do programa, a princípio respondi que não iria. Em verdade, seria necessário fazer tantas ponderações prévias para estabelecer os tópicos da questão, que o formato da coisa (com seis pessoas a falar quase ao mesmo tempo, tendo o Lobão como mediador) não funcionaria, se porventura a intenção fosse mesmo realizar algo com um mínimo de seriedade. Na ocasião, como eu dissesse que, antes de tudo, seria importante distinguir entre "castidade" e "celibato", a começar pelo fato de que nem toda castidade é celibatária e nem todo celibato é casto, o jornalista pediu-me então que lhe enviasse um e-mail explicando estas precisões teológicas.

Como não sei fazer diferente, escrevi um longo texto no qual elencava os princípios do problema. O rapaz adorou e a insistência da produção redobrou, acabando por fazer-me ceder. Pelo que logo entendi, haveria três pessoas de um lado, contrárias ao celibato sacerdotal, e três de outro, favoráveis a ele. Até aquele momento, não havia um corajoso católico para falar bem da doutrina da Igreja, segundo o relato do jornalista da produção. Depois, conseguiram chamar o padre Reginaldo Manzotti e uma bióloga cuja presença ali é um inexpugnável mistério para mim, ainda hoje.

Ao encontrar-me com o padre antes do programa, numa espécie de ato reflexo — quem sabe instinto de defesa? — ele deixou escapar um esgar de susto ou de nojo ao ouvir da minha boca que eu estudava Santo Tomás de Aquino e estaria ao seu lado, diante das câmeras. Na van, o caminho até o estúdio foi tenso — com o sacerdote trêfego a consultar uma papelada e a ruminar entredentes estatísticas mil, a uma de suas duas assistentes paroquiais. Eu apenas observava em silêncio aquele singular espetáculo. Ainda na van, recebi do perfumadíssimo clérigo um livro de auto-ajuda de sua lavra, com grande modéstia intitulado "10 respostas que vão mudar sua vida", e lhe dei alguns livros da Sétimo Selo, entre os quais o "Tractatus de Substantiis Separatis" (Sobre os Anjos), de Santo Tomás, metafísica de dar em cabeça de doido. Ele guardou-o numa pasta sem nem olhar a capa ou dizer "obrigado", pois parecia nervosamente entretido em decorar uma fala, como fazem alguns atores de teatro antes de entrar em cena.

A primeira pergunta do Lobão — entremeada duma chulice propedêutica que desconcertou o padre — culminava na seguinte indagação: "A Igreja sempre disse que o homossexualismo é antinatural. Ora, o celibato também não é?". O padre respondeu que "não" e logo mudou de assunto, pois começou a citar os números que memorizara a caminho do estúdio. De imediato, abaixei a cabeça e vi que estava ao lado do mais tétrico "fogo amigo", pois a formação do sacerdote em teologia era análoga à minha em entomologia. Pensei: "Ele devia dizer que o celibato é, sim, contrário à natureza, mas que há a graça, que supre as deficiências da natureza, sobretudo quando se trata de 'graças de estado', etc." Acontece que, para um modernista de quatro costados, Deus é na melhor das hipóteses um detalhe conceptual, e colocá-lo na jogada, sobretudo num programa de televisão com boa audiência, torna-se deveras incômodo e perigoso.

Aquele inaudito espetáculo tinha quatro módulos. Do outro lado do mediador Lobão, havia uma ex-puta que no passado saíra com padres para furunfar remuneradamente, uma sexóloga e o jornalista Reynaldo Azevedo. O engraçado é que, após deixarmos o estúdio, a ex-prostituta disse-me: "Pôxa, fiz programa com sacerdotes muito bons", ao que lhe respondi que eles podiam ser muito bons, quiçá ótimos, magníficos ou então doutorados na elevada ciência dos movimentos pélvicos ritmados, mas não o eram enquanto sacerdotes — piririm-pororom, etc. e tal. A moça, mal-disfarçada aspirante a Bruna Surfistinha, dizia-se escritora porém sem se vexar de errar quase todas as concordâncias verbais, e também nominais, o que fazia do seu discurso um emaranhado de vagidos desconexos. Diante das câmeras, o problema mais aflitivo da jovem era unir com resquícios de lógica o sujeito ao predicado. Se, como disse Cristo com todas as letras, as prostitutas precederão os fariseus no reino dos céus, aquela ex-profissional do sereno tem a seu favor o dado benfazejamente corroborante da ignorância invencível. Gente fina, com certeza.

Fiz observações pontuais ao longo do programa e me mantive calado em várias ocasiões, para não voar no pescoço do sacerdote-cantor-escritor-marombeiro, que a certa altura, entre outras coisas, falou mal da missa de sempre e elogiou os seminários atuais naquilo que eles têm de mais problemático. Como, bem ou mal, estávamos ali para defender o mesmo ponto, eu não quis discutir com ele. A minha única provocação foi quando — olhando-o de soslaio — afirmei que os sacerdotes contam com o auxílio divino para se manterem castos, ao que o homem fez um muxoxo como quem se persigna diante do capeta, mas eu tive tempo de completar a linha de raciocínio, apesar disso. A propósito, o tal auxílio a que eu tentava referir-me é a graça. Graça? Que bobagem, Sidney...

O curioso é que, num canal voltado ao público jovem, e num programa montado para tripudiar da imagem da Igreja, a pergunta "você é a favor ou contra o celibato?" teve como resultado uma vitória expressiva para quem estava a favor, o que parece ter desconcertado um pouco os que bolaram a coisa. Eu saí satisfeito, embora não tivesse tido falta de educação suficiente (já que todos falavam ao mesmo tempo) nem oportunidade de explicar ao Reynaldo Azevedo, que estava do outro lado, algo simples: o fato de uma medida de governança da Igreja não ser dogma, caso do celibato, não significa que não se trate de doutrina com base escriturística. Afinal, se as medidas pastorais multisseculares da Igreja não tivessem fonte doutrinária, o governo eclesiástico seria tirânico, pois a tirania não é outra coisa senão a imposição de práticas sem qualquer referência a teorias verdadeiras ou pelo menos plausíveis. O tirano manda sem dar razões, e quem tem juízo obedeça.

Lamentei sinceramente não estar desacompanhado, pois o resultado seria bem melhor se eu não me visse compelido ao silêncio por conta das coisas que dizia o padre — muito elogiado por todos, menos por quem sabe o que é a Igreja Católica. Realmente, naquele formato não havia jeito de fazer melhor.

A primeira parte do programa eu postei no Youtube. O restante estava no site da MTV, mas parece que retiraram. Uma pena.

Por fim, digo que este breve relato teve o intuito de esclarecer a vários amigos católicos que recentemente me escreveram os bastidores daquele pitoresco momento televisivo. Achei que poderia compartilhar com mais pessoas.

Apesar de tudo, o resultado foi bom.

Quem se interessar, pode ver essa primeira parte do programa aqui:


Abraço a todos!